Capítulo III
Eu não creio em bruxas, mas que elas existem, existem!
Como já comentei anteriormente, descendo de irlandeses por parte de mãe.
Nosso sobrenome O´Reilly é extremamente comum nesse País, sendo um dos mais
antigos clãs derivados dos Celtas, povo indo-europeu que povoou a maior parte
da Europa a partir do segundo milênio depois de Cristo.
Os Celtas são considerados os introdutores da metalurgia do ferro na
Europa, dando origem naquele continente à Idade do Ferro (culturas
de Hallstatt e La Tène), bem como das calças na
indumentária masculina.
Dentre os países que sofreram maior influência Celta e que mantem em sua
cultura traços desse povo até os dias de hoje, destacamos a Irlanda e a
Escócia.
O auge da migração de Irlandeses para o mundo foi alcançado com
a grande fome de 1845–1849 na Irlanda. Grande parte da população desse
país dependia do consumo de batata para sobreviver, o que resultou
numa tragédia quando várias plantações de batata foram contaminadas por
doenças. Tal fato acarretou na morte de cerca de um milhão de pessoas de fome e
outro milhão teve que emigrar da ilha para sobreviver, a maioria indo para os
Estados Unidos. As condições dessa imigração em massa foram traumáticas e os
navios que transportavam esses imigrantes eram conhecidos como "navios
tumbeiros", pois os índices de mortalidade durante a viagem alcançavam os
30%, semelhante aos navios negreiros que transportavam escravos
da África.
E foi exatamente nessa época que parte de minha família migrou da
Irlanda para o Brasil, estabelecendo-se inicialmente no interior do Espírito
Santo. Dentre meus ancestrais diretos temos dois procuradores de justiça,
desembargadores, delegados de polícia, deputados Estaduais, fundadores do
Vitória F.C e até a primeira Dentista mulher do Brasil.
Mas a vertente da família que migrou para os EUA manteve características
de sua cultura natal e mesmo a religião que se dividia entre o Paganismo, o
catolicismo e o protestantismo a essa altura.
Falando sobre Paganismo, muitos não conhecem a real definição do pagão.
Muitos pensam que o pagão seria aquele que não foi batizado na igreja católica.
Na verdade o Paganismo (do latim paganus, que significa
"camponês", "rústico", do campo) é um
termo geral, normalmente usado para se referir a tradições
religiosas politeístas.
Desde o século XX, os termos “pagão” ou “paganismo”
tornaram-se amplamente utilizados como uma autodesignação por adeptos do neopaganismo. Como
tal, vários estudiosos modernos têm começado a aplicar o termo de três grupos
distintos de crenças: politeísmo histórico (como a mitologia
celta e o paganismo nórdico), religiões indígenas, folclóricas e
étnicas (como a religião tradicional chinesa e as religiões
tradicionais africanas) e o neopaganismo (como a wicca,
o reconstrucionismo helénico e o neopaganismo germânico).
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Esses ancestrais que imigraram para os EUA e que mantiveram seus traços
culturais e religiosos também tiveram que se adequar ao modernismo. No passado
vivia-se no campo e as práticas religiosas tinham as características dessa vida
campesina. Mas agora a grande revolução se fazia presente. Cidades cresciam de
forma vertiginosa e de um dia para o outro, lá estava uma nova metrópole
desenvolvida. Assim também a religiosidade teve de se “modernizar”.
O que existiria de mais próximo aos cultos pagãos, herdados dos celtas e
incorporados pelos antigos irlandeses em suas práticas? Como modernizar essas
práticas, permitindo que aqueles Deuses que eram cultuados na natureza, como as
próprias forças dessa mesma natureza, pudessem ser cultuadas no meio da cidade
industrial? Foi então que, na década de 70, a Wicca chegaria aos EUA.
Mas o que é a Wicca?
Como prometi ao leitor dessa obra, nada há de
oculto que não venha a ser revelado, e nada em segredo que não seja trazido à
luz do dia, então, para um maior entendimento da minha vida no Ocultismo e
particularmente na Bruxaria, cabe aqui uma explicação mais profunda do que se
diz “bruxaria” nos dias atuais.
Tudo começa com o fundador da Bruxaria Moderna, Gerald Bruseau Gardner.
Sim, pois a bruxaria moderna foi “desenvolvida” ou como Gardner preferia dizer
“vivificada” por um homem.
Gerald
Brosseau Gardner, funcionário público inglês, responsável pelo ressurgimento e
modernização da Bruxaria no mundo ocidental. Nascido na cidade de Blundellands,
perto de Lancashire na Inglaterra, na data de 13 de junho de 1884. O jovem
Gardner sofreu muito em decorrência de asma durante sua vida, o que obrigou
seus pais a permitirem que viajasse durante a infância e adolescência com sua
enfermeira judia, Josephine (“Com”) McCombie pela Europa, sempre buscando o
clima mais propício ao pequeno Gerald. Devido às suas incapacidades físicas
decorrentes da asma, o jovem Gardner encontrou bastante tempo para a leitura e
pesquisa, uma vez que apenas retornava à Inglaterra no verão. Cremos ainda,
segundo relatos de pessoas que conviveram com Gardner, que sua enfermeira era
negligente quanto à sua educação, tendo assim Gardner tornando-se praticamente
autodidata. Josephine mudou-se para o Ceilão após se casar e levou o pequeno
Gerald com ela. Durante sua adolescência, Gardner trabalhou no Ceilão, Bornéu e
Malásia em diversas atividades simples. Devido ao seu contato com as classes de
trabalhadores, mais comumente ligadas à religiosidade popular, Gardner acabou
encontrando-se muito mais com as doutrinas de origem oriental do que
particularmente com o Cristianismo.
Entre
os anos de 1923 e 1936, Gerald Gardner foi contratado como funcionário público
pelo governo Britânico no Extremo Oriente. Exercia as funções de inspetor de
plantações de borracha, oficial de alfândega e inspetor de estabelecimentos de
ópio. Gardner, sem dúvida, ganhou bastante dinheiro nessa época, podendo então
mais tarde se dedicar à sua paixão: arqueologia. Em decorrência de seu amor
pela arqueologia, Gardner, após pesquisas e escavações, assume a descoberta da
localização da antiga cidade de Cingapura. No ano de 1927, Gardner casa-se com
a inglesa Dorothea Frances Rosedale, mais conhecida como Donna, seu nome
teatral em experiências como atriz. Donna nunca se interessou profundamente
pela bruxaria, graças à sua criação rígida por ser filha de um clérigo cristão.
Gardner
fixa residência na Inglaterra, na famosa casa de Malew Street em Castletown,
mas continua a passar maior parte do seu tempo em viagens arqueológicas através
da Europa e Ásia Menor. No Chipre, Gardner colhe informações que serviriam de
cenário para o seu A Goddess Arrives (1939). Tratava-se sobre um romance sobre
o culto à Deusa Afrodite no ano de 1450 D.C. Antes do início da Segunda Guerra
Mundial, Gerald Gardner conhece na região de New Forest o grupo denominado
Sociedade de Crotona.
A
Sociedade de Crotona era um grupo oculto de membros ocultistas com
participações importantes como Mrs. Besant Scott, filha da teosofista Annie
Besant, da Sociedade Teosófica. Gardner ajudou a fundar junto com outros
membros da Sociedade o “Primeiro Teatro Rosacrusiano da Inglaterra”, que
apresentava peças cujos temas se baseavam no ocultismo.
É certo
que nessa época, a única maneira segura de falar-se sobre temas ligados ao
ocultismo eram as artes como o teatro e o romance. Isso porque até o ano de
1951 permanecia ativa a lei anti-bruxaria na Inglaterra, a qual poderia levar à
forca os infratores. Falava-se sobre esses temas com o amparo legal, salvo
contrário, o governo Britânico teria de expurgar grandes nomes da literatura
como Kipling, Edgar Allan Poe e mesmo Shakespeare, que em suas obram exploravam
temas do oculto.
Ligado
à Sociedade de Crotona, de New Forest, existia outro grupo secreto que aceitou
Gerald Gardner como membro de confiança. Os seus membros alegavam serem Bruxos
e Bruxas hereditários, pois suas famílias mantiveram a prática da Velha
Religião sem interrupções, resistindo à Inquisição. Pouco antes do início da
Segunda Guerra Mundial no ano de 1939, Gardner foi tradicionalmente iniciado na
Arte da Bruxaria pela Suma Sacerdotisa Old Dorothy Clutterbuck (Dorothy St.
Quintin).
No ano
de 1946, por intermédio de Arold Crowther, membro do grupo de Gardner, Gerald
conhece Aleister Crowley, sobre quem falaremos mais profundamente no capítulo
sobre minhas iniciações em Thelema.
Aleister
era um homem prodigiosamente inteligente e mesmo “diabólico”. Tinha poderes
excepcionais; podia apagar uma vela apenas com o pensamento a mais de 10
metros. Exercia verdadeira fascinação nas mulheres, que se tornavam verdadeiras
escravas de seu poder. Dizem mesmo que Crowley teria influenciado algumas
idéias de Hitler, mesmo sem JAMAIS ter mantido contato com o mesmo. Crowley
tornou Gardner membro honorário da Ordo Templi Orientis (O.T.O.), uma ordem
mágicka que Crowley teve a liderança. Crowley tornou Gardner membro honorário
da Ordo Templi Orientis (O.T.O.), uma ordem mágicka que Crowley
teve a liderança.
Falar
sobre Aleister Crowley é muito importante para que o leitor dessa obra possa
compreender meu envolvimento pessoal com essa figura do ocultismo. Esse
envolvimento se deu através de sua filosofia e pertencendo a sua linhagem
magica direta. Mas falarei mais profundamente sobre ele e sobre meu
envolvimento num capítulo futuro desse livro.
Gardner
publicou em 1949 uma novela sobre feitiçaria com o pseudônimo de Scire (a
lei contra a bruxaria perdurava até 1951 e a perseguição poderia ser tremenda); High
Magic’s Aid. Esse trabalho incluía antigos rituais de bruxaria, nudez
ritual e uma cerimônia de flagelação, os quais ele aprendeu com Old Dorothy.
No ano
de 1951, Gardner deixou o grupo de Old Dorothy, fundando um novo.
Nesse
mesmo ano, Gardner decide-se por mudar-se para a famosa Isle of Men, onde
existia o Museu de Magia e Feitiçaria, fundado por Cecil Williamson. Gardner
tornou-se o “Feiticeiro residente” do Museu, e juntou a esse sua coleção de
objetos rituais e artefatos, tornando-se depois, dono do museu.
Em
1953, Gardner iniciou Doreen Valiente no seu grupo de prática. Juntamente com
Valiente, Gardner começou a modernizar seus rituais incluindo trabalhos seus e
decorrentes de seu profundo conhecimento graças às passagens por ordens
iniciáticas, dentre elas a OTO e a Maçonaria. Gardner e Valiente escreveram
entre 1954 e 1957 todo o material ritualístico, textos sagrados e filosofias da
Wicca, tendo culminado esse trabalho no famoso BOS, Book of
Shadows (Livro das Sombras), que viria a ser o único livro
de instruções da religião, um verdadeiro manual prático da Wicca.
Gardner
publica seu primeiro ensaio sobre Feitiçaria, chamado A Bruxaria Hoje,
no ano de 1954, agora já sem a obscuridade ocasionada pela lei, devidamente
revogada em 1951. Esse livro atesta as teorias da antropóloga inglesa Margaret
A. Murray, de que a Feitiçaria moderna não seria mais do que fragmentos que
sobreviveram da organização religiosa, outrora chamada Bruxaria pela inquisição
cristã.
Em
1959, Gardner publica o seu último livro, The Meaning of Witchcraft. Em
1960, no Palácio de Buckingham, Gardner é reconhecido pelos serviços prestados
à nação no Extremo Oriente. Queremos crer que graças ao grande sucesso de seus
livros, os dirigentes do palácio acharam por bem condecorar Gerald, como ato de
amizade. Esse fato se dá graças às crenças pagãs de Gardner que poderiam ganhar
força indo de encontro com o tradicionalismo cristão da monarquia inglesa.
Ainda no ano de 1960 morre Donna, sua esposa, causando em Gardner uma piora de
saúde.
No
inverno de 63, pouco antes de viajar para o Líbano, Gardner conhece Raymond
Buckland, um inglês, que vivia na América. Buckland foi iniciado
pela Suma Sacerdotisa de Gardner, Monique Wilson, (Lady Olwen) e
Jack Bracelin no coven de St. Albans. Buckland
muda-se para os EUA, sendo o grande responsável pela divulgação da Wicca na
América.
Gerald
Brosseau Gardner morreu a bordo do SS Scottish Prince quando regressava ao
Líbano, na manhã de 12 de fevereiro de 1964. Foi enterrado em Tunes, no dia
seguinte.
Assim,
através de Gerlad Gardner a bruxaria deixou de ser algo reservado a apenas famílias
ou clãs do passado. Com as participações de Gardner em jornais, revistas e
televisão, a bruxaria saia das sombras e tornava-se mais uma arma do Mal,
disfarçada sob uma roupagem da Nova Era, temperada com especiarias de liberdade
e do famoso “pode-se tudo”, sem um inferno para amedrontar seus praticantes e,
principalmente sem um livro sagrado que deveria ser seguido incondicionalmente.
Tudo o
que o Mal precisava para atrair jovens para seus domínios... e tudo disfarçado
de algo BOM.
E eu
acreditei nesse “BEM” por 28 anos.
(Dia
01/02 tem mais)
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