segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Capítulo V - Abandonado nas trevas e VI - Entre o forte e o fraco, a luz e as trevas

Pessoal,

Como o capítulo V é um dos menores do livro, eu resolvi publicar o V e o IV juntos...aproveitem!


CAPÍTULO V - Abandonado nas Trevas

Seis meses haviam se passado desde a chegada de Mariah. Numa manhã de Domingo, estávamos na praia em frente ao Copacabana Palace quando ela me deu a notícia:

-Viajo amanhã de volta aos EUA – ela disse deitada sem sequem abrir os olhos.

-Mas como? E eu? Como fico aqui só? Tenho muito a aprender... – eu estava desesperado verdadeiramente.

Mariah alternava-se entre momentos de suprema simpatia e carinho com os de uma frieza digna das bruxas das histórias da carochinha. Por mais que tentasse prever suas reações, me parecia absolutamente impossível.

Sem sequer levantar sua cabeça, deitada bronzeando-se como estava ela respondeu:

-Você sabia que um dia isso aconteceria. Mas vamos manter contato.

Quero lembrar ao leitor de que falamos sobre o ano de 1978. Não tínhamos ainda a internet, os primeiros telefones celulares só surgiriam no Brasil em 1990. As comunicações internacionais se davam ou por Telex, normalmente usado por empresas ou por carta. Ligações telefônicas eram proibitivas, daí meu desespero na época. Eu começava a engatinhar numa religião nova, cheia de princípios que até me eram conhecidos (graças ao ocultismo), mas que sabia existirem outros praticantes, mas não conhecia nenhum a menos de 6.500 quilômetros de distância.

Mas até que as coisas foram mais tranquilas do que eu poderia imaginar. Cumpria o que me havia sido passado. Mantinha a discrição completa, o que me era muito fácil, já que aos 18 anos morava sozinho e podia desenvolver minhas práticas religiosas sem que ninguém sequer imaginasse. Eu e Mariah mantínhamos uma correspondência regular. Recebia e enviava uma média de cinco correspondências por mês. Enquanto isso ela me enviava livros e edições da famosa revista pagã Green Egg, e ensinamentos via suas cartas.

Por exatos sete meses, aprendi os fundamentos da religião, o significado de seus principais rituais, das festas lunares, da filosofia “sagrada” que não tinha livros inspirados por uma entidade suprema, mas apenas a interpretação dos mais antigos na prática.

Minha passagem pelo primeiro grau foi absolutamente tranquila, como deve ser. Intensifiquei meus estudos no Tarot e nos cristais, afinal, segundo minha iniciadora, um bom bruxo deveria conhecer de práticas divinatórias e de magia telúrica, ou seja, da magia que lida com as energias da Terra. Também estudei Paracelso e seu entendimento das ervas. Comecei a buscar mais profundamente os principais nomes do ocultismo, alguns antigos conhecidos, outros que nunca tinha lido sequer uma linha. Mergulhei nos ensinamentos de Eliphas Lévi, Papus, Helena Blavatsky, Franz Bardon,  Mark Lyle Prophet e tantos outros.


Apaixonei-me pelos estudos do uso e da manipulação da bioenergia. Comecei a formar grupos e enquanto muitos passavam suas sextas e sábados em discotecas e baladas, eu passava com grupos fazendo experiências de bioenergética, projeção astral e manipulação de energia.

Não pense o leitor que não me divertia ou que não fosse namorador. Na verdade eu perdi a conta de quantas mulheres passaram pela minha vida nessa época. A ideia da magia ou dos efeitos espetaculares que eu conseguia produzir era um verdadeiro imã para o romance. Dentro desses grupos de estudo, invariavelmente sempre havia alguém disposto a romance. E sim, eu fazia coisas sobrenaturais. Nessa época eu era capaz de fazer com que uma pessoa desmaiasse diante de mim, apenas projetando energia em sua testa. Conseguia construir em meu rosto qualquer imagem de entidade, animal, pessoa que eu quisesse, e durante essas sessões eu conseguia impressionar as pessoas que se prestavam a aprender.

Mantinha os encontros de estudos, mas sempre mantendo o segredo maior, a religião a que pertencia e as práticas que desenvolvia solitariamente em minha casa.

Foi quando, no início de dezembro do ano de 1978, Mariah voltou, e com ela, uma nova fase de minha vida.



  
Capítulo VI
Entre o forte e o fraco, a luz e as trevas



O universo é matemática pura. Deus se utiliza dessa matemática para criar e comandar o Tudo e o Todo. Um ótimo exemplo disso, e até uma prova é a sequência de Fibonacci.
Na Matemática a Sequência de Fibonacci é uma sequência de números inteiros, começando normalmente por 0 e 1, na qual, cada termo subsequente (número de Fibonacci) corresponde à soma dos dois anteriores. A sequência recebeu o nome do matemático italiano Leonardo de Pisa, mais conhecido por Fibonacci (contração do italiano filius Bonacci), que descreveu, no ano de 1202, o crescimento de uma população de coelhos, a partir desta. Tal sequência já era, no entanto, conhecida na antiguidade.
Os números de Fibonacci são, portanto, os números que compõem a seguinte sequência:
1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, 144, 233, 377, 610, 987, 1597, 2584, ... 

 Entender a sequência de Fibonacci é simples. Basta somar-se o numero anterior com o seguinte. Exemplo: 1+1=2, 2+1=3, 3+2=5 e assim por diante.

Em todo o Universo está presente “a marca” ou a presença de Deus responsável pelo fenômeno simétrico da natureza. Ela é constatada através da Proporção Áurea proveniente da Sequência de Fibonacci, que se mostra presente como “o sinal divino” em toda a natureza. Portanto, nas flores, árvores, ondas, conchas, furacões, no do rosto simétrico do ser humano, em suas articulações, seus batimentos cardíacos e em seu DNA. Também na refração da luz proporcionada pelos elétrons dos átomos, nas vibrações e em outras mais manifestações da Criação como nas galáxias do Universo imensurável. A relação da sequência de Fibonacci e o Numero de Ouro em sequência numérica e geométrica parece de modo significativo ser “a marca” de um “Designer” – a “impressão digital” de sua Criação, a Grande Obra de Deus.

Como já mencionei, Deus se utiliza da matemática.

Você pode estar se perguntando:

-Mas qual a relação dessa explicação som a vida do autor?


Eu respondo: TUDO

Essa explicação é necessária para que você leitor, possa compreender como a minha vida se modificou com a segunda vinda de Mariah ao Brasil, e com ela minha iniciação no 2º grau da Bruxaria.

O número 2 representa a dualidade, é o número da polaridade, da complementação, do equilíbrio e do desequilíbrio e da harmonia ou desarmonia. Representa a energia feminina, passiva em si mesma e com polaridade negativa. É o complemento do 1, da mesma maneira que masculino e feminino se complementam. Representa a mãe que gera, que acolhe, que nutre. É o número dos sensitivos, da intuição, da ponderação. Representa o equilíbrio ou o desequilíbrio (dependendo de como vivenciamos) entre forças opostas. É moldável, adaptável, o desequilíbrio entre forças opostas.

Mariah viria ao Brasil apenas para me orientar e me “elevar” ao segundo grau na Bruxaria. Depois de meses de correspondência, relatos das minhas experiências e sobre os grupos de estudo, ela achou que seria a hora de me alertar, e de certa forma, frear meu desenvolvimento.

Sim, frear, pois a essa altura, eu me achava quase um Deus. Era capaz de conhecer o passado e o futuro de alguém usando das práticas divinatória, de curar, de usar a força da manipulação das energias para meu prazer e para minha vantagem.

Hoje eu compreendo que NENHUM desses “poderes” que acreditava ter eram meus realmente. Atualmente, graças a maturidade e ao conhecimento da Verdade (conhecerás a verdade e ela te Libertará) sei que já era usado pelo Mal, e não ha forma mais sorrateira desse Mal do que atear o sentimento do orgulho numa alma.

Hoje percebo que Mariah se preocupava com meu desenvolvimento e temia pelo meu futuro. Por vezes, temos que deixar que uma pessoa querida caia, para aprender como a queda pode doer, e para que aprendamos a não mais cair. A iniciação de segundo grau, em absolutamente todas as doutrinas ocultistas pode ser recebida como uma bênção ou uma maldição...e no me caso, sem dúvida alguma foi uma maldição.

Em termos psicológicos, a segunda iniciação de grau na Bruxaria deveria conduzir a uma reunião entre os dois lados da personalidade, o ego luminoso e a consciência sombria. Em uma análise profunda, esses dois lados são “bons” e “ruins”. A psique humana é composta de escuridão e impulsos de luz para o egoísmo e “mal”, assim como de impulsos de altruísmo e “bem”. Em outra análise, esse encontro de segundo grau é uma reunião entre fêmea e macho.

Mais uma vez eu deveria me perder na escuridão e o objetivo seria o de me iluminar ao sair dela, chegando à harmonia completa.

Para compreender a vida nesse grau, eu teria de achar um equilíbrio entre Poder e compaixão, entre Força e Beleza, Honra e Humildade, Credo e Reverência. O grande problema é que tudo que tinha aprendido até ali não me remetia a qualquer Humildade ou reverência.

Minha missão era a de enfrentar minha própria escuridão, reconhecendo e aceitando minha parcela de sombras de forma NATURAL.

No primeiro grau, somos ensinados a enfrentar e reconhecer esse mal interno. Quando tememos ou odiamos algo ou alguém, nós estamos tendo sentimentos por algo que já habita dentro de nós mesmos. Nós nunca somos incitados por algo que já não exista dentro de nós! Até ali, eu tinha aprendido que a luz não poderia ser destruída pela escuridão. Nem que a luz suplante as sombras, na maior parte das vezes, ela a constrói. Afinal, não é necessário luz para que haja sombras?

O símbolo do Sacerdote de 2º grau é o Pentáculo invertido, o mesmo símbolo que representa o diabo cristão, mas isso é disfarçado dos praticantes desse grau sob a desculpa de ser o símbolo do Deus Cornífero, o Senhor Escuro da Morte.



Em termos de crescimento espiritual, nesse grau, o Pentáculo seria símbolo das quatro funções da personalidade, junto com o quinto, ou função transcendental: o EGO.

E EGO era tudo que eu tinha nesse momento de minha vida!

Nessa época, contrariando toda minha família, tinha assumido um trabalho perigoso, que envolvia segurança, mas também um poder terreno. Tinha a autorização para andar armado, autoridade, me sustentava e morava num apartamento de três quartos, numa rua nobre de Copacabana, tinha um PUMA GTB na garagem (estamos no ano de 1987) quando não existiam carros importados no Brasil.
Minha vida se dividia entre um trabalho perigoso (mas que não me amedrontava, pois achava que a Magia me protegeria de tudo), noitadas e mulheres, muitas mulheres. Sem ter qualquer orgulho disso atualmente, posso dizer que não saberia contar quantas mulheres diferentes passaram pela minha vida nessa época.

E foi nesse momento de minha vida que Mariah escolheu para me jogar pela primeira vez diretamente nas chamas do inferno, mesmo que eu não conseguisse perceber isso na época.

Minha iniciadora, mais uma vez me levou a mesma casa da primeira experiência, menos de um ano antes. Mais uma vez eu estava vendado.

Dessa vez não fui despido. Ao retirar minha venda, Mariah encontrava-se a minha frente, paramentada como uma dama medieval, uma espécie de rainha, com um cetro, uma grinalda e uma coroa na cabeça.

Mais tarde eu saberia que a iniciação de segundo grau se baseia no mito da descida da Deusa ao mundo dos mortos. Nesse mito a Deusa que seria a senhora da vida, para tornar-se completa teria de conhecer a morte, reino dominado pelo Deus dos Bruxos. Para tanto, ela deveria se livrar de vários paramentos, roupas e joias, pois na morte nada disso seria levado.

Durante a iniciação fui aprendendo e entendendo esse mito. A coroa foi retirada, simbolizando o comando o poder terreno, o anel, que simbolizava as associações que temos na terra, nossa posição social. A cada peça que era retirada, algum aspecto terreno era abandonado, culminando com a veste, que seria nossa cobertura mortal, o próprio corpo, a carne... e as sandálias, que representariam os caminhos trilhados em vida.

Depois de despida, Mariah me fez assumir o papel do Deus da Bruxaria nesse teatro, onde por amor a Deus, a forçaria a permanecer com ele no submundo. Daí a divisão do ano entre a sua metade luminosa (quando a Deusa está na Terra) e a metade escura (quando a Deusa fica com o Deus no submundo). Devemos lembrar ao autor que a Bruxaria tem sua criação no hemisfério Norte, onde as estações do ano são muito mais marcantes que no Brasil.

Tanto quanto na primeira iniciação, senti as energias se movimentando a minha volta, mas dessa vez senti algo muito diferente. Mesmo estando sem a venda a cobrir meus olhos, sentia como se existissem outras presenças a nossa volta, em meio à escuridão. A única luz que tínhamos era a das velas, já que se tratava de uma noite de lua nova. Hoje compreendo que eram presenças espirituais que acompanhavam a cerimônia. Tenho certeza que nessa noite houve uma festa no inferno.

Mais uma vez fui submetido a uma prova iniciática e novamente fui bem sucedido. Exatamente como da vez anterior, finalizada a cerimônia e as instruções iniciais, tive de copiar o livro, que a essa altura já sabia ser o famoso BOS (Book of Shadows) ou Livro das Sombras, o manual do Bruxo na sua tradição, manual esse que acaba sendo uma das únicas provas de que realmente pertence aquela tradição e de ter passado pelas suas iniciações.

Se em minha primeira iniciação me senti abandonado com a viagem de volta de Mariah após seis meses, dessa vez não me importei muito quando ela voltou aos EUA apenas 2 dias depois dessa nova experiência.

Acreditava que as coisas continuariam da mesma forma. Que meus “poderes” só cresceriam e que continuaria meus estudos no ocultismo por minha conta e na bruxaria através das correspondências com Mariah.

Mas não foi bem assim...


Iniciação de 2º grau

Altar tradicional de Bruxaria

Mito da descida da Deusa (2º grau)

PUMA GTB







sábado, 6 de fevereiro de 2016

O Carnaval do Mal - A verdade sobre o carnaval


Havia ainda em Roma as Saturnálias e as Lupercálias. As primeiras ocorriam no solstício de inverno, em dezembro, e as segundas, em fevereiro, que seria o mês das divindades infernais, mas também das purificações. Tais festas duravam dias com comidas, bebidas e danças. Os papeis sociais também eram invertidos temporariamente, com os escravos colocando-se nos locais de seus senhores, e estes colocando-se no papel de escravos.


Durante o Renascimento, nas cidades italianas, surgia a commedia dell'arte, teatros improvisados cuja popularidade ocorreu até o século XVIII. Em Florença, canções foram criadas para acompanhar os desfiles, que contavam ainda com carros decorados, os trionfi. Em Roma e Veneza, os participantes usavam a bauta, uma capa com capuz negro que encobria ombros e cabeça, além de chapéus de três pontas e uma máscara branca.


VOCÊ CONHECE A VERDADE SOBRE O CARNAVAL?

História do Carnaval remonta à Antiguidade, tanto na Mesopotâmia quanto na Grécia e em Roma.
palavra carnaval é originária do latim, carnis levale, cujo significado é retirar a carne. O significado está relacionado com o jejum que deveria ser realizado durante a quaresma e também com o controle dos prazeres mundanos. Isso demonstra uma tentativa da Igreja Católica de enquadrar uma festa pagã.

Na antiga Babilônia, duas festas possivelmente originaram o que conhecemos como carnaval. As Saceias eram uma festa em que um prisioneiro assumia durante alguns dias a figura do rei, vestindo-se como ele, alimentando-se da mesma forma e dormindo com suas esposas. Ao final, o prisioneiro era chicoteado e depois enforcado ou empalado.
O outro rito era realizado pelo rei nos dias que antecediam o equinócio da primavera, período de comemoração do ano novo na região. O ritual ocorria no templo de Marduk, um dos primeiros deuses mesopotâmicos, onde o rei perdia seus emblemas de poder e era surrado na frente da estátua de Marduk. Essa humilhação servia para demonstrar a submissão do rei à divindade. Em seguida, ele novamente assumia o trono.
O que havia de comum nas duas festas e que está ligado ao carnaval era o caráter de subversão de papéis sociais: a transformação temporária do prisioneiro em rei e a humilhação do rei frente ao deus. Possivelmente a subversão de papeis sociais no carnaval, como os homens vestirem-se de mulheres e vice-versa, pode encontrar suas origens nessa tradição mesopotâmica.
As associações entre o carnaval e as orgias podem ainda se relacionar às festas de origem greco-romana, como os bacanais (festas dionisíacas, para os gregos). Seriam festas dedicadas ao deus do vinho, Baco (ou Dionísio, para os gregos), marcadas pela embriaguez e pela entrega aos prazeres da carne.
Mas tais festas eram pagãs. Com o fortalecimento de seu poder, a Igreja não via com bons olhos as festas. Nessa concepção do cristianismo, havia a crítica da inversão das posições sociais, pois, para a Igreja, ao inverter os papéis de cada um na sociedade, invertia-se também a relação entre Deus e o demônio.
A Igreja Católica buscou então enquadrar tais comemorações. A partir do século VIII, com a criação da quaresma, tais festas passaram a ser realizadas nos dias anteriores ao período religioso. A Igreja pretendia, dessa forma, manter uma data para as pessoas cometerem seus excessos, antes do período da severidade religiosa.
Durante os carnavais medievais por volta do século XI, no período fértil para a agricultura, homens jovens que se fantasiavam de mulheres saíam nas ruas e campos durante algumas noites. Diziam-se habitantes da fronteira do mundo dos vivos e dos mortos e invadiam os domicílios, com a aceitação dos que lá habitavam, fartando-se com comidas e bebidas, e também com os beijos das jovens das casas.
A história do carnaval no Brasil iniciou-se no período colonial. Uma das primeiras manifestações carnavalescas foi o entrudo, uma festa de origem portuguesa que na colônia era praticada pelos escravos. Depois surgiram os cordões e ranchos, as festas de salão, os corsos e as escolas de samba. Afoxés, frevos e maracatus também passaram a fazer parte da tradição carnavalesca brasileira. Marchinhas, sambas e outros gêneros musicais também foram incorporados à manifestação Carnavalesca.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

ATUALIZAÇÃO DO LIVRO


PARA VOCÊ QUE QUER ACOMPANHAR O LIVRO INTEIRO...SEGUEM OS LINKS DOS CAPÍTULOS:






DIA 15 de FEVEREIRO TEM MAIS!

Capítulo IV Entrando nas trevas


Capítulo IV


Entrando nas trevas

Não vou negar que o medo e a ansiedade tomavam conta de mim. Eu estava num lugar desconhecido, no meio de lugar nenhum. Completamente nu, vendado, com minhas mãos amarradas às costas, uma das pernas atadas e as cordas que me atavam as mãos passando também pelo meu pescoço.
Uma música sem letra, de origem celta e já conhecida por mim, tocava ao fundo. Como estava vendado, tinha que confiar nos meus outros instintos para reconhecer o meio. O cheiro de velas e incenso de lótus era facilmente percebido. Pela venda, só conseguia divisar lampejos do tremular das velas e nada mais. Meus pés tateavam um solo arenoso, terroso e o frio tocava meu corpo com o sopro de um vento fraco.
Antigo Gravador usado aos 10 anos

Eu sabia que não estava só, mas no meu íntimo era como se estivesse. Apesar de conhecer Mariah (chamaremos assim minha iniciadora), de sermos parentes sanguíneos mesmo assim, me senti só. Afinal ali não éramos parentes, mas mestra e discípulo, professor e aluno.

Não fosse o fato de estar nu, amarrado, vendado e sem saber sequer onde estava que me incomodava, mas as dúvidas que surgiram exatamente no dia marcado para minha iniciação.
Naquele mesmo sábado, ainda pela manha, recebi o aviso através de um telefonema.

Mariah, em seu português carregado de sotaque me avisou logo pela manhã pelo telefone:

-Esteja pronto hoje à noite. Vou passar e te buscar. Hoje você vai nascer! – ela me disse

-Está bem, mas o que tenho que fazer? – perguntei meio contrariado.

A resposta foi o som do telefone sendo desligado, sem sequer um “até logo”.

Eu não compreendia as razões para a angustia que se instalava em meu peito. Afinal, mesmo sem conhecer muito bem do que se tratava a iniciação, e mesmo as responsabilidades que viriam com isso, era o que eu vinha desejando há quase seis meses, desde a chegada de Mariah ao Rio de Janeiro.
Mariah era uma jovem de 24 anos de idade na época. Tinha vindo ao Brasil de férias, para conhecer a parte da família distante.  Ela tinha o típico biótipo dos imigrantes antigos que se misturaram aos americanos. Pele muito branca, as formas delicadas, mas o corpo mais cheio do que estamos acostumados. Não era o que chamaríamos de gorda, mas de "cheinha". Cabelos nos ombros, com um tom de loiro que pendia quase ao ruivo. Sardas nas bochechas e olhos de um azul profundo, quase violeta. Ela era um tipo diferente. Nem bela, nem feia, mas exótica. Sempre trajando vestidos compridos, abaixo dos joelhos, com rendas e sempre de cores vivas. Joias de prata e uma lua crescente que pendia de seu pescoço, pendurada numa fina corrente, também de prata.

Nossas conversas eram muito agradáveis, ao menos as partes em que conseguia compreender. Apesar dos tantos anos de estudo do inglês, compreender as gírias locais como “what´s the craic?” (algo como “Tudo Bem”) ou o português cheio de erros e sotaque carregado, não fazia qualquer diferença.
Conversávamos a maior parte do tempo sobre as histórias de família, sobre a vida dela nos EUA e sobre o ocultismo. Imediatamente reconheci nela conhecimento e a contra parte também foi verdadeira. Em uma de nossas conversas ela me questionou sobre minha escolha religiosa, quando eu afirmei não possuir nenhuma.

Gerald Gardner simulando a evocação de um demônio
Graças aos meus estudos no ocultismo, o cristianismo era carta fora do meu baralho. Eu me identificava com idéias ligadas ao espiritismo de Allan Kardec. Reencarnação era um conceito facilmente aceito por mim. Mas também existiam pontos como “voltar para sofrer” que não aceitava. Então, não podia afirmar que tivesse uma religião nessa época, tinha muito mais conceitos religiosos, que mesclados criavam o meu contato com o Divino.

Nessa época, o segundo casamento de minha mãe não ia muito bem. Já tinha um irmão, fruto desse casamento que era onze anos mais jovem que eu, e de certa forma, tomei para mim a responsabilidade do trato com ele. Seu pai era médico e como tal, passava pouco tempo em casa. E para uma criança de seis anos, acabei me tornando a referência do masculino. Essa era uma das minhas preocupações também... a formação religiosa de meu irmão. Alguns meses depois, minha mãe viria a se separar e se mudar, ficando eu, aos dezoito anos de idade a morar sozinho, por decisão própria.

Maraiah me falava sobre a Wicca. Explicava-me como essa religião se ligava profundamente aos nossos ancestrais. Aos poucos comecei a ver como ela se encaixava perfeitamente com as minhas crenças nessa época. Fora esse fato, dessa nova religião apresentar tantos argumentos convincentes, ainda existia aquela coisa da rebeldia adolescente. Ser um Bruxo era algo extremamente diferente, especial. E eu não conhecia mais ninguém que tivesse essa oportunidade. Eu tinha que me tornar também um sacerdote.

Naquele sábado, meu desejo seria realizado, mas a angústia permanecia. Na época achei que se devia ao desconhecido, hoje percebo que era meu íntimo me alertando, minha essência divina gritando contra a violência que cometeria contra minha alma.

Conforme combinado, ao cair da noite, lá estava eu de pé, na portaria de meu prédio no alto de uma ladeira em Copacabana. Maraiah chegou de carro, até hoje não sei de quem era, ou como ela conseguiu aquele carro. Aliás, estava tão ansioso e angustiado que sequer me preocupei em perguntar. Assim que entrei no carro, ganhei de Maraiah uma venda para os olhos, e me foi avisado que não deveria retirar essa venda até que me fosse permitido.

Rodamos de carro por uns 30 minutos. Mesmo tentando descobrir onde estaríamos indo, não consegui fazer mentalmente o caminho depois da terceira esquina. Imaginei que estaríamos indo para a casa de um amigo de Mariah, um rapaz também americano, mas que vivia aqui no Brasil já há cinco anos, e que a conhecia antes de se mudar para o Brasil. Até hoje não sei se estava certo, pois durante todo tempo não a ouvi falar com ninguém mais, como também não ouvi qualquer outro som que denunciasse que em algum momento existiria alguém mais junto a nós.
O carro parou e a única coisa que sabia é que tínhamos subido, como se fosse uma pequena serra, ou uma subida grande, e que não ouvíamos o som de outros carros. Foi daí que veio a impressão de que estaríamos na casa do rapaz Americano, pois sabia que morava numa casa no Alto da Boa Vista.
Fui guiado pela minha iniciadora por um caminho em que em nenhum momento adentramos alguma estrutura, sempre andando ao ar livre. Paramos repentinamente e recebi a ordem para que me despisse completamente.

Inicialmente fui preenchido por um misto de vergonha, excitação e angustia, mas afinal, estar lá era uma decisão minha. Minha iniciadora era uma parente, uma pessoa com quem estava convivendo há quatro meses diariamente, sabia não ser nenhuma louca ou algo parecido, então relaxei um pouco. Quero dizer, relaxei mentalmente, porque fisicamente meus músculos pareciam rochas. Completamente retesados graças aquela excitação e mesmo a vergonha de estar me despindo.
Claro que inicialmente mantive minha roupa de baixo, quando escutei quase que imediatamente o comando:

-É para tirar TUDO! – Mariah gritou distante

Não tinha argumentos. Tinha mesmo que tirar.

O leitor pode se colocar nesse momento em meu lugar. Vendado, sem saber onde estava... se existiam outras pessoas presentes. Completamente nu, sentindo o chão de terra sob meus pés, escutando sons estranhos e aromas conhecidos e desconhecidos.

Senti Mariah se aproximar e imediatamente amarrar minhas mãos nas costas. Era uma amarração firme mas gentil, não para machucar, apesar de evitar que fosse possível soltar minhas mãos. Em seguida senti uma corda passando por meu joelho esquerdo e as pontas da corda que atavam minhas mãos, passando defronte a meu pescoço e sendo mais uma vez amarradas com as pontas descendo pelo meu peito nu.

Vagarosamente Mariah me puxava pelas pontas que pendiam de meu peito, como se fosse um cabo guia. O som da música ficava mais alto, e os aromas se misturavam e ficavam mais fortes. Nesse momento Mariah começou a proferir palavras estranhas na época, mas que depois se tornaram minhas companheiras por milhares de rituais:

- Eko, eko, Azarak
Eko, eko, Zomelak
Bazabi lacha bachabe
Lamac cahi achababe
Karrellyos
Lamac lamac Bachalyas
Cabahagy sabalyos
Baryolos
Lagoz atha cabyolas
Samahac atha famolas
Eko, eko, Cernunos
Eko, eko, Aradia

Hurrahya!

Todo um ritual tomou seu lugar. Palavras ditas em inglês. Perguntas a que ia respondendo como me indicado. Fui levado de um lado a outro, apresentado a quatro quadrantes que depois viria, a saber, serem os quatro elementos: Terra, Ar, Água e Fogo.

Tudo era amedrontador, mas excitante. Eu me sentia diferente, aquela angustia foi mascarada pela curiosidade, essa mesma curiosidade que após tantos anos no oculto, sei ser o chamariz e a armadilha que “capturam” tantos jovens.

Após ser chibateado simbolicamente (para purificação), senti Mariah novamente se aproximar lentamente e nesse momento a ponta de uma adaga tocou meu peito  exatamente na altura do coração. Fui informado que chegara a hora da “prova iniciática”, prova essa que faria toda a diferença entre meu ser antigo e o novo ser. Ali morreria o Fabiano e nasceria o bruxo, mesmo que não soubesse muito bem o que acontecia, eu tinha o conhecimento de que nada seria igual depois daquele dia.

Quero esclarecer ao leitor que não divulgarei a prova iniciática, ou do que se trata. Não por ser um segredo da bruxaria, mas simplesmente para não incentivar a leitores dessa obra a tentarem recriá-la. Todo o restante da cerimônia está sendo descrito exatamente como aconteceu.

Passei pela prova. Essa prova envolvia um psicodrama, onde juramentos foram proferidos, pactos aceitos e selados com um cálice, que foi instrumento de minha morte e meu renascimento. Ali eu coloquei dentro do meu “novo” ser a essência daqueles Deuses que num futuro perceberia não serem verdadeiramente Deuses.

Fui levantado, novamente apresentado aos quatro elementos, dessa vez com um novo nome e já como um bruxo. Minha venda foi então retirada, sob a alegação de que eu veria a “verdadeira luz” a partir dali. Percebi que estava num quintal de uma casa completamente murada.

Nesse momento me dei conta de que Mariah também estava completamente nua, o que me constrangeu mais do que o fato de eu estar despido. Já sem a corda que me atava e que posteriormente me foi presenteada, simbolizando minhas medidas, e a confiança de minha iniciadora depositava em mim, fui convidado a chegar até uma mesa que servia como altar. Nela se encontravam velas, um cálice, um caldeirão, um pentagrama (estrela de cinco pontas dentro de um círculo) e uma adaga, que posteriormente vim a conhecer pelo nome de Athame. Cada um dos instrumentos me foi apresentado e explicado.

Mariah me colocou no centro de um círculo, onde depois vim a descobrir ser a cerimonia completamente realizada em seu interior. Acompanhei-a num processo contrário ao que tinha escutado enquanto vendado e amarrado. Percebi que estavam sendo despedidas todas as energias que anteriormente tinham sido evocadas e que, aquele espaço mágico, os Deuses clamados também estavam sendo despedidos.

Recebi a ordem de novamente me vestir e assim o fiz me sentindo aliviado. Não que a nudez me tenha sido traumática algum dia, mas todo o misto daquelas emoções faziam com que a nudez fosse mais um mistério em toda aquela cerimônia. Também fui indicado a colocar novamente a venda. Só bem mais tarde, depois de minha terceira e derradeira iniciação na bruxaria soube que finalmente era confiável o bastante para saber o local em que as cerimônias eram realizadas e mesmo quem era seu proprietário.

Fomos embora e, até chegar novamente à portaria de meu prédio e retirar a venda, não falei sequer uma palavra. Minha mente girava entre as lembranças e sensações daquela noite estranha, mas excitante. Só no dia seguinte tive contato com Mariah, que me trouxe uma espécie de caderno idêntico a um que lhe pertencia, e que me foi entregue para copiar até certo ponto. Recebi as instruções de que deveria copiar exatamente as mesmas palavras, nas mesmas linhas e até mesmo no mesmo espaço, independente de minha caligrafia ser diferente da dela. Copiando e lendo o que escrevia, muito sobre a minha nova religião, minha nova responsabilidade e posição, assim como sobre minha iniciação foi finalmente compreendida.

Naquela noite tive sonhos muito estranhos, que mesclavam os acontecimentos da noite anterior com eventos desconexos, Deuses desconhecidos e rituais antigos.

Assim nasceu MillenniuM, que nos próximos anos ainda passaria por mais duas iniciações na bruxaria Wicca, vindo a se tornar um sumo-sacerdote da religião.

Foto da iniciação tradicional


Realizando Cerimônia como Sumo Sacerdote


Altar tradicional de Wicca


Gerald Gardner Pai da Wicca em seu Gabinete


Foto de época Av. Copacabana quase em frente à extinta Casa Mattos e o Curso de Inglês


A Biblioteca onde tudo começou


Em 2004 no meu antigo Estúdio de Magia


Antiga foto de ritual Wicca