segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Capítulo V - Abandonado nas trevas e VI - Entre o forte e o fraco, a luz e as trevas

Pessoal,

Como o capítulo V é um dos menores do livro, eu resolvi publicar o V e o IV juntos...aproveitem!


CAPÍTULO V - Abandonado nas Trevas

Seis meses haviam se passado desde a chegada de Mariah. Numa manhã de Domingo, estávamos na praia em frente ao Copacabana Palace quando ela me deu a notícia:

-Viajo amanhã de volta aos EUA – ela disse deitada sem sequem abrir os olhos.

-Mas como? E eu? Como fico aqui só? Tenho muito a aprender... – eu estava desesperado verdadeiramente.

Mariah alternava-se entre momentos de suprema simpatia e carinho com os de uma frieza digna das bruxas das histórias da carochinha. Por mais que tentasse prever suas reações, me parecia absolutamente impossível.

Sem sequer levantar sua cabeça, deitada bronzeando-se como estava ela respondeu:

-Você sabia que um dia isso aconteceria. Mas vamos manter contato.

Quero lembrar ao leitor de que falamos sobre o ano de 1978. Não tínhamos ainda a internet, os primeiros telefones celulares só surgiriam no Brasil em 1990. As comunicações internacionais se davam ou por Telex, normalmente usado por empresas ou por carta. Ligações telefônicas eram proibitivas, daí meu desespero na época. Eu começava a engatinhar numa religião nova, cheia de princípios que até me eram conhecidos (graças ao ocultismo), mas que sabia existirem outros praticantes, mas não conhecia nenhum a menos de 6.500 quilômetros de distância.

Mas até que as coisas foram mais tranquilas do que eu poderia imaginar. Cumpria o que me havia sido passado. Mantinha a discrição completa, o que me era muito fácil, já que aos 18 anos morava sozinho e podia desenvolver minhas práticas religiosas sem que ninguém sequer imaginasse. Eu e Mariah mantínhamos uma correspondência regular. Recebia e enviava uma média de cinco correspondências por mês. Enquanto isso ela me enviava livros e edições da famosa revista pagã Green Egg, e ensinamentos via suas cartas.

Por exatos sete meses, aprendi os fundamentos da religião, o significado de seus principais rituais, das festas lunares, da filosofia “sagrada” que não tinha livros inspirados por uma entidade suprema, mas apenas a interpretação dos mais antigos na prática.

Minha passagem pelo primeiro grau foi absolutamente tranquila, como deve ser. Intensifiquei meus estudos no Tarot e nos cristais, afinal, segundo minha iniciadora, um bom bruxo deveria conhecer de práticas divinatórias e de magia telúrica, ou seja, da magia que lida com as energias da Terra. Também estudei Paracelso e seu entendimento das ervas. Comecei a buscar mais profundamente os principais nomes do ocultismo, alguns antigos conhecidos, outros que nunca tinha lido sequer uma linha. Mergulhei nos ensinamentos de Eliphas Lévi, Papus, Helena Blavatsky, Franz Bardon,  Mark Lyle Prophet e tantos outros.


Apaixonei-me pelos estudos do uso e da manipulação da bioenergia. Comecei a formar grupos e enquanto muitos passavam suas sextas e sábados em discotecas e baladas, eu passava com grupos fazendo experiências de bioenergética, projeção astral e manipulação de energia.

Não pense o leitor que não me divertia ou que não fosse namorador. Na verdade eu perdi a conta de quantas mulheres passaram pela minha vida nessa época. A ideia da magia ou dos efeitos espetaculares que eu conseguia produzir era um verdadeiro imã para o romance. Dentro desses grupos de estudo, invariavelmente sempre havia alguém disposto a romance. E sim, eu fazia coisas sobrenaturais. Nessa época eu era capaz de fazer com que uma pessoa desmaiasse diante de mim, apenas projetando energia em sua testa. Conseguia construir em meu rosto qualquer imagem de entidade, animal, pessoa que eu quisesse, e durante essas sessões eu conseguia impressionar as pessoas que se prestavam a aprender.

Mantinha os encontros de estudos, mas sempre mantendo o segredo maior, a religião a que pertencia e as práticas que desenvolvia solitariamente em minha casa.

Foi quando, no início de dezembro do ano de 1978, Mariah voltou, e com ela, uma nova fase de minha vida.



  
Capítulo VI
Entre o forte e o fraco, a luz e as trevas



O universo é matemática pura. Deus se utiliza dessa matemática para criar e comandar o Tudo e o Todo. Um ótimo exemplo disso, e até uma prova é a sequência de Fibonacci.
Na Matemática a Sequência de Fibonacci é uma sequência de números inteiros, começando normalmente por 0 e 1, na qual, cada termo subsequente (número de Fibonacci) corresponde à soma dos dois anteriores. A sequência recebeu o nome do matemático italiano Leonardo de Pisa, mais conhecido por Fibonacci (contração do italiano filius Bonacci), que descreveu, no ano de 1202, o crescimento de uma população de coelhos, a partir desta. Tal sequência já era, no entanto, conhecida na antiguidade.
Os números de Fibonacci são, portanto, os números que compõem a seguinte sequência:
1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, 144, 233, 377, 610, 987, 1597, 2584, ... 

 Entender a sequência de Fibonacci é simples. Basta somar-se o numero anterior com o seguinte. Exemplo: 1+1=2, 2+1=3, 3+2=5 e assim por diante.

Em todo o Universo está presente “a marca” ou a presença de Deus responsável pelo fenômeno simétrico da natureza. Ela é constatada através da Proporção Áurea proveniente da Sequência de Fibonacci, que se mostra presente como “o sinal divino” em toda a natureza. Portanto, nas flores, árvores, ondas, conchas, furacões, no do rosto simétrico do ser humano, em suas articulações, seus batimentos cardíacos e em seu DNA. Também na refração da luz proporcionada pelos elétrons dos átomos, nas vibrações e em outras mais manifestações da Criação como nas galáxias do Universo imensurável. A relação da sequência de Fibonacci e o Numero de Ouro em sequência numérica e geométrica parece de modo significativo ser “a marca” de um “Designer” – a “impressão digital” de sua Criação, a Grande Obra de Deus.

Como já mencionei, Deus se utiliza da matemática.

Você pode estar se perguntando:

-Mas qual a relação dessa explicação som a vida do autor?


Eu respondo: TUDO

Essa explicação é necessária para que você leitor, possa compreender como a minha vida se modificou com a segunda vinda de Mariah ao Brasil, e com ela minha iniciação no 2º grau da Bruxaria.

O número 2 representa a dualidade, é o número da polaridade, da complementação, do equilíbrio e do desequilíbrio e da harmonia ou desarmonia. Representa a energia feminina, passiva em si mesma e com polaridade negativa. É o complemento do 1, da mesma maneira que masculino e feminino se complementam. Representa a mãe que gera, que acolhe, que nutre. É o número dos sensitivos, da intuição, da ponderação. Representa o equilíbrio ou o desequilíbrio (dependendo de como vivenciamos) entre forças opostas. É moldável, adaptável, o desequilíbrio entre forças opostas.

Mariah viria ao Brasil apenas para me orientar e me “elevar” ao segundo grau na Bruxaria. Depois de meses de correspondência, relatos das minhas experiências e sobre os grupos de estudo, ela achou que seria a hora de me alertar, e de certa forma, frear meu desenvolvimento.

Sim, frear, pois a essa altura, eu me achava quase um Deus. Era capaz de conhecer o passado e o futuro de alguém usando das práticas divinatória, de curar, de usar a força da manipulação das energias para meu prazer e para minha vantagem.

Hoje eu compreendo que NENHUM desses “poderes” que acreditava ter eram meus realmente. Atualmente, graças a maturidade e ao conhecimento da Verdade (conhecerás a verdade e ela te Libertará) sei que já era usado pelo Mal, e não ha forma mais sorrateira desse Mal do que atear o sentimento do orgulho numa alma.

Hoje percebo que Mariah se preocupava com meu desenvolvimento e temia pelo meu futuro. Por vezes, temos que deixar que uma pessoa querida caia, para aprender como a queda pode doer, e para que aprendamos a não mais cair. A iniciação de segundo grau, em absolutamente todas as doutrinas ocultistas pode ser recebida como uma bênção ou uma maldição...e no me caso, sem dúvida alguma foi uma maldição.

Em termos psicológicos, a segunda iniciação de grau na Bruxaria deveria conduzir a uma reunião entre os dois lados da personalidade, o ego luminoso e a consciência sombria. Em uma análise profunda, esses dois lados são “bons” e “ruins”. A psique humana é composta de escuridão e impulsos de luz para o egoísmo e “mal”, assim como de impulsos de altruísmo e “bem”. Em outra análise, esse encontro de segundo grau é uma reunião entre fêmea e macho.

Mais uma vez eu deveria me perder na escuridão e o objetivo seria o de me iluminar ao sair dela, chegando à harmonia completa.

Para compreender a vida nesse grau, eu teria de achar um equilíbrio entre Poder e compaixão, entre Força e Beleza, Honra e Humildade, Credo e Reverência. O grande problema é que tudo que tinha aprendido até ali não me remetia a qualquer Humildade ou reverência.

Minha missão era a de enfrentar minha própria escuridão, reconhecendo e aceitando minha parcela de sombras de forma NATURAL.

No primeiro grau, somos ensinados a enfrentar e reconhecer esse mal interno. Quando tememos ou odiamos algo ou alguém, nós estamos tendo sentimentos por algo que já habita dentro de nós mesmos. Nós nunca somos incitados por algo que já não exista dentro de nós! Até ali, eu tinha aprendido que a luz não poderia ser destruída pela escuridão. Nem que a luz suplante as sombras, na maior parte das vezes, ela a constrói. Afinal, não é necessário luz para que haja sombras?

O símbolo do Sacerdote de 2º grau é o Pentáculo invertido, o mesmo símbolo que representa o diabo cristão, mas isso é disfarçado dos praticantes desse grau sob a desculpa de ser o símbolo do Deus Cornífero, o Senhor Escuro da Morte.



Em termos de crescimento espiritual, nesse grau, o Pentáculo seria símbolo das quatro funções da personalidade, junto com o quinto, ou função transcendental: o EGO.

E EGO era tudo que eu tinha nesse momento de minha vida!

Nessa época, contrariando toda minha família, tinha assumido um trabalho perigoso, que envolvia segurança, mas também um poder terreno. Tinha a autorização para andar armado, autoridade, me sustentava e morava num apartamento de três quartos, numa rua nobre de Copacabana, tinha um PUMA GTB na garagem (estamos no ano de 1987) quando não existiam carros importados no Brasil.
Minha vida se dividia entre um trabalho perigoso (mas que não me amedrontava, pois achava que a Magia me protegeria de tudo), noitadas e mulheres, muitas mulheres. Sem ter qualquer orgulho disso atualmente, posso dizer que não saberia contar quantas mulheres diferentes passaram pela minha vida nessa época.

E foi nesse momento de minha vida que Mariah escolheu para me jogar pela primeira vez diretamente nas chamas do inferno, mesmo que eu não conseguisse perceber isso na época.

Minha iniciadora, mais uma vez me levou a mesma casa da primeira experiência, menos de um ano antes. Mais uma vez eu estava vendado.

Dessa vez não fui despido. Ao retirar minha venda, Mariah encontrava-se a minha frente, paramentada como uma dama medieval, uma espécie de rainha, com um cetro, uma grinalda e uma coroa na cabeça.

Mais tarde eu saberia que a iniciação de segundo grau se baseia no mito da descida da Deusa ao mundo dos mortos. Nesse mito a Deusa que seria a senhora da vida, para tornar-se completa teria de conhecer a morte, reino dominado pelo Deus dos Bruxos. Para tanto, ela deveria se livrar de vários paramentos, roupas e joias, pois na morte nada disso seria levado.

Durante a iniciação fui aprendendo e entendendo esse mito. A coroa foi retirada, simbolizando o comando o poder terreno, o anel, que simbolizava as associações que temos na terra, nossa posição social. A cada peça que era retirada, algum aspecto terreno era abandonado, culminando com a veste, que seria nossa cobertura mortal, o próprio corpo, a carne... e as sandálias, que representariam os caminhos trilhados em vida.

Depois de despida, Mariah me fez assumir o papel do Deus da Bruxaria nesse teatro, onde por amor a Deus, a forçaria a permanecer com ele no submundo. Daí a divisão do ano entre a sua metade luminosa (quando a Deusa está na Terra) e a metade escura (quando a Deusa fica com o Deus no submundo). Devemos lembrar ao autor que a Bruxaria tem sua criação no hemisfério Norte, onde as estações do ano são muito mais marcantes que no Brasil.

Tanto quanto na primeira iniciação, senti as energias se movimentando a minha volta, mas dessa vez senti algo muito diferente. Mesmo estando sem a venda a cobrir meus olhos, sentia como se existissem outras presenças a nossa volta, em meio à escuridão. A única luz que tínhamos era a das velas, já que se tratava de uma noite de lua nova. Hoje compreendo que eram presenças espirituais que acompanhavam a cerimônia. Tenho certeza que nessa noite houve uma festa no inferno.

Mais uma vez fui submetido a uma prova iniciática e novamente fui bem sucedido. Exatamente como da vez anterior, finalizada a cerimônia e as instruções iniciais, tive de copiar o livro, que a essa altura já sabia ser o famoso BOS (Book of Shadows) ou Livro das Sombras, o manual do Bruxo na sua tradição, manual esse que acaba sendo uma das únicas provas de que realmente pertence aquela tradição e de ter passado pelas suas iniciações.

Se em minha primeira iniciação me senti abandonado com a viagem de volta de Mariah após seis meses, dessa vez não me importei muito quando ela voltou aos EUA apenas 2 dias depois dessa nova experiência.

Acreditava que as coisas continuariam da mesma forma. Que meus “poderes” só cresceriam e que continuaria meus estudos no ocultismo por minha conta e na bruxaria através das correspondências com Mariah.

Mas não foi bem assim...


Iniciação de 2º grau

Altar tradicional de Bruxaria

Mito da descida da Deusa (2º grau)

PUMA GTB







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