Como o capítulo V é um dos menores do livro, eu resolvi publicar o V e o IV juntos...aproveitem!
CAPÍTULO V - Abandonado nas Trevas
Seis
meses haviam se passado desde a chegada de Mariah. Numa manhã de Domingo,
estávamos na praia em frente ao Copacabana Palace quando ela me deu a notícia:
-Viajo
amanhã de volta aos EUA – ela disse deitada sem sequem abrir os olhos.
-Mas
como? E eu? Como fico aqui só? Tenho muito a aprender... – eu estava
desesperado verdadeiramente.
Mariah
alternava-se entre momentos de suprema simpatia e carinho com os de uma frieza
digna das bruxas das histórias da carochinha. Por mais que tentasse prever suas
reações, me parecia absolutamente impossível.
Sem
sequer levantar sua cabeça, deitada bronzeando-se como estava ela respondeu:
-Você
sabia que um dia isso aconteceria. Mas vamos manter contato.
Quero
lembrar ao leitor de que falamos sobre o ano de 1978. Não tínhamos ainda a
internet, os primeiros telefones celulares só surgiriam no Brasil em 1990. As
comunicações internacionais se davam ou por Telex, normalmente usado por
empresas ou por carta. Ligações telefônicas eram proibitivas, daí meu desespero
na época. Eu começava a engatinhar numa religião nova, cheia de princípios que
até me eram conhecidos (graças ao ocultismo), mas que sabia existirem outros
praticantes, mas não conhecia nenhum a menos de 6.500 quilômetros de distância.
Mas
até que as coisas foram mais tranquilas do que eu poderia imaginar. Cumpria o
que me havia sido passado. Mantinha a discrição completa, o que me era muito
fácil, já que aos 18 anos morava sozinho e podia desenvolver minhas práticas
religiosas sem que ninguém sequer imaginasse. Eu e Mariah mantínhamos uma
correspondência regular. Recebia e enviava uma média de cinco correspondências
por mês. Enquanto isso ela me enviava livros e edições da famosa revista pagã
Green Egg, e ensinamentos via suas cartas.
Por
exatos sete meses, aprendi os fundamentos da religião, o significado de seus
principais rituais, das festas lunares, da filosofia “sagrada” que não tinha
livros inspirados por uma entidade suprema, mas apenas a interpretação dos mais
antigos na prática.
Minha passagem pelo primeiro grau
foi absolutamente tranquila, como deve ser. Intensifiquei meus estudos no Tarot
e nos cristais, afinal, segundo minha iniciadora, um bom bruxo deveria conhecer
de práticas divinatórias e de magia telúrica, ou seja, da magia que lida com as
energias da Terra. Também estudei Paracelso e seu entendimento das ervas.
Comecei a buscar mais profundamente os principais nomes do ocultismo, alguns
antigos conhecidos, outros que nunca tinha lido sequer uma linha. Mergulhei nos
ensinamentos de Eliphas Lévi, Papus, Helena Blavatsky, Franz Bardon, Mark Lyle
Prophet e tantos outros.
Apaixonei-me
pelos estudos do uso e da manipulação da bioenergia. Comecei a formar grupos e
enquanto muitos passavam suas sextas e sábados em discotecas e baladas, eu
passava com grupos fazendo experiências de bioenergética, projeção astral e
manipulação de energia.
Não
pense o leitor que não me divertia ou que não fosse namorador. Na verdade eu
perdi a conta de quantas mulheres passaram pela minha vida nessa época. A ideia
da magia ou dos efeitos espetaculares que eu conseguia produzir era um
verdadeiro imã para o romance. Dentro desses grupos de estudo, invariavelmente
sempre havia alguém disposto a romance. E sim, eu fazia coisas sobrenaturais.
Nessa época eu era capaz de fazer com que uma pessoa desmaiasse diante de mim,
apenas projetando energia em sua testa. Conseguia construir em meu rosto
qualquer imagem de entidade, animal, pessoa que eu quisesse, e durante essas
sessões eu conseguia impressionar as pessoas que se prestavam a aprender.
Mantinha
os encontros de estudos, mas sempre mantendo o segredo maior, a religião a que
pertencia e as práticas que desenvolvia solitariamente em minha casa.
Foi
quando, no início de dezembro do ano de 1978, Mariah voltou, e com ela, uma
nova fase de minha vida.
Capítulo
VI
Entre
o forte e o fraco, a luz e as trevas
O universo
é matemática pura. Deus se utiliza dessa matemática para criar e comandar o
Tudo e o Todo. Um ótimo exemplo disso, e até uma prova é a sequência de
Fibonacci.
Na Matemática
a Sequência de Fibonacci é
uma sequência de números
inteiros, começando normalmente por 0 e 1, na qual, cada termo subsequente (número
de Fibonacci) corresponde à soma dos dois anteriores. A sequência
recebeu o nome do matemático italiano Leonardo de Pisa, mais conhecido por
Fibonacci (contração do italiano filius Bonacci), que descreveu,
no ano de 1202, o crescimento de uma população de coelhos, a partir desta. Tal sequência já era, no entanto,
conhecida na antiguidade.
Os números de Fibonacci são, portanto,
os números que compõem a seguinte sequência:
1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, 144, 233, 377, 610, 987, 1597, 2584,
...
Entender a sequência de Fibonacci é simples.
Basta somar-se o numero anterior com o seguinte. Exemplo: 1+1=2, 2+1=3, 3+2=5 e
assim por diante.
Em todo o Universo está presente “a
marca” ou a presença de Deus responsável pelo fenômeno simétrico da natureza.
Ela é constatada através da Proporção Áurea proveniente da Sequência de
Fibonacci, que se mostra presente como “o sinal divino” em toda a natureza.
Portanto, nas flores, árvores, ondas, conchas, furacões, no do rosto simétrico
do ser humano, em suas articulações, seus batimentos cardíacos e em seu DNA.
Também na refração da luz proporcionada pelos elétrons dos átomos, nas
vibrações e em outras mais manifestações da Criação como nas galáxias do
Universo imensurável. A relação da sequência de Fibonacci e o
Numero de Ouro em sequência numérica e geométrica parece de modo significativo
ser “a marca” de um “Designer” – a “impressão digital” de sua Criação, a Grande
Obra de Deus.
Como
já mencionei, Deus se utiliza da matemática.
Você
pode estar se perguntando:
-Mas
qual a relação dessa explicação som a vida do autor?
Eu
respondo: TUDO
Essa
explicação é necessária para que você leitor, possa compreender como a minha
vida se modificou com a segunda vinda de Mariah ao Brasil, e com ela minha
iniciação no 2º grau da Bruxaria.
O número 2 representa a dualidade, é o número da
polaridade, da complementação, do equilíbrio e do desequilíbrio e da harmonia
ou desarmonia. Representa a energia feminina, passiva em si mesma e com
polaridade negativa. É o complemento do 1, da mesma maneira que masculino e
feminino se complementam. Representa a mãe que gera, que acolhe, que nutre. É o
número dos sensitivos, da intuição, da ponderação. Representa o equilíbrio ou o
desequilíbrio (dependendo de como vivenciamos) entre forças opostas. É
moldável, adaptável, o desequilíbrio entre forças opostas.
Mariah viria ao Brasil apenas para me orientar e me
“elevar” ao segundo grau na Bruxaria. Depois de meses de correspondência,
relatos das minhas experiências e sobre os grupos de estudo, ela achou que
seria a hora de me alertar, e de certa forma, frear meu desenvolvimento.
Sim, frear, pois a essa altura, eu me achava quase
um Deus. Era capaz de conhecer o passado e o futuro de alguém usando das
práticas divinatória, de curar, de usar a força da manipulação das energias
para meu prazer e para minha vantagem.
Hoje eu compreendo que NENHUM desses “poderes” que
acreditava ter eram meus realmente. Atualmente, graças a maturidade e ao
conhecimento da Verdade (conhecerás a verdade e ela te Libertará) sei que já
era usado pelo Mal, e não ha forma mais sorrateira desse Mal do que atear o
sentimento do orgulho numa alma.
Hoje percebo que Mariah se preocupava com meu desenvolvimento
e temia pelo meu futuro. Por vezes, temos que deixar que uma pessoa querida
caia, para aprender como a queda pode doer, e para que aprendamos a não mais
cair. A iniciação de segundo grau, em absolutamente todas as doutrinas
ocultistas pode ser recebida como uma bênção ou uma maldição...e no me caso,
sem dúvida alguma foi uma maldição.
Em
termos psicológicos, a segunda iniciação de grau na Bruxaria deveria conduzir a
uma reunião entre os dois lados da personalidade, o ego luminoso e a consciência
sombria. Em uma análise profunda, esses dois lados são “bons” e “ruins”. A
psique humana é composta de escuridão e impulsos de luz para o egoísmo e “mal”,
assim como de impulsos de altruísmo e “bem”. Em outra análise, esse encontro de
segundo grau é uma reunião entre fêmea e macho.
Mais
uma vez eu deveria me perder na escuridão e o objetivo seria o de me iluminar
ao sair dela, chegando à harmonia completa.
Para
compreender a vida nesse grau, eu teria de achar um equilíbrio entre Poder e
compaixão, entre Força e Beleza, Honra e Humildade, Credo e Reverência. O
grande problema é que tudo que tinha aprendido até ali não me remetia a
qualquer Humildade ou reverência.
Minha
missão era a de enfrentar minha própria escuridão, reconhecendo e aceitando minha
parcela de sombras de forma NATURAL.
No
primeiro grau, somos ensinados a enfrentar e reconhecer esse mal interno.
Quando tememos ou odiamos algo ou alguém, nós estamos tendo sentimentos por
algo que já habita dentro de nós mesmos. Nós nunca somos incitados por algo que
já não exista dentro de nós! Até ali, eu tinha aprendido que a luz não poderia
ser destruída pela escuridão. Nem que a luz suplante as sombras, na maior parte
das vezes, ela a constrói. Afinal, não é necessário luz para que haja sombras?
O
símbolo do Sacerdote de 2º grau é o Pentáculo invertido, o mesmo símbolo que
representa o diabo cristão, mas isso é disfarçado dos praticantes desse grau
sob a desculpa de ser o símbolo do Deus Cornífero, o Senhor Escuro da Morte.
Em
termos de crescimento espiritual, nesse grau, o Pentáculo seria símbolo das
quatro funções da personalidade, junto com o quinto, ou função transcendental:
o EGO.
E
EGO era tudo que eu tinha nesse momento de minha vida!
Nessa
época, contrariando toda minha família, tinha assumido um trabalho perigoso,
que envolvia segurança, mas também um poder terreno. Tinha a autorização para
andar armado, autoridade, me sustentava e morava num apartamento de três
quartos, numa rua nobre de Copacabana, tinha um PUMA GTB na garagem (estamos no
ano de 1987) quando não existiam carros importados no Brasil.
Minha
vida se dividia entre um trabalho perigoso (mas que não me amedrontava, pois
achava que a Magia me protegeria de tudo), noitadas e mulheres, muitas
mulheres. Sem ter qualquer orgulho disso atualmente, posso dizer que não
saberia contar quantas mulheres diferentes passaram pela minha vida nessa
época.
E
foi nesse momento de minha vida que Mariah escolheu para me jogar pela primeira
vez diretamente nas chamas do inferno, mesmo que eu não conseguisse perceber
isso na época.
Minha
iniciadora, mais uma vez me levou a mesma casa da primeira experiência, menos
de um ano antes. Mais uma vez eu estava vendado.
Dessa
vez não fui despido. Ao retirar minha venda, Mariah encontrava-se a minha frente,
paramentada como uma dama medieval, uma espécie de rainha, com um cetro, uma
grinalda e uma coroa na cabeça.
Mais
tarde eu saberia que a iniciação de segundo grau se baseia no mito da descida
da Deusa ao mundo dos mortos. Nesse mito a Deusa que seria a senhora da vida,
para tornar-se completa teria de conhecer a morte, reino dominado pelo Deus dos
Bruxos. Para tanto, ela deveria se livrar de vários paramentos, roupas e joias,
pois na morte nada disso seria levado.
Durante
a iniciação fui aprendendo e entendendo esse mito. A coroa foi retirada,
simbolizando o comando o poder terreno, o anel, que simbolizava as associações
que temos na terra, nossa posição social. A cada peça que era retirada, algum
aspecto terreno era abandonado, culminando com a veste, que seria nossa
cobertura mortal, o próprio corpo, a carne... e as sandálias, que
representariam os caminhos trilhados em vida.
Depois
de despida, Mariah me fez assumir o papel do Deus da Bruxaria nesse teatro,
onde por amor a Deus, a forçaria a permanecer com ele no submundo. Daí a
divisão do ano entre a sua metade luminosa (quando a Deusa está na Terra) e a
metade escura (quando a Deusa fica com o Deus no submundo). Devemos lembrar ao
autor que a Bruxaria tem sua criação no hemisfério Norte, onde as estações do
ano são muito mais marcantes que no Brasil.
Tanto
quanto na primeira iniciação, senti as energias se movimentando a minha volta,
mas dessa vez senti algo muito diferente. Mesmo estando sem a venda a cobrir
meus olhos, sentia como se existissem outras presenças a nossa volta, em meio à
escuridão. A única luz que tínhamos era a das velas, já que se tratava de uma
noite de lua nova. Hoje compreendo que eram presenças espirituais que
acompanhavam a cerimônia. Tenho certeza que nessa noite houve uma festa no
inferno.
Mais
uma vez fui submetido a uma prova iniciática e novamente fui bem sucedido.
Exatamente como da vez anterior, finalizada a cerimônia e as instruções
iniciais, tive de copiar o livro, que a essa altura já sabia ser o famoso BOS
(Book of Shadows) ou Livro das Sombras, o manual do Bruxo na sua tradição,
manual esse que acaba sendo uma das únicas provas de que realmente pertence
aquela tradição e de ter passado pelas suas iniciações.
Se
em minha primeira iniciação me senti abandonado com a viagem de volta de Mariah
após seis meses, dessa vez não me importei muito quando ela voltou aos EUA
apenas 2 dias depois dessa nova experiência.
Acreditava
que as coisas continuariam da mesma forma. Que meus “poderes” só cresceriam e
que continuaria meus estudos no ocultismo por minha conta e na bruxaria através
das correspondências com Mariah.
Mas
não foi bem assim...
Iniciação de 2º grau |
Altar tradicional de Bruxaria |
Mito da descida da Deusa (2º grau) |
PUMA GTB |
O livro tem quantos capitulos?
ResponderExcluirmais de 30
ExcluirAhhhh que bom 😁😁😁
ResponderExcluirGosto de livros grandes, sao mais detalhados.