E
o Bruxo se torna ateu
As
cartas de Mariah, que eram frequentes durante meu 1º grau iniciático simplesmente
desapareceram. Como de costume, no primeiro mês eu escrevi seis cartas para
minha iniciadora, mas não recebi nenhuma resposta.
Começava
a ficar preocupado e tentei manter contato telefônico, sem sucesso. Era claro
que Mariah me evitava. Eu não compreendi as razões para esse abandono,
exatamente num momento em que acabara de ser elevado a um “alto sacerdote” e
sendo o único bruxo da tradição em meu País.
A
vida continuava, os estudos no ocultismo continuavam, mas meu progresso na
bruxaria se estagnara. Comecei a me voltar aos grupos de estudos, que com o
tempo também começaram a me entediar. Eu precisava de algo que me fizesse ter
novamente aquela curiosidade.
Nessa
época eu cursava direito na Pontifícia Universidade Católica do RJ e, como uma
forma de revolta, o tema de meu primeiro trabalho no curso chamado “o homem e o
fenômeno religioso” foi sobre o satanismo. Essa era uma forma de tripudiar da
igreja católica e mais, com tudo o que eu cria. Afinal, como pagão não
acreditava no demônio.
Aliás,
a maior arma do demônio é fazer com que as pessoas não acreditem nele. Assim
ele pode operar com naturalidade, fazendo com que as pessoas acreditem que seus
problemas são NATURAIS e, por tanto, não recorrendo à ajuda espiritual de Deus.
Não tenho nenhuma dúvida de que, quando alguém diz a famosa frase “o diabo não
existe”, o inferno entra em festa!
O
demônio não quer ser conhecido, ele quer trabalhar nas trevas. Apesar de o
demônio ser o Pai do orgulho, ele quer que os seres humanos não se lembrem
dele. Ele tem profundo desprezo pela raça humana e briga por nossas almas com
apenas dois objetivos: Trazer tristeza a Deus e ter a quem torturar como
companhia em sua prisão eterna, o Inferno.
Aos
poucos fui abandonando os grupos de estudos, fui parando com os estudos de
ocultismo e não mais fazia experiências de projeção astral. Já faziam mais de quatro
meses sem qualquer contato de Mariah, e as coisas não iam mais tão bem.
Minhas
noites de sono começaram a ser pequenas. Vivia para trabalhar durante o dia,
frequentava a faculdade à noite e depois ia para baladas de segunda a segunda.
Quero
que o leitor entenda que esse livro tem a intenção de ilustrar o que passei
enquanto servia ao Mal, mesmo que enganado, e não ser uma biografia. Por tanto,
acabo suprimindo várias passagens de minha vida, e tenho a certeza de que
muitas pessoas com quem tive ligação no passado, ao lerem esse livro estarão
agradecidas por isso.
Tinha
abandonado completamente tudo que fosse ligado ao oculto ou de cunho religioso.
Vivia meus dias pelo e para o prazer. Fumava como uma chaminé. Não bebia...
isso foi algo que o demônio nunca conseguiu colocar dentro de mim. Sempre odiei
o gosto da bebida alcoólica, e sempre gostei de manter minha consciência
intacta. É claro que socialmente eu mantinha uma garrafa de Whisky num
restaurante chamado Mostarda no bairro do Leblon, mas unicamente porque era uma
forma de status, e isso impressionava as mulheres.
Nesse
período recebi meu primeiro revés, o que acabou me afastando e me revoltando
contra a religião. Certo dia, chegando da rua por volta das 3:00 da manhã, fui
direto para a cama. Acordei meia hora depois, com uma dor pavorosa no estômago,
dor que nunca tinha sentido antes.
Que
me lembre, desde a infância JAMAIS tive qualquer doença, salvo uma faringite na
primeira infância, uma catapora antes dos dez anos e, curiosamente, “quebrei” a
cabeça (levei pontos) por oito vezes. Mas nunca tinha fraturado nenhum osso,
não tinha doenças, até os comuns resfriados não aconteciam comigo. Eu sempre
acreditei que isso se devia graças aos meus estudos no ocultismo e minhas
práticas de bioenergética. E até poderia ser, uma vez que tudo aconteceu
exatamente quando abandonei essas práticas.
A
dor era enlouquecedora, me retorcia na cama, sem sequer conseguir me levantar
para ir até o telefone. Naquela madrugada eu realmente achei que iria morrer, e
nesse momento clamei aos meus Deuses. Nenhuma resposta. Tentei manipular
energia, aquela mesma energia que me dava o poder para desmaiar pessoas e de
fazer com que os afetados por minha magia, vissem característica muito melhores
em mim, do que as que eu tinha realmente. Nenhum resultado!
Na
minha dor, amaldiçoei esses Deuses, desacreditei, me achei um verdadeiro
imbecil por ter me dedicado ao longo do último ano a esses Deuses.
Eu
ouvia meu telefone na mesa de cabeceira tocar sem parar pela manhã, mas sem
forças e sem condições de me levantar para chegar até ele. Era minha mãe
tentando contato... e essa foi minha sorte.
Como
morava sozinho, existiam duas pessoas que tinham a chave de minha casa. Uma
“secretária” que trabalhava com a família desde antes de meu nascimento, e que
me visitava duas vezes por semana para faxina na casa, lavar roupas e a outra
era a minha mãe.
Preocupada
por não atender ao telefone, minha mãe resolveu ir até a minha casa. E foi a
minha sorte... Ao entrar ela viu a situação desesperadora. Eu quase sem forças
sequer para me contorcer de dor, quanto mais para falar. Em pânico ela chamou
uma ambulância e fui removido para o hospital.
O
mais incrível é que, ao entrar na ambulância, a dor foi diminuindo pouco a
pouco, e ao chegar ao hospital, ela já não existia. Passei por uma bateria de
exames e foi diagnosticada uma leve gastrite, mas eu tinha a certeza de que não
era nada leve, eu tinha sentido uma dor como nunca antes sentira. Essa gastrite
me acompanhou dos 18 anos aos 40 de idade.
Mas
com a dor que desapareceu, também desapareceu todo o “poder” que acreditava
ter. Não era mais capaz de ver passado e futuro. Não conseguia mais manipular
energia e desdobrar durante o sono. Tudo aquilo que eu tinha abandonado
voluntariamente pelos prazeres de uma vida mundana também tinham me abandonado,
assim como minha iniciadora também tinha desaparecido. Percebi então que,
naquela noite eu teria perdido todos os meus “poderes”.
Foi
nessa época em que desacreditei de tudo, dos Deuses, do espírito, da energia,
dos estudos... de tudo que não fosse material.
Foi
então que me vi como um ateu!
Capítulo
VIII
O
Bruxo renasce
É impressionante como o ser
humano tem a capacidade de excluir de suas vidas aquilo que não mais o
interessa. Naquele momento de minha vida, excluí absolutamente tudo que fizesse
referência à espiritualidade.
Os últimos dois anos tinham sido
completamente voltados ao meu desenvolvimento no sacerdócio e no ocultismo, mas
agora tudo tinha ficado no passado, como se fosse vida de outra pessoa,
completamente diferente do que era agora. No meio esotérico, diz-se que: “O
Universo conspira a favor do que se acredita e deseja”. Naquele momento de
minha vida, contagiado pela revolta por perder meus “poderes” e pelo abandono
de minha mentora espiritual, simplesmente apaguei esse tempo de minha
história.
Apesar de todas as experiências
sobrenaturais, de tudo que havia vivenciado todas essas “maravilhas”, agora me
soavam no máximo como grandes coincidências. Eu racionalizava absolutamente
tudo. Eu ria das pobres criaturas que acreditavam em qualquer referência ao
ocultismo e religião.
A vida seguia. Trabalho, festas,
amizades. Foi então que, numa noite se sexta-feira, chegando a minha casa,
minha vida voltou a se transformar.
Saindo do elevador, encontrei no
Hall de meu apartamento uma caixa na porta de meu apartamento. A caixa era
muito bonita, recoberta de um papel aveludado de cor carmim e com tiras de
tecido dourado lacrando o “presente”. Na tampa um símbolo de um Pentáculo com
um triângulo sobre a ponta superior.
Eu conhecia o símbolo. A marca do
sacerdote de primeiro grau era o conhecido Pentáculo. A estrela de cinco pontas
que representava ao mesmo tempo, o homem e os cinco elementos: Terra, Ar, Fogo,
Água e o Espírito. A ponta do Pentáculo voltada para cima representava a cabeça
humana volta aos céus, em busca da espiritualidade. Já o símbolo do segundo
grau, como expliquei anteriormente, era o mesmo Pentáculo com a ponta que
representa a cabeça humana voltada para baixo. Mas aquela nova marca era o
símbolo do terceiro grau, o grau máximo, o sumo-sacerdócio.
Peguei o pacote e entrei em casa.
Coloquei-o em cima de minha cama e sei que o leitor pode se perguntar por que
não o abri imediatamente. A resposta é simples: naquele momento eu me
questionava por que um pacote selado com o símbolo do terceiro grau estaria na
minha porta? Tanto tempo sem qualquer notícia de minha iniciadora e, exatamente
no momento de minha vida em que duvidava de tudo e de todos, meu passado
literalmente voltava a minha porta.
Não sabia o que encontraria
dentro daquela caixa. Seria uma ameaça? Apesar de abandonar (ou ter sido
abandonado) tudo, eu jamais tinha desonrado os pactos de silêncio firmados nas
duas iniciações no sacerdócio. O que os Elders (anciões) da bruxaria poderiam
querer comigo ou de mim?
Tomei um demorado banho. Em minha
mente giravam perguntas sem resposta. Eu sabia que, independente do que pudesse
tentar antecipar, só saberia da verdade ao abrir o pacote. Secava meu corpo
olhando para aquela caixa que representava um passado recente, mas que eu não
sabia se queria novamente trazer a tona.
Duas das principais lições que
tinha aprendido no ocultismo eram que, medo era prenúncio de fracasso e que a
curiosidade não tinha espaço para o iniciado.
Com calma, controlando minha
ansiedade, comecei a abrir aquela caixa. Abri com o cuidado daquelas vovós que ao
abrirem um presente, procuram não rasgar nada para guardar o papel de presente
para uma futura ocasião especial. Soltei as fitas douradas, movimentei a tampa
com cuidado e abri a caixa.
Dentro existia um bilhete escrito
em pergaminho e com o selo em cera que já conhecia e identifiquei
imediatamente. Era o selo de Mariah. Também havia um robe de cor vinho em
veludo, com a barra mais escura, mas também de um vinho mais escuto do que o restante
da veste.
No bilhete podia ler as poucas
palavras escritas em inglês: “Be ready on Sunday at 08:00 pm .
Now
is the time for your return and to reborn again.”
“Esteja pronto no domingo às 20:00 .Agora é o momento para o seu retorno e de renascer novamente.”
Sim, era meu passado retornando de forma tão enigmática quanto havia
desaparecido.
Minha primeira reação foi de raiva. Quem Mariah pensava ser? Havia
desaparecido e me abandonado no momento que se mostrou o mais difícil de minha
vida e agora voltava sem explicações querendo que eu simplesmente a obedecesse,
como se nada houvesse acontecido?
Ainda mais, eu tinha perdido todas as minhas capacidades. Como eu
poderia retomar um caminho que eu havia abandonado voluntariamente? Como ela
poderia imaginar que eu estivesse pronto para o derradeiro degrau da bruxaria,
se não sabia o que eu tinha passado no último ano?
O que eu não podia imaginar é que ela sabia de TUDO!
Poxa,agora que ia pegar fogo. Acabou buaaaaa.
ResponderExcluirSe puder publica mais 1 cap. No dia 15 ;)
Dia 15 tem mais, com certeza
ResponderExcluirUhuuuu ��������
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