segunda-feira, 18 de abril de 2016

Capítulo XIII Quero ser um Pedreiro Livre e XIV Se é a curiosidade que o trás aqui, retira-te!

Eu, o Mestre Maçom Adonhiramita completamente paramentado

Capítulo XIII
Quero ser um Pedreiro Livre


Durante os meses seguintes, finalmente recebi as visitas dos sindicantes. Eram visitas estranhas, pois não os conhecia, não sabia o que faziam de suas vidas, tão pouco sabia quando viriam. Mas eles vieram.

Na primeira visita simplesmente nem imaginava quem seria aquela pessoa de pé a minha frente. Como atendia ao público e a dezenas de corretores diariamente, não me foi estranho encontrar um homem de terno com uma pasta de couro sentado à frente de minha mesa na minha volta do almoço. Sentei-me naturalmente e perguntei como poderia ajuda-lo.

-Sr. Fabiano Jacob, meu nome é F. (o chamarei apenas por essa letra). Sou um membro da Loja S.E.V do Grande Oriente do Brasil. Podemos conversar? – Assim se apresentou

Naquele momento cai em mim sobre a real possibilidade de vir fazer parte daquele grupo de homens conhecidos como maçons. Até aquele primeiro encontro eu ainda não acreditava realmente no convite de Álvaro e R. Mas ali estava presente o primeiro dos três visitantes que receberia e que haviam me alertado anteriormente.

As perguntas de F. eram absolutamente genéricas. Eu respondia e ele anotava minhas respostas numa ficha branca com escritos em azul claro, tal qual as que havia recebido, preenchido e devolvido a R.
Nenhuma das perguntas de F. remetiam ao que era a maçonaria, fora a única nesse sentido que foi um simples: “Você sabe o que é a maçonaria ou conhece algum maçom?”. Eu respondi exatamente o que havia dito a R. anteriormente... não conheço muito e o único maçom que conhecia era meu Pai, com quem não tinha muito contato.

Mais tarde, depois da saída de F. soube que ele teria conversado com minha secretária de forma genérica, sobre meu trabalho e como eu seria pessoalmente. Cumpria-se a primeira sindicância, exatamente como havia sido alertado. Algum tempo depois de já ser um membro efetivo da loja S.E.V, vim a descobrir que F. era um vendedor de produtos ligados a construção civil. Durante muitos anos F. foi um bom amigo e me ajudou muito enquanto membro regular da loja.

Ainda recebi mais duas visitas de sindicantes, isso no espaço de quatro meses. Na segunda visita recebi T. (assim chamarei), que vim a descobrir como membro que era um contador famoso, contador de uma das maiores redes de lojas de roupas femininas do Rio de Janeiro. A última visita foi recebida em minha casa. Era W. (chamarei assim) que viria a ser um dos Veneráveis Mestres durante minha estada na maçonaria simbólica. Como esperado, a visita transcorreu de forma normal. Minha esposa na época, mãe de meu primeiro filho não foi contrária a minha entrada na maçonaria.

Vou suprimir aqui os detalhes dos próximos 14 meses, pois não tem muita referência ao ocultismo e magia, mas eventos pessoais me levaram a uma separação no casamento. Meu filho tinha agora dois anos de idade e estávamos quase no final do ano de 1995. Minha carreira na Empresa Seguradora era meteórica e, na mesma época de minha separação, recebi um convite para uma promoção. Deveria aceitar me mudar para a cidade de Teresópolis.

Evidente que num momento difícil, uma separação no casamento, a possibilidade de mudar de cidade, mas ainda estando próximo de meu filho e ainda com uma promoção? Era tudo o que eu tinha pedido aos Deuses que cultuava na época, e evidentemente que tinha influência dos rituais e magias que fazia.

CIM - Cadastro de Identidade Maçônica do grande Oriente do Brasil 
Como eu disse minha crença e minhas habilidades só cresciam. Eu tinha contatado Mariah para saber sobre a maçonaria. Saber se de alguma forma impactaria com minha crença religiosa. Dela recebi a autorização para me juntar a Ordem Real. Aliás, na época não compreendi bem, o que alguns meses depois entenderia suas palavras:

-“Pode entrar sem problemas. Gardner era maçom, e você percebera que não estará muito longe de casa”.

Numa futura obra poderei falar mais profundamente sobre esse assunto, mas realmente Gardner “bebeu” muito da fonte maçônica para modernizar sua bruxaria, e isso é inegável a qualquer bruxo que também tenha sido maçom.

Mudei-me para a cidade de Teresópolis e, três meses depois, o que seria uma promoção de gerência, graças ao sucesso do trabalho, tornou-se uma promoção a Superintendente, responsável por toda a Região Serrana do Rio de Janeiro. Mais uma vez a magia se manifestava em minha vida, dando provas de que meu contato com aqueles “Deuses” eram fortes em minha vida.
A vida continuava, já tinha alugado uma casa em Teresópolis, conquistava dia após dia a confiança dos corretores locais, a Empresa crescia a passos largos na cidade, chegando a ter de se mudar para uma estrutura maior.

A rotina de trabalho era muito prazerosa. Morava a apenas 5 minutos do trabalho, tinha uma vida bucólica que se resumia a trabalho, visitas ao RJ e a um novo romance com uma ex-funcionária que havia conhecido quando ainda estava lotado no Centro da Cidade. Não existiam muitas novidades na minha vida. Claro que com essa vida calma, tive muito tempo para me aplicar a magia e para aumentar meus conhecimentos do ocultismo. Já adentrava as doutrinas Orientais e suas vertentes. O conhecimento da anatomia oculta dos seres engrandeceu muito minhas práticas na época.

Naquela manhã fria, acabara de abrir o escritório quando meu ramal tocou. Minha secretária
Parte de trás
anunciava que uma pessoa da “minha” loja desejava falar comigo. Já haviam se passado quase cinco meses desde a minha separação e da visita de W. Sequer me lembrava de minha proposta e do andamento processual para minha entrada na Maçonaria. Nessa época eu já controlava minhas paixões.

Era F. ao telefone. Ele me avisava que infelizmente meu processo tinha sido perdido durante seu andamento, e por isso a demora no contato. E que, em vista de minha separação e de minha transferência, tiveram dificuldade em manter contato. Mas finalmente a hora de minha iniciação tinha chegado!

Estava prestes a entrar em algo muito maior do que eu poderia imaginar!



Capítulo XIV
Se é a curiosidade que o trás aqui, retira-te!


CIM - Cadastro de Identidade Maçônica do Real Arco Maçônico do Brasil
Não tinha mais volta... e nem eu queria voltar atrás. Minha iniciação estava marcada para o próximo Domingo.

Mais uma vez eu me atirava a algo sem o menor conhecimento de onde estava adentrando. Poucos sabem, mas se assim não fosse, não seria o ocultismo. Comparo de certa forma o experiente ocultista com a Fé inteligente que conheço hoje, ao servir a Jesus Cristo, um Deus vivo... Ter a Fé inteligente é colocar o pé, pisar, antes que se coloque o chão! E assim eu era como ocultista!

Eu tinha recebido ordens claras. Deveria esperar às 5:00 da manhã, exatamente em frente ao prédio do meu antigo escritório na PIO X. Um carro viria me buscar e não deveria me preocupar com mais nada.

Cheguei adiantado, como sempre, acho que essa é uma das minhas qualidades mais chatas, quase uma obsessão... a pontualidade. Quando encostei o carro, imediatamente o segurança do prédio me reconheceu. Naquela época eu usava o carro da companhia, um dos vários benefícios que meu posto conferia. Já prevendo algo estranho, fui ao segurança e disse:

- Por favor, estou aguardando alguns amigos. Independente do que aconteça não se envolva. Eles querem me fazer uma surpresa!

Eu já tinha ouvido falar sobre as iniciações maçônicas. O pouco que conhecia, sabia que deveria ser vendado (começam ai as coincidências com a bruxaria, e são muitas), e quis garantir que meus futuros irmãos não terminassem a carreira deles baleados pelo segurança do prédio. Era muito estranho encontrar um Superintendente da Empresa, em pleno domingo às 4:00 da manhã, de terno preto e gravata preta em plena PIO X, que o diga ver esse Superintendente ser abordado por um grupo de homens. Sei que o segurança não entendeu muita coisa, mas ao menos eu sabia que não se envolveria.

Cartão de regularidade do Real Arco
Aquela altura eu controlava cada sentimento e cada emoção de meu ser. Já eram 5:10 da manhã, o dia começava a dar sinais de amanhecer, foi quando um carro branco piscou os faróis atrás de meu carro. Eles haviam chegado.

Imediatamente desci de meu carro e agradeço até hoje por ter tido a intuição (na época) para conversar com o segurança, pois só tive o tempo para dizer “Bom Dia” e imediatamente fui empurrado para o banco de trás do carro, fui vendado e o carro saiu em disparada. Agora leitor, imagine se não tivesse avisado ao segurança?

O carro corria pelas ruas do centro. Uma música clássica tocava a toda altura. Fui obrigado a me deitar pela metade no banco traseiro, para que não fosse visto pelos outros carros. Uma medida até acertada e de segurança. Rodamos por uns 30 minutos. Os três membros que tinham vindo me buscar não trocavam uma só palavra.

Hoje, muitos anos depois, diversas iniciações tendo feito o papel de meus “sequestradores” por muitas vezes, sei que devem ter se divertido muito, pois eu me divertia muito nesses sequestros de “neófitos”. Tudo tem um tom muito solene, mas até que se adentre realmente a Loja para a iniciação, todo esse folclore gira em torno das brincadeiras maçônicas, que nenhuma relação possuem com o ocultismo. São apenas brincadeiras de garotos grandes.

Chegamos ao local da iniciação e eu sendo carregado, completamente entregue, sem saber onde estava e o que iria acontecer.

Fui levado para dentro de um prédio, posto em uma sala onde uma música clássica tocava baixinho.
Diploma de Super Excelente Mestre – Ápice da Maçonaria Críptica do Real Arco

Mesmo vendado podia perceber que não estava só. Um de meus futuros irmãos dobrou a barra de minha caça, retirou um de meus sapatos e me calçou com um chinelo, enquanto meu outro pé continuava com meu sapato. Um lado de minha camisa foi despido deixando meu peito exposto e uma corda foi amarrada a meu pescoço (imediatamente fui remetido às lembranças de minha primeira iniciação na bruxaria).

Tudo era muito estranho, mas muito similar às experiências pelas quais já tinha passado anteriormente. Hoje sei que, mesmo naquela sala, já preparado para o início da iniciação formal, eu e meus outros dois “irmãos gêmeos” (soube depois que éramos três a serem iniciados) continuamos a passar pelas brincadeiras maçônicas. Um dos futuros irmãos, passando-se por médico nos examinava, enquanto outro, fazendo-se passar também por um “profano” (pro=antes/fora, fano=templo) dava um chilique, dizendo que queria ir embora e desistir de tudo.

Começavam então, horas de cerimônias, juramentos, provas e psicodramas.
Lembro-me muito bem e me chamou atenção na época a chamada câmara das reflexões. Fui levado ainda vendado até uma caverna. Era uma espécie de cela onde pela primeira vez no dia minha venda foi retirada.

Na cela existia uma mesinha, um banco. Sobre a mesa repousavam um galo de cerâmica, um crânio e um papel com caneta onde se lia: Testamento.

Comenda Especial como membro da Order of the Silver Trowel (Ordem da Trolha de Prata) – Honraria conferida apenas a 70 maçons no Brasil
Sobre a mesa, escrito na parede encontrava-se a frase: “Se é a curiosidade que te trás aqui, retira-te!”.
Aquilo me soou quase como uma piada. Era evidente que, mesmo com todo conhecimento oculto que já possuía, existia uma boa parcela de curiosidade. Mas realmente não seria essa curiosidade o dom maior que me levava até aquele momento, mas o desejo por conhecimento e mais “poder”. E como me fora ordenado, ali deixei meu testamento.

Como eu mencionei antes, foi apenas o início de várias provações, as quais só viria a compreender completamente seus sentidos alguns anos depois, ao alcançar minha plenitude maçônica.

Algo que marcou minha memória foi o cheiro de incenso de rosas, misturado ao odor de uma cigarrilha holandesa que alguns anos depois eu mesmo viria a fumar. O venerável Mestre na época de minha iniciação fumava essa cigarrilha durante minha iniciação naquele dia.

Wo (como o chamarei) era um mecânico de uma empresa aérea aposentado, não apenas por ser meu iniciador, o dirigente dos trabalhos naquela época, mas por ser uma pessoa com uma liderança incrível e um carisma gigantesco, tornou-se um exemplo a ser seguido por mim na minha carreira maçônica, mesmo vindo a falecer apenas alguns anos após minha iniciação como Aprendiz maçom.
Naquela manhã e tarde do domingo, jurei, conheci e fui apresentado ao que os ocultistas chamam de A Arte Real e seus símbolos. Não vou negar que, num primeiro momento me incomodou o fato do simbolismo maçônico ser todo baseado na história do Antigo Testamento, com a construção do Templo de Salomão, tendo a bíblia sagrada como “Livro da Lei” e mesmo por ser rebatizado (prática exclusivista de meu rito maçônico na época) como João Evangelista. Mas o desconforto era um pequeno preço a ser pago pelo conhecimento que ganharia.

Eu ainda não sabia que tinha sido iniciado numa das mais tradicionais Lojas maçônicas do Brasil e no rito que era conhecido como sendo o “Guardião das Tradições”.

Mas muito em breve eu entenderia muitas coisas sobre tudo o que passara e que ainda passaria.






sexta-feira, 1 de abril de 2016

Capítulo XI E a vida continua e XII Pedreiro Livre




Capítulo XI
E a vida continua



Agora eu era um Sumo Sacerdote da bruxaria. Aos poucos minhas capacidades voltavam. Talvez não tão fortes como antes, mas sem dúvida mais amadurecidas. A visão se ampliava no uso de práticas divinatórias (Tarot, Runas, etc), minha “aestesis” (sensibilidade às energias) crescia dia a dia.

Os estudos em ocultismo prosseguiam e alguns anos se passaram e eu cheguei aos 25 anos. Era o ano de 1994 e foi nessa época que me casei pela primeira vez. Já não trabalhava mais no antigo emprego. Já tinha sido dono de uma distribuidora de produtos descartáveis e atualmente trabalhava como Gerente de Produção do maior grupo segurador da América Latina, vinculada ao maior Banco Privado do Brasil.

A vida de baladas e festas já tinha acabado. Agora eu já tinha um filho, era um Pai e não mais fazia os encontros para manipulação e estudo de energias. Minhas práticas religiosas continuavam de forma discreta. Mas o ocultismo voltava a me perseguir.

Eu trabalhava no Centro da cidade do Rio de Janeiro, na Praça Pio X, próximo a Candelária. Chefiava um grupo de mais de 30 pessoas e era extremamente atarefado. Numa tarde, fui abordado por um senhor, que aparentava ter uns setenta anos de idade.

Esse senhor viria a ser a mola mestra de minha entrada na Maçonaria.

Eu sempre tive uma grande curiosidade sobre a maçonaria. Tive pouco contato com meu Pai biológico que, separou-se de minha mãe quando eu tinha apenas dois anos de idade. Eventualmente o via nas férias escolares durante minha infância e adolescência, e nesses raros períodos em que passava com meu pai, sempre o vi profundamente envolvido na maçonaria, fosse diretamente nas reuniões de sua Loja maçônica, fosse pelas amizades (maçons em sua maioria) e nas histórias que me contava.

Apesar de aos 25 anos de idade já ser um mestre do ocultismo e um sumo sacerdote da bruxaria, pouco sabia sobre a maçonaria. Apenas as referências a outros ocultistas que teriam sido maçons (Gardner, Eliphas Levy, etc) e poucas “filosofagens” que encontramos em livros.

Por mais que tenhamos atualmente a internet, livros, mais informação... apenas um verdadeiro maçom pode falar, ou compreender o que é a maçonaria. E como eu não era um maçom, pouco conhecia sobre a doutrina. Mal sabia eu que muito em breve eu conheceria e mais, os acontecimentos me levariam a também ser um maçom diferenciado, dentre todos os que eu chamava de irmãos.

Como eu comentei, numa tarde de 1994 fui procurado por um senhor em desespero. Ele me explicava que, há seis anos atrás ele teria atropelado uma pessoa, mas que a seguradora teria pago absolutamente todas as indenizações necessárias a vítima. O problema é que a seguradora teria sido comprada por nosso Banco, e agora ele precisava da documentação que comprovava as indenizações, já que a vítima teria movido um processo contra ele na justiça.

O senhor estava completamente desesperado. O único bem que possuía era uma casa, e se não pudesse comprovar os pagamentos a vítima, certamente teria sérios prejuízos. E o pior... ninguém se prestava a ajuda-lo, visto que essa ajuda implicaria e ter de buscar em arquivos físicos e empoeirados da matriz da seguradora todo esse processo de indenização.

Eu não canso de repetir, não como forma de desculpa, mas apenas para que o leitor perceba como o Mal pode usar alguém que tenha bom coração... eu era uma pessoa de bom coração! E sendo assim, me comprometi em ajudar a esse senhor.

Resumindo: Convoquei três dos meus assistentes e procuramos por dois dias nos arquivos de nossa matriz. Encontramos a documentação e a levei ao departamento jurídico da seguradora que, imediatamente manteve contato com o defensor daquele senhor e juntos prepararam a defesa, comprovando os pagamentos do passado.

Dois meses se passaram, e eu sequer me recordava daquele simpático senhor (que chamarei de Álvaro daqui para frente), quando mais uma vez nos reencontramos. Estava em minha mesa quando Álvaro chegou. Cumprimentou-me com um forte abraço, sentou-se e sem muitos rodeios falou:

- Meu amigo, você foi o único que me ajudou. Eu ganhei o processo, não terei de pagar mais nada. Só tenho a agradecê-lo! Você já ouviu falar na maçonaria?

Naquele momento senti dentro de mim uma revolução. Meus ouvidos zumbiam minha mente, tal qual um computador, começou a vasculhar tudo o que eu sabia teoricamente sobre maçonaria. Um zumbido alto nos meus ouvidos, conhecido das práticas de manipulação de energia mostrava que meu sistema estava alterado.

Procurei me controlar ao máximo e não demonstrar qualquer tipo de excitação. Respondi simplesmente que já tinha ouvido falar, e que meu Pai seria um membro, mas que eu mesmo não tinha muito contato com meu Pai.

Álvaro abriu um largo sorriso, o que me tranquilizou momentaneamente. Imediatamente me explicou que por meu Pai ser maçom, eu seria seu sobrinho, já que todo maçom é um irmão. Falamos algumas amenidades sobre esse assunto, quando finalmente veio à pergunta:

-E você gostaria de se tornar um maçom? – perguntou Álvaro.

Ainda sem demonstrar excitação, desejando gritar um SIM estrondoso, respondi calmamente:

-Pode ser. O que preciso fazer?

Álvaro então me explicou os primeiros passos. Informou-me que ele era um Pastor Evangélico aposentado e que ele mesmo estava afastado da maçonaria por razões pessoais. Mas que era um membro de uma Loja (que mais tarde eu viria a descobrir ser uma das mais tradicionais e fechadas do Brasil) e que traria para conversar comigo um de seus “afilhados”, ou seja, um dos membros que ele teria levado a se tornar maçom, e que esse membro me faria o convite formal.

Nos despedimos, trocamos contatos e ficamos marcados para que, na semana seguinte eu fosse visitado por ele e seu afilhado. E assim foi.





Capítulo XII
Pedreiro Livre


Nunca uma semana demorou tanto a passar. Finalmente chegara o dia de meu novo encontro com Álvaro e seu afilhado. Tínhamos marcado no meu trabalho, mas sem marcar hora certa. Evidentemente que minha gastrite gritava alto. Eu ainda lutava para controlar minha ansiedade, afinal o próprio Eliphas Levy dizia em seu Dogma e Ritual de Alta Magia: “O Perfeito Iniciado é o que controla suas paixões”... e eu tentava.

Só consegui me acalmar quando vi Álvaro saindo do elevador em direção a minha sala. De onde sentava eu tinha uma boa visão dos elevadores e naquela manhã ninguém olhou mais para aquele ponto do prédio que eu.

Álvaro estava acompanhado de outro senhor, tão idoso quanto ele, o que me pareceu engraçado, visto ser seu “afilhado”. Depois eu compreenderia que o convite para a maçonaria não implicaria em idade, e que até um jovem poderia convidar alguém idoso.

Álvaro se aproximou de minha mesa com um sorriso. Levantei-me e trocamos um apertado abraço. Ele estava visivelmente feliz e talvez orgulhoso, não só por estar me apresentando a seu afilhado, como também por acreditar estar trazendo uma boa aquisição para maçonaria, e isso foi dito por ele mesmo durante nossa conversa.

Foi assim que conheci R. (chamarei assim), que viria a ser meu Padrinho na Arte dos pedreiros Livres (tradução do inglês Free Mason). R. era um senhor muito educado. Quis saber de minha vida, minha família, do que eu conhecia de maçonaria (ao que respondi da mesma forma de antes) de meu trabalho, etc.

Após uma conversa que durou quase uma hora, R. retirou alguns documentos de sua bolsa. Era o kit de propostas do Grande Oriente do Brasil, o que eu viria a descobrir mais tarde, ser a potência maçônica mais antiga do Brasil, derivando das épocas do Império, e da qual D. Pedro I fez parte, juntamente com outras diversas figuras políticas da época.

Alguns pontos de nossa conversa me chamaram atenção. Para ser proposto à maçonaria (ou seja, não para entrar, mas apenas para ser proposto) eu teria de retirar uma série de documentos de cartórios que demonstrassem que me tratava de pessoa ilibada civil e criminalmente. Que ainda receberia três visitas de “sindicantes” que inclusive conversariam sem meu conhecimento com colegas de trabalho. A essa altura eu já me sentia espionado. E por último, que minha esposa seria questionada, pois se ela não fosse favorável, o processo findaria naquele momento.

Apenas após todo esse processo é que meu nome seria votado e que poderia ser iniciado.

Depois de iniciado eu tive conhecimento do processo “seletivo” da maçonaria. Após a entrega das fichas que vem no Kit de proposta, minhas informações pessoais e foto ficaram expostas na sede da Maçonaria do Grande Oriente do Rio de Janeiro, na Rua do Lavradio, possibilitando a que qualquer maçom que me reconhecesse e fosse contra a minha entrada na maçonaria, pudesse se manifestar. Só daí receberia a visita dos três sindicantes que realmente tinham de espionar minha vida, entrevistar amigos, parentes, colegas de trabalho... e por último a visita a minha casa, para a conversa com minha esposa.

Depois dessa burocracia, meu Padrinho R. teria de me apresentar documentalmente em loja, numa sessão regular e, durante essa sessão os três sindicantes dariam sua opinião. Só então haveria a votação de todos os membros da Loja, através do sistema de bolinhas brancas e pretas... e apenas se todas as bolas fossem brancas é que seria aceito como um neófito (neo= novo, fitos= planta), ou seja, como um candidato a iniciação.

Álvaro e R. de despediram e desapareceram no elevador.

Curiosamente nunca mais encontrei ou soube de Álvaro novamente.