Eu, o Mestre Maçom
Adonhiramita completamente paramentado
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Capítulo
XIII
Quero
ser um Pedreiro Livre
Durante os meses seguintes,
finalmente recebi as visitas dos sindicantes. Eram visitas estranhas, pois não
os conhecia, não sabia o que faziam de suas vidas, tão pouco sabia quando
viriam. Mas eles vieram.
Na primeira visita simplesmente
nem imaginava quem seria aquela pessoa de pé a minha frente. Como atendia ao
público e a dezenas de corretores diariamente, não me foi estranho encontrar um
homem de terno com uma pasta de couro sentado à frente de minha mesa na minha
volta do almoço. Sentei-me naturalmente e perguntei como poderia ajuda-lo.
-Sr. Fabiano Jacob, meu nome é F.
(o chamarei apenas por essa letra). Sou um membro da Loja S.E.V do Grande
Oriente do Brasil. Podemos conversar? – Assim se apresentou
Naquele momento cai em mim sobre
a real possibilidade de vir fazer parte daquele grupo de homens conhecidos como
maçons. Até aquele primeiro encontro eu ainda não acreditava realmente no
convite de Álvaro e R. Mas ali estava presente o primeiro dos três visitantes
que receberia e que haviam me alertado anteriormente.
As perguntas de F. eram
absolutamente genéricas. Eu respondia e ele anotava minhas respostas numa ficha
branca com escritos em azul claro, tal qual as que havia recebido, preenchido e
devolvido a R.
Nenhuma das perguntas de F.
remetiam ao que era a maçonaria, fora a única nesse sentido que foi um simples:
“Você sabe o que é a maçonaria ou conhece algum maçom?”. Eu respondi exatamente
o que havia dito a R. anteriormente... não conheço muito e o único maçom que
conhecia era meu Pai, com quem não tinha muito contato.
Mais tarde, depois da saída de F.
soube que ele teria conversado com minha secretária de forma genérica, sobre
meu trabalho e como eu seria pessoalmente. Cumpria-se a primeira sindicância,
exatamente como havia sido alertado. Algum tempo depois de já ser um membro
efetivo da loja S.E.V, vim a descobrir que F. era um vendedor de produtos
ligados a construção civil. Durante muitos anos F. foi um bom amigo e me ajudou
muito enquanto membro regular da loja.
Ainda recebi mais duas visitas de
sindicantes, isso no espaço de quatro meses. Na segunda visita recebi T. (assim
chamarei), que vim a descobrir como membro que era um contador famoso, contador
de uma das maiores redes de lojas de roupas femininas do Rio de Janeiro. A
última visita foi recebida em minha casa. Era W. (chamarei assim) que viria a
ser um dos Veneráveis Mestres durante minha estada na maçonaria simbólica. Como
esperado, a visita transcorreu de forma normal. Minha esposa na época, mãe de
meu primeiro filho não foi contrária a minha entrada na maçonaria.
Vou suprimir aqui os detalhes dos
próximos 14 meses, pois não tem muita referência ao ocultismo e magia, mas
eventos pessoais me levaram a uma separação no casamento. Meu filho tinha agora
dois anos de idade e estávamos quase no final do ano de 1995. Minha carreira na
Empresa Seguradora era meteórica e, na mesma época de minha separação, recebi
um convite para uma promoção. Deveria aceitar me mudar para a cidade de
Teresópolis.
Evidente que num momento difícil,
uma separação no casamento, a possibilidade de mudar de cidade, mas ainda
estando próximo de meu filho e ainda com uma promoção? Era tudo o que eu tinha
pedido aos Deuses que cultuava na época, e evidentemente que tinha influência
dos rituais e magias que fazia.
CIM - Cadastro de Identidade Maçônica do grande Oriente
do Brasil
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Como eu disse minha crença e
minhas habilidades só cresciam. Eu tinha contatado Mariah para saber sobre a
maçonaria. Saber se de alguma forma impactaria com minha crença religiosa. Dela
recebi a autorização para me juntar a Ordem Real. Aliás, na época não
compreendi bem, o que alguns meses depois entenderia suas palavras:
-“Pode entrar sem problemas. Gardner
era maçom, e você percebera que não estará muito longe de casa”.
Numa futura obra poderei falar
mais profundamente sobre esse assunto, mas realmente Gardner “bebeu” muito da
fonte maçônica para modernizar sua bruxaria, e isso é inegável a qualquer bruxo
que também tenha sido maçom.
Mudei-me para a cidade de
Teresópolis e, três meses depois, o que seria uma promoção de gerência, graças
ao sucesso do trabalho, tornou-se uma promoção a Superintendente, responsável
por toda a Região Serrana do Rio de Janeiro. Mais uma vez a magia se
manifestava em minha vida, dando provas de que meu contato com aqueles “Deuses”
eram fortes em minha vida.
A vida continuava, já tinha
alugado uma casa em Teresópolis, conquistava dia após dia a confiança dos
corretores locais, a Empresa crescia a passos largos na cidade, chegando a ter
de se mudar para uma estrutura maior.
A rotina de trabalho era muito
prazerosa. Morava a apenas 5 minutos do trabalho, tinha uma vida bucólica que
se resumia a trabalho, visitas ao RJ e a um novo romance com uma ex-funcionária
que havia conhecido quando ainda estava lotado no Centro da Cidade. Não
existiam muitas novidades na minha vida. Claro que com essa vida calma, tive
muito tempo para me aplicar a magia e para aumentar meus conhecimentos do ocultismo.
Já adentrava as doutrinas Orientais e suas vertentes. O conhecimento da
anatomia oculta dos seres engrandeceu muito minhas práticas na época.
Naquela manhã fria, acabara de
abrir o escritório quando meu ramal tocou. Minha secretária
anunciava que uma
pessoa da “minha” loja desejava falar comigo. Já haviam se passado quase cinco
meses desde a minha separação e da visita de W. Sequer me lembrava de minha
proposta e do andamento processual para minha entrada na Maçonaria. Nessa época
eu já controlava minhas paixões.
Parte de trás |
Era F. ao telefone. Ele me
avisava que infelizmente meu processo tinha sido perdido durante seu andamento,
e por isso a demora no contato. E que, em vista de minha separação e de minha
transferência, tiveram dificuldade em manter contato. Mas finalmente a hora de
minha iniciação tinha chegado!
Estava prestes a entrar em algo
muito maior do que eu poderia imaginar!
Capítulo
XIV
Se
é a curiosidade que o trás aqui, retira-te!
CIM - Cadastro de Identidade Maçônica do Real
Arco Maçônico do Brasil
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Não tinha mais volta... e nem eu
queria voltar atrás. Minha iniciação estava marcada para o próximo Domingo.
Mais uma vez eu me atirava a algo
sem o menor conhecimento de onde estava adentrando. Poucos sabem, mas se assim
não fosse, não seria o ocultismo. Comparo de certa forma o experiente ocultista
com a Fé inteligente que conheço hoje, ao servir a Jesus Cristo, um Deus
vivo... Ter a Fé inteligente é colocar o pé, pisar, antes que se coloque o
chão! E assim eu era como ocultista!
Eu tinha recebido ordens claras.
Deveria esperar às 5:00 da manhã, exatamente em frente ao prédio do meu antigo
escritório na PIO X. Um carro viria me buscar e não deveria me preocupar com
mais nada.
Cheguei adiantado, como sempre,
acho que essa é uma das minhas qualidades mais chatas, quase uma obsessão... a
pontualidade. Quando encostei o carro, imediatamente o segurança do prédio me
reconheceu. Naquela época eu usava o carro da companhia, um dos vários
benefícios que meu posto conferia. Já prevendo algo estranho, fui ao segurança
e disse:
- Por favor, estou aguardando
alguns amigos. Independente do que aconteça não se envolva. Eles querem me
fazer uma surpresa!
Eu já tinha ouvido falar sobre as
iniciações maçônicas. O pouco que conhecia, sabia que deveria ser vendado
(começam ai as coincidências com a bruxaria, e são muitas), e quis garantir que
meus futuros irmãos não terminassem a carreira deles baleados pelo segurança do
prédio. Era muito estranho encontrar um Superintendente da Empresa, em pleno
domingo às 4:00 da manhã, de terno preto e gravata preta em plena PIO X, que o
diga ver esse Superintendente ser abordado por um grupo de homens. Sei que o
segurança não entendeu muita coisa, mas ao menos eu sabia que não se
envolveria.
Cartão de
regularidade do Real Arco
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Aquela altura eu controlava cada
sentimento e cada emoção de meu ser. Já eram 5:10 da manhã, o dia começava a dar
sinais de amanhecer, foi quando um carro branco piscou os faróis atrás de meu
carro. Eles haviam chegado.
Imediatamente desci de meu carro
e agradeço até hoje por ter tido a intuição (na época) para conversar com o
segurança, pois só tive o tempo para dizer “Bom Dia” e imediatamente fui
empurrado para o banco de trás do carro, fui vendado e o carro saiu em
disparada. Agora leitor, imagine se não tivesse avisado ao segurança?
O carro corria pelas ruas do
centro. Uma música clássica tocava a toda altura. Fui obrigado a me deitar pela
metade no banco traseiro, para que não fosse visto pelos outros carros. Uma
medida até acertada e de segurança. Rodamos por uns 30 minutos. Os três membros
que tinham vindo me buscar não trocavam uma só palavra.
Hoje, muitos anos depois,
diversas iniciações tendo feito o papel de meus “sequestradores” por muitas
vezes, sei que devem ter se divertido muito, pois eu me divertia muito nesses
sequestros de “neófitos”. Tudo tem um tom muito solene, mas até que se adentre
realmente a Loja para a iniciação, todo esse folclore gira em torno das
brincadeiras maçônicas, que nenhuma relação possuem com o ocultismo. São apenas
brincadeiras de garotos grandes.
Chegamos ao local da iniciação e
eu sendo carregado, completamente entregue, sem saber onde estava e o que iria
acontecer.
Fui levado para dentro de um
prédio, posto em uma sala onde uma música clássica tocava baixinho.
Diploma de Super
Excelente Mestre – Ápice da Maçonaria Críptica do Real Arco
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Mesmo vendado podia perceber que
não estava só. Um de meus futuros irmãos dobrou a barra de minha caça, retirou
um de meus sapatos e me calçou com um chinelo, enquanto meu outro pé continuava
com meu sapato. Um lado de minha camisa foi despido deixando meu peito exposto
e uma corda foi amarrada a meu pescoço (imediatamente fui remetido às
lembranças de minha primeira iniciação na bruxaria).
Tudo era muito estranho, mas
muito similar às experiências pelas quais já tinha passado anteriormente. Hoje
sei que, mesmo naquela sala, já preparado para o início da iniciação formal, eu
e meus outros dois “irmãos gêmeos” (soube depois que éramos três a serem
iniciados) continuamos a passar pelas brincadeiras maçônicas. Um dos futuros
irmãos, passando-se por médico nos examinava, enquanto outro, fazendo-se passar
também por um “profano” (pro=antes/fora, fano=templo) dava um chilique, dizendo
que queria ir embora e desistir de tudo.
Começavam então, horas de
cerimônias, juramentos, provas e psicodramas.
Lembro-me muito bem e me chamou
atenção na época a chamada câmara das reflexões. Fui levado ainda vendado até
uma caverna. Era uma espécie de cela onde pela primeira vez no dia minha venda
foi retirada.
Na cela existia uma mesinha, um
banco. Sobre a mesa repousavam um galo de cerâmica, um crânio e um papel com
caneta onde se lia: Testamento.
Comenda Especial como
membro da Order of the Silver Trowel (Ordem da Trolha de Prata) – Honraria
conferida apenas a 70 maçons no Brasil
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Sobre a mesa, escrito na parede
encontrava-se a frase: “Se é a curiosidade que te trás aqui, retira-te!”.
Aquilo me soou quase como uma
piada. Era evidente que, mesmo com todo conhecimento oculto que já possuía,
existia uma boa parcela de curiosidade. Mas realmente não seria essa
curiosidade o dom maior que me levava até aquele momento, mas o desejo por
conhecimento e mais “poder”. E como me fora ordenado, ali deixei meu
testamento.
Como eu mencionei antes, foi
apenas o início de várias provações, as quais só viria a compreender
completamente seus sentidos alguns anos depois, ao alcançar minha plenitude
maçônica.
Algo que marcou minha memória foi
o cheiro de incenso de rosas, misturado ao odor de uma cigarrilha holandesa que
alguns anos depois eu mesmo viria a fumar. O venerável Mestre na época de minha
iniciação fumava essa cigarrilha durante minha iniciação naquele dia.
Wo (como o chamarei) era um
mecânico de uma empresa aérea aposentado, não apenas por ser meu iniciador, o
dirigente dos trabalhos naquela época, mas por ser uma pessoa com uma liderança
incrível e um carisma gigantesco, tornou-se um exemplo a ser seguido por mim na
minha carreira maçônica, mesmo vindo a falecer apenas alguns anos após minha
iniciação como Aprendiz maçom.
Naquela manhã e tarde do domingo,
jurei, conheci e fui apresentado ao que os ocultistas chamam de A Arte Real e
seus símbolos. Não vou negar que, num primeiro momento me incomodou o fato do
simbolismo maçônico ser todo baseado na história do Antigo Testamento, com a
construção do Templo de Salomão, tendo a bíblia sagrada como “Livro da Lei” e
mesmo por ser rebatizado (prática exclusivista de meu rito maçônico na época)
como João Evangelista. Mas o desconforto era um pequeno preço a ser pago pelo
conhecimento que ganharia.
Eu ainda não sabia que tinha sido
iniciado numa das mais tradicionais Lojas maçônicas do Brasil e no rito que era
conhecido como sendo o “Guardião das Tradições”.
Mas muito em breve eu entenderia
muitas coisas sobre tudo o que passara e que ainda passaria.
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