segunda-feira, 2 de maio de 2016

Capítulo XV Conhecimento é Poder? e Capítulo XVI Novos Rumos




Capítulo XV
Conhecimento é Poder?



Minha trajetória maçônica também foi marcada por ocorrências fora do comum. Os dois primeiros anos, até que alcançasse a plenitude maçônica (vista como o 3º grau simbólico, o de Mestre Maçom) foram marcados por vindas ao RJ todas as sextas feiras e eventualmente em outras datas marcadas. Muitos trabalhos simbólicos, muitas apresentações e muito estudo do ritual... mas tudo isso quase sem nenhum acompanhamento ou direção formal. A maçonaria, ao menos no rito ao qual pertencia nos ensinava através da repetição. Os símbolos presentes numa loja maçônica iam sendo desvendados paulatinamente. E eram muitos.

Aliás, para os que nada sabem sobre maçonaria, soa estranho o nome LOJA. Até mesmo aos maçons deveria soar estranho. Na verdade é apenas uma corruptela do Inglês LODGE, que significa estalagem, ou ainda taberna.

Fato é que, no passado, motivados pelas diversas perseguições pelas quais a maçonaria passou, seus membros costumavam realizar suas reuniões em locais diversos, sem um local fixo. Assim, escolhiam as tabernas para seus ritos. Dai a palavra LODGE ter sido erroneamente traduzida para LOJA em nosso idioma natal.

Fazendo uma pequena pausa em meu relato, é importante explicar ao leitor leigo a importância do Rito Adonhiramita, rito no qual, não por acaso do destino, eu tinha sido iniciado.

Devido ao tradicionalismo e importância desse rito, ele se diferencia dos demais ritos mundiais até nas vestimentas. Enquanto o maçom mais comum, ou aquele que é ligado ao rito chamado de Escocês Antigo e Aceito se veste com o terno preto, gravata preta e camisa branca, podendo até usar um “balandrau” (tipo de veste que cobre as roupas profanas, sem a necessidade do terno), os Adonhiramitas só podem participar de uma reunião se estiverem completamente trajados dentro do rito: Terno preto, camisa branca, gravata branca (que simboliza o ponto de luz dentro das trevas humanas), luvas brancas (uma vez que as mãos profanas não são dignas de tocar o ambiente maçônico) e chapéu. Além é claro do avental do rito e da faixa também utilizada apenas nesse rito pelos Mestres Maçons. Aprendizes e companheiros, respectivamente os 1º e 2º graus não usam a faixa e o chapéus... aliás, sequer são permitidos a falar dentro do templo.

Vamos à explicação sobre o Rito Adonhiramita:

A Maçonaria Adonhiramita surgiu com a publicação, em 1744 da primeira edição e, logo a seguir, a
segunda edição, em 1747, do trabalho de Louis Travenol, que com o nome de Leonardo Gabanon, mandou imprimir o seu “CATECHISME DE FRANC MAÇONS ou LE SECRET DES FRANC MAÇONS” (Catecismo dos Franco- Maçons ou O Segredo dos Franco-Maçons) onde imputava o nome de Adonhiram sobre o qual o grau de Mestre devia ser fundado, trocando-o pelo de Hiram.

Em 1780 foi republicado, na França, o “Catechisme de Franc-Maçons” por outro autor que quase nada acrescentou ao já existente, sem citar o nome do autor das primeiras edições, fato que veio provocar grande irritação em um eminente historiador da época, que usando o nome histórico de Louis Guilleman de SAINT-VICTOR procurou produzir algo sério. Após exaustivos estudos e pesquisas sobre as religiões e os mistérios da antiguidade, escreveu em 1781 a “Recueil Precieux de la Maçonnerie Adonhiramite” (Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita) publicada a primeira parte em 1782 abrangendo os quatro primeiros graus.

Em 1787, na Filadélfia (USA) a Editora Philarethe, situada a rua I’Equerre Aplomb, publicou, em francês, as duas edições do Recueil Precieux de la Maçonnerie Adonhiramite, edição esta, que tornou-se a “BÍBLIA” dos Maçons Adonhiramitas.

A partir desta edição, o Rito Adonhiramita teve ampla expansão na Europa, particularmente na França, sua terra de origem, e de onde se difundiu para Portugal, chegando a dominar o Grande Oriente Lusitano e exportando a todas suas Colônias.

Todavia sua predominância foi efêmera, passando a desvanecer-se pouco a pouco, não só em consequência da dispersão de seus praticantes, engalfinhados em lutas partidárias, como também devido a uma série de eventos políticos que repercutiram danosamente contra as organizações maçônicas de então.

O RITO NO BRASIL

No Brasil o Rito Adonhiramita foi introduzido regularmente em 1801 com a fundação da Loja Reunião e consolidada em 15 de novembro de 1815, data da fundação da Loja Comercio e Arte, por Maçons obedientes ao Grande Oriente Lusitano.

Foi, portanto, o primeiro Rito a desenvolver-se regular e continuadamente no Brasil onde foi e é praticado, ininterruptamente, até os dias de hoje. A Instalação definitiva da Loja Comercio de Artes, ocorreu no dia 2 de junho de 1821. Nesta mesma data, os seus Obreiros, preocupados com a criação de uma entidade maçônica de caráter nacional, cogitaram desmembrá-la para fundarem mais duas Lojas: a Esperança de Niterói e a União e Tranquilidade. Compondo, destarte, um quadro de três Oficinas - Base, àqueles Irmãos estavam preparando as condições propícias para o nascimento do grande oriente brasílico que seria o baluarte de nossa Independência, de que foi artífice e fiadora a Maçonaria Adonhiramita, embora, as duas Lojas filhas só seriam fundadas quando da criação do Grande Oriente, em 1822, quando adotaram o Rito Moderno por ser o Rito adotado pelo Grande Oriente de França.

D. Pedro e a maçonaria. A iniciação de D. Pedro contribuiu fortemente para o processo de emancipação brasileira e isto interessava à Maçonaria como também interessava a D. Pedro estar apoiado pelos Maçons, já que formavam à época uma forte corrente política.
Após terem obtido a adesão dos irmãos de São Paulo, Minas Gerais e Bahia, aqueles maçons resolveram fazer um apelo a D. Pedro para que permanecesse no Brasil e que culminou, como se sabe, com a celebre:
“como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto, diga ao povo que fico”.
Entretanto, não parou ai os trabalhos dos maçons. Teve início, logo em seguida, um movimento coordenado entre os irmãos de outras províncias brasileiras objetivando promover a Independência do Brasil.
Em 09 de janeiro de 1822, o conhecido episódio do “Fico” teve a inspiração e liderança dos Maçons José Joaquim da Rocha e José Clemente Pereira. “O Príncipe Regente recebeu três documentos feitos sob inspiração e liderança maçônica rogando por sua permanência no Brasil em descumprimento dos Decretos nº 124 e 125 das Cortes Portuguesas.
O documento paulista foi redigido por José Bonifácio de Andrada e Silva, o documento dos fluminenses foi redigido pelo Frei Francisco de Santa Tereza de Jesus Sampaio, orador da Loja “Comércio e Artes” e o documento dos mineiros foi liderado por Pedro Dias Paes Leme. No Convento “da Ajuda, na cela do Frei Sampaio reuniam-se os líderes do movimento”.
Este fato pitoresco de Maçons, de reunirem-se em segredo num Convento tem conotação com as reuniões que hoje são realizadas nas Lojas Maçônicas, guardadas as devidas proporções.
Decidida a questão do “Fico”, acentua-se o processo de discussão e sob a liderança de Joaquim Gonçalves Ledo a Maçonaria decide, por proposta do brigadeiro Domingos Alves Branco Muniz Barreto, outorgar a D. Pedro o título de “Defensor Perpétuo do Brasil”.
Tão logo foi fundado o Grande Oriente Brasílico José Bonifácio de Andrada e Silva foi escolhido como Grão Mestre e Joaquim Gonçalves Ledo como Primeiro Grande Vigilante. Havia, no entanto uma luta ideológica entre os Grupos de Bonifácio e de Ledo.
Depois dessa explicação, o leitor verá a importância desse rito Maçônico que sempre influenciou a história de nosso País, desde antes de sua Independência.
Naquela tarde de Domingo, retornei a minha casa, já como um maçom. Imediatamente telefonei para meu pai, que mora numa cidadezinha do Sul do Pará e, me identificando com as palavras maçônicas, dei ciência a ele de minha iniciação.
Mais uma vez percebi que não existia o destino. Ao perguntar a meu pai qual seria seu rito, recebi a seguinte resposta:
- Meu filho, você não deve conhecer. É um rito muito tradicional e não existem muitas lojas dessa vertente maçônica. Sou membro do Rito Adonhiramita.

Diante da resposta, gelei ao telefone. Mais uma vez forças indeterminadas agiam em minha vida e mostravam que nada, absolutamente nada é coincidência!



Capítulo XVI
Novos Rumos


 A maçonaria se divide em duas vertentes:

Maçonaria simbólica – essa vertente compreende os três primeiros graus da ordem. Um maçom pode chegar ao 3º grau, sua plenitude maçônica e não caminhar mais na Ordem.

Maçonaria filosófica – compreende dos graus 4 ao 33 e complementa (de certa forma) a história maçônica, remetendo as passagens do Antigo Testamento bíblico.

Eu tracei meu caminho normalmente pelos três primeiros graus, ou seja, através da maçonaria simbólica.

Logicamente em minha busca pelo conhecimento, segui pelos graus filosóficos, chegando ao grau 18 (Cavaleiro Rosa Cruz), mas logo tive minhas decepções.

Absolutamente TUDO o que me era passado nesses ditos graus filosóficos já me era conhecido. Nada mais me acrescentava. Com isso, o desejo pelo conhecimento foi arrefecido no que dizia respeito à maçonaria.

Já era o ano de 2001 e mais uma vez encontrava-me enfadado no que dizia respeito ao conhecimento oculto. A única novidade em minha vida era meu casamento com Eliane, minha amada esposa e mãe de meus dois filhos, Eduarda e Felipe. Continuava como Superintendente da Seguradora, e agora o mais jovem e mais graduado Superintendente desse grupo. Havia retornado ao Rio de Janeiro há três anos e a vida continuava recheada de rituais e experiências mágicas.

 A essa altura já tinha lido tudo o que valia a pena ser lido. Já conhecia a maioria das personalidades Nacionais, e mesmo algumas internacionais no meio ocultista. Já fazia parte de outras ordens como a FellowShip of Isis, uma ordem Internacional de estudos que enfoca nas deidades femininas.



Também já era o único membro Brasileiro da Ord Brighideach, os guardiões da chama de Brigit, Deusa matriarca da Irlanda entre os Celtas da antiguidade.

Tinha amizades com Rowan Fairgrove e Don Frew, a primeira uma das principais sacerdotisas do Covenant of the Goddess e o último, um amigo pessoal de Gerald Gardner. Esse conhecimento me proporcionaria a oportunidade de ser o único Brasileiro jamais convidado a palestrar sobre bruxaria no PantheaCon, o maior encontro de Paganismo do Mundo, realizado anualmente em San José na California. Rowan Fairgrove e Don Frew viriam ao Brasil alguns anos depois e passaram uma semana comigo no meu centro de estudos, o Templo de Brigith.


Não era raro receber essas figuras internacionais, o que me validava a cada dia como um dos únicos bruxos verdadeiros do Brasil, já que nessa época a bruxaria, antes quase secreta, tornava-se uma moda, até com participações em novelas da maior rede de televisão do Brasil. Uma dessas figuras foi à sacerdotisa Thorn, herdeira de Victor Anderson, criador e dirigente da Feri wicca, uma das mais polêmicas tradições da bruxaria.

Mas ainda era o ano de 2001, e em seu final, motivado por problemas que minha esposa tinha com a Seguradora para quais ambos trabalhávamos, comecei uma nova empreitada comercial, saindo da seguradora e indo auxiliar minha esposa em sua corretora de seguros.

Aquela vida de executivo também já não me agradava mais, a única coisa que me motivava eram as aulas de Bruxaria que dava gratuitamente aos finais de semana.

Essas aulas começaram por ordem de Mariah. Segundo minha iniciadora era hora de divulgar e de fazer crescer a tradição no Brasil. Não adiantaria nada ser uma tradição de um só homem. Eu aproveitava a estrutura gigantesca da corretora, com seus mais de 400m2, salas de aula e conforto.

Por ordem de Mariah, criei na internet uma lista de discussões chamada “Diário de um Bruxo”, lista essa que foi um diferencial no paganismo nacional na época. Eram milhares de pessoas discutindo assuntos relacionados ao ocultismo e verdadeiras aulas de conhecimento oculto com planejamento e estratégias definidas. Depois de um tempo, o primeiro grupo de Estudos começaria a funcionar aos sábados e domingos aqui na Ilha do Governador.

É importante ressaltar que Eliane era católica na época, e como mulher de opinião e atitude, jamais se interessou em ocupar posição junto ao meu sacerdócio, ou em converter-se a bruxaria. Respeitava minhas escolhas e apoiava, mas tinha suas próprias crenças. Infelizmente essas crenças não resistiriam por muito tempo mais.

Como eu disse apenas as aulas de bruxaria me motivavam. O primeiro grupo era interessado e éramos em 15 pessoas. Fizemos os primeiros rituais nas praias do Recreio dos Bandeirantes e o grupo foi crescendo e batizado como “Água da Lua”.
Por razões comerciais e de estratégia, eu e Eliane resolvemos nos focar comercialmente apenas em empresas, abandonar o trabalho com pessoa física. Com isso, nos mudamos para duas salas num shopping, o que fez com que os cursos dessem uma paralisada. O grupo em desespero resolveu alugar uma sala para a continuidade do desenvolvimento na bruxaria, mas queriam que eu fosse o responsável por esse aluguel. Eu sentia que tinha de ser algo maior, um pensamento me levava a querer algo grande... e assim surgiu o Templo de Brigith.

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