Conhecimento
é Poder?
Minha trajetória maçônica também
foi marcada por ocorrências fora do comum. Os dois primeiros anos, até que
alcançasse a plenitude maçônica (vista como o 3º grau simbólico, o de Mestre
Maçom) foram marcados por vindas ao RJ todas as sextas feiras e eventualmente
em outras datas marcadas. Muitos trabalhos simbólicos, muitas apresentações e
muito estudo do ritual... mas tudo isso quase sem nenhum acompanhamento ou
direção formal. A maçonaria, ao menos no rito ao qual pertencia nos ensinava
através da repetição. Os símbolos presentes numa loja maçônica iam sendo
desvendados paulatinamente. E eram muitos.
Aliás, para os que nada sabem
sobre maçonaria, soa estranho o nome LOJA. Até mesmo aos maçons deveria soar
estranho. Na verdade é apenas uma corruptela do Inglês LODGE, que significa
estalagem, ou ainda taberna.
Fato é que, no passado, motivados
pelas diversas perseguições pelas quais a maçonaria passou, seus membros
costumavam realizar suas reuniões em locais diversos, sem um local fixo. Assim,
escolhiam as tabernas para seus ritos. Dai a palavra LODGE ter sido
erroneamente traduzida para LOJA em nosso idioma natal.
Fazendo uma pequena pausa em meu
relato, é importante explicar ao leitor leigo a importância do Rito
Adonhiramita, rito no qual, não por acaso do destino, eu tinha sido iniciado.
Devido ao tradicionalismo e
importância desse rito, ele se diferencia dos demais ritos mundiais até nas
vestimentas. Enquanto o maçom mais comum, ou aquele que é ligado ao rito
chamado de Escocês Antigo e Aceito se veste com o terno preto, gravata preta e
camisa branca, podendo até usar um “balandrau” (tipo de veste que cobre as
roupas profanas, sem a necessidade do terno), os Adonhiramitas só podem
participar de uma reunião se estiverem completamente trajados dentro do rito: Terno
preto, camisa branca, gravata branca (que simboliza o ponto de luz dentro das
trevas humanas), luvas brancas (uma vez que as mãos profanas não são dignas de
tocar o ambiente maçônico) e chapéu. Além é claro do avental do rito e da faixa
também utilizada apenas nesse rito pelos Mestres Maçons. Aprendizes e
companheiros, respectivamente os 1º e 2º graus não usam a faixa e o chapéus...
aliás, sequer são permitidos a falar dentro do templo.
Vamos à explicação sobre o Rito
Adonhiramita:
A
Maçonaria Adonhiramita surgiu com a publicação, em 1744 da primeira edição e,
logo a seguir, a
segunda edição, em 1747, do trabalho de Louis Travenol, que
com o nome de Leonardo Gabanon, mandou imprimir o seu “CATECHISME DE FRANC
MAÇONS ou LE SECRET DES FRANC MAÇONS” (Catecismo dos Franco- Maçons ou O
Segredo dos Franco-Maçons) onde imputava o nome de Adonhiram sobre o qual o
grau de Mestre devia ser fundado, trocando-o pelo de Hiram.
Em
1780 foi republicado, na França, o “Catechisme de Franc-Maçons” por outro autor
que quase nada acrescentou ao já existente, sem citar o nome do autor das
primeiras edições, fato que veio provocar grande irritação em um eminente
historiador da época, que usando o nome histórico de Louis Guilleman de
SAINT-VICTOR procurou produzir algo sério. Após exaustivos estudos e pesquisas
sobre as religiões e os mistérios da antiguidade, escreveu em 1781 a “Recueil
Precieux de la Maçonnerie Adonhiramite” (Compilação Preciosa da Maçonaria
Adonhiramita) publicada a primeira parte em 1782 abrangendo os quatro primeiros
graus.
Em
1787, na Filadélfia (USA) a Editora Philarethe, situada a rua I’Equerre Aplomb,
publicou, em francês, as duas edições do Recueil Precieux de la Maçonnerie
Adonhiramite, edição esta, que tornou-se a “BÍBLIA” dos Maçons Adonhiramitas.
A
partir desta edição, o Rito Adonhiramita teve ampla expansão na Europa,
particularmente na França, sua terra de origem, e de onde se difundiu para
Portugal, chegando a dominar o Grande Oriente Lusitano e exportando a todas
suas Colônias.
Todavia
sua predominância foi efêmera, passando a desvanecer-se pouco a pouco, não só
em consequência da dispersão de seus praticantes, engalfinhados em lutas
partidárias, como também devido a uma série de eventos políticos que
repercutiram danosamente contra as organizações maçônicas de então.
O RITO NO BRASIL
No
Brasil o Rito Adonhiramita foi introduzido regularmente em 1801 com a fundação
da Loja Reunião e consolidada em 15 de novembro de 1815, data da fundação da
Loja Comercio e Arte, por Maçons obedientes ao Grande Oriente Lusitano.
Foi,
portanto, o primeiro Rito a desenvolver-se regular e continuadamente no Brasil
onde foi e é praticado, ininterruptamente, até os dias de hoje. A Instalação
definitiva da Loja Comercio de Artes, ocorreu no dia 2 de junho de 1821. Nesta
mesma data, os seus Obreiros, preocupados com a criação de uma entidade
maçônica de caráter nacional, cogitaram desmembrá-la para fundarem mais duas
Lojas: a Esperança de Niterói e a União e Tranquilidade. Compondo, destarte, um
quadro de três Oficinas - Base, àqueles Irmãos estavam preparando as condições
propícias para o nascimento do grande oriente brasílico que seria o baluarte de
nossa Independência, de que foi artífice e fiadora a Maçonaria Adonhiramita,
embora, as duas Lojas filhas só seriam fundadas quando da criação do Grande
Oriente, em 1822, quando adotaram o Rito Moderno por ser o Rito adotado pelo
Grande Oriente de França.
D. Pedro e a maçonaria. A iniciação de D.
Pedro contribuiu fortemente para o processo de emancipação brasileira e isto
interessava à Maçonaria como também interessava a D. Pedro estar apoiado pelos
Maçons, já que formavam à época uma forte corrente política.
Após terem obtido a
adesão dos irmãos de São Paulo, Minas Gerais e Bahia, aqueles maçons resolveram
fazer um apelo a D. Pedro para que permanecesse no Brasil e que culminou, como
se sabe, com a celebre:
“como é para o bem de
todos e felicidade geral da nação, estou pronto, diga ao povo que fico”.
Entretanto, não parou
ai os trabalhos dos maçons. Teve início, logo em seguida, um movimento
coordenado entre os irmãos de outras províncias brasileiras objetivando
promover a Independência do Brasil.
Em 09 de janeiro de
1822, o conhecido episódio do “Fico” teve a inspiração e liderança dos Maçons
José Joaquim da Rocha e José Clemente Pereira. “O Príncipe Regente recebeu três
documentos feitos sob inspiração e liderança maçônica rogando por sua
permanência no Brasil em descumprimento dos Decretos nº 124 e 125 das Cortes
Portuguesas.
O documento paulista
foi redigido por José Bonifácio de Andrada e Silva, o documento dos fluminenses
foi redigido pelo Frei Francisco de Santa Tereza de Jesus Sampaio, orador da
Loja “Comércio e Artes” e o documento dos mineiros foi liderado por Pedro Dias
Paes Leme. No Convento “da Ajuda, na cela do Frei Sampaio reuniam-se os líderes
do movimento”.
Este fato pitoresco
de Maçons, de reunirem-se em segredo num Convento tem conotação com as reuniões
que hoje são realizadas nas Lojas Maçônicas, guardadas as devidas proporções.
Decidida a questão do
“Fico”, acentua-se o processo de discussão e sob a liderança de Joaquim
Gonçalves Ledo a Maçonaria decide, por proposta do brigadeiro Domingos Alves
Branco Muniz Barreto, outorgar a D. Pedro o título de “Defensor Perpétuo do
Brasil”.
Tão logo foi fundado
o Grande Oriente Brasílico José Bonifácio de Andrada e Silva foi escolhido como
Grão Mestre e Joaquim Gonçalves Ledo como Primeiro Grande Vigilante. Havia, no
entanto uma luta ideológica entre os Grupos de Bonifácio e de Ledo.
Depois dessa
explicação, o leitor verá a importância desse rito Maçônico que sempre
influenciou a história de nosso País, desde antes de sua Independência.
Naquela tarde de
Domingo, retornei a minha casa, já como um maçom. Imediatamente telefonei para
meu pai, que mora numa cidadezinha do Sul do Pará e, me identificando com as palavras
maçônicas, dei ciência a ele de minha iniciação.
Mais uma vez percebi
que não existia o destino. Ao perguntar a meu pai qual seria seu rito, recebi a
seguinte resposta:
- Meu filho, você não
deve conhecer. É um rito muito tradicional e não existem muitas lojas dessa
vertente maçônica. Sou membro do Rito Adonhiramita.
Diante da resposta,
gelei ao telefone. Mais uma vez forças indeterminadas agiam em minha vida e
mostravam que nada, absolutamente nada é coincidência!
Capítulo
XVI
Novos
Rumos
A maçonaria se divide em duas
vertentes:
Maçonaria simbólica – essa
vertente compreende os três primeiros graus da ordem. Um maçom pode chegar ao
3º grau, sua plenitude maçônica e não caminhar mais na Ordem.
Maçonaria filosófica – compreende
dos graus 4 ao 33 e complementa (de certa forma) a história maçônica, remetendo
as passagens do Antigo Testamento bíblico.
Eu tracei meu caminho normalmente
pelos três primeiros graus, ou seja, através da maçonaria simbólica.
Logicamente em minha busca pelo
conhecimento, segui pelos graus filosóficos, chegando ao grau 18 (Cavaleiro
Rosa Cruz), mas logo tive minhas decepções.
Absolutamente TUDO o que me era
passado nesses ditos graus filosóficos já me era conhecido. Nada mais me
acrescentava. Com isso, o desejo pelo conhecimento foi arrefecido no que dizia
respeito à maçonaria.
Já era o ano de 2001 e mais uma
vez encontrava-me enfadado no que dizia respeito ao conhecimento oculto. A
única novidade em minha vida era meu casamento com Eliane, minha amada esposa e
mãe de meus dois filhos, Eduarda e Felipe. Continuava como Superintendente da
Seguradora, e agora o mais jovem e mais graduado Superintendente desse grupo.
Havia retornado ao Rio de Janeiro há três anos e a vida continuava recheada de
rituais e experiências mágicas.
A essa altura já tinha lido tudo o que valia a
pena ser lido. Já conhecia a maioria das personalidades Nacionais, e mesmo
algumas internacionais no meio ocultista. Já fazia parte de outras ordens como
a FellowShip of Isis, uma ordem Internacional de estudos que enfoca nas
deidades femininas.
Também já era o único membro
Brasileiro da Ord Brighideach, os guardiões da chama de Brigit, Deusa matriarca
da Irlanda entre os Celtas da antiguidade.
Tinha amizades com Rowan
Fairgrove e Don Frew, a primeira uma das principais sacerdotisas do Covenant of the Goddess e o último, um amigo pessoal de Gerald Gardner.
Esse conhecimento me proporcionaria a oportunidade de ser o único Brasileiro
jamais convidado a palestrar sobre bruxaria no PantheaCon, o maior encontro de
Paganismo do Mundo, realizado anualmente em San José na California. Rowan
Fairgrove e Don Frew viriam ao Brasil alguns anos depois e passaram uma semana
comigo no meu centro de estudos, o Templo de Brigith.
Não
era raro receber essas figuras internacionais, o que me validava a cada dia
como um dos únicos bruxos verdadeiros do Brasil, já que nessa época a bruxaria,
antes quase secreta, tornava-se uma moda, até com participações em novelas da
maior rede de televisão do Brasil. Uma dessas figuras foi à sacerdotisa Thorn,
herdeira de Victor Anderson, criador e dirigente da Feri wicca, uma das mais
polêmicas tradições da bruxaria.
Mas
ainda era o ano de 2001, e em seu final, motivado por problemas que minha
esposa tinha com a Seguradora para quais ambos trabalhávamos, comecei uma nova
empreitada comercial, saindo da seguradora e indo auxiliar minha esposa em sua
corretora de seguros.
Aquela
vida de executivo também já não me agradava mais, a única coisa que me motivava
eram as aulas de Bruxaria que dava gratuitamente aos finais de semana.
Essas
aulas começaram por ordem de Mariah. Segundo minha iniciadora era hora de
divulgar e de fazer crescer a tradição no Brasil. Não adiantaria nada ser uma
tradição de um só homem. Eu aproveitava a estrutura gigantesca da corretora,
com seus mais de 400m2, salas de aula e conforto.
Por
ordem de Mariah, criei na internet uma lista de discussões chamada “Diário de
um Bruxo”, lista essa que foi um diferencial no paganismo nacional na época.
Eram milhares de pessoas discutindo assuntos relacionados ao ocultismo e
verdadeiras aulas de conhecimento oculto com planejamento e estratégias
definidas. Depois de um tempo, o primeiro grupo de Estudos começaria a
funcionar aos sábados e domingos aqui na Ilha do Governador.
É
importante ressaltar que Eliane era católica na época, e como mulher de opinião
e atitude, jamais se interessou em ocupar posição junto ao meu sacerdócio, ou
em converter-se a bruxaria. Respeitava minhas escolhas e apoiava, mas tinha
suas próprias crenças. Infelizmente essas crenças não resistiriam por muito
tempo mais.
Como
eu disse apenas as aulas de bruxaria me motivavam. O primeiro grupo era
interessado e éramos em 15 pessoas. Fizemos os primeiros rituais nas praias do
Recreio dos Bandeirantes e o grupo foi crescendo e batizado como “Água da Lua”.
Por
razões comerciais e de estratégia, eu e Eliane resolvemos nos focar
comercialmente apenas em empresas, abandonar o trabalho com pessoa física. Com
isso, nos mudamos para duas salas num shopping, o que fez com que os cursos
dessem uma paralisada. O grupo em desespero resolveu alugar uma sala para a
continuidade do desenvolvimento na bruxaria, mas queriam que eu fosse o
responsável por esse aluguel. Eu sentia que tinha de ser algo maior, um
pensamento me levava a querer algo grande... e assim surgiu o Templo de
Brigith.
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