domingo, 15 de maio de 2016

Capítulo XVII A casa dos Bruxos e Capítulo XVIII Espíritos e Crowley



 

Capítulo XVII
A casa dos Bruxos


Início de 2002 encontrei um sobrado em Botafogo. Um segundo andar com área livre, que eu poderia construir como desejava. Assim nasceu o primeiro Templo de Brigith. Localizado no sobrado verde da Rua Conde de Irajá.

Frente do Templo de Brigith

O sucesso foi imediato. Oferecíamos o que ninguém nunca tinha oferecido. A possibilidade REAL de contato com a bruxaria e com o ocultismo. Tínhamos uma loja com produtos que ninguém tinha.
Mariah me ajudava. Enviava publicações, filmes e produtos que ninguém no Brasil sequer conhecia. Tínhamos raiz de Mandrágora verdadeira, pingentes importados, athames (adagas) feitos ritualisticamente.

Os cursos eram diversos, tendo como carro chefe o de bruxaria que eu ministrava em vários dias e
Vitrine Livraria Siciliano
vários horários. A grande promessa era de que os membros do curso seriam convidados para participarem de nossas oito festas anuais e teriam contato efetivo com a energia da bruxaria. Depois, o praticante poderia escolher a grade para a continuidade de seu desenvolvimento, que passava por Tarot, Cristais, Ervas, Radiestesia, Defesa Psíquica, Magia Elemental, e tantas outras práticas ligadas ao ocultismo. Chegamos a ter em nossa grade mais de 20 cursos funcionando simultaneamente, inclusive os de mitologia, que eram ministrados por professores pós-graduados e autores de livros de história. Eu não estava para brincadeiras. Se minha missão era de apresentar o ocultismo, que fosse de forma séria e profissional!

Logo as mazelas de uma espiritualidade desequilibrada e de “adeptos” cheios de ego, rancor e ciúmes destruiu o primeiro grupo do Água da Lua. Aqueles mesmos que começaram na corretora da Ilha do Governador se achavam prontos, se achavam soberanos e desprezavam os novos membros. O mais engraçado é que assim foi pelos outros doze anos... sempre um grupo sobrepondo-se ao outro. Os que eram oprimidos passando a oprimir os que vinham abaixo. Um ciclo de repetições.

Capa de meu Primeiro Livro
Ficamos por dois anos na Rua Conde de Irajá, quando o templo ficou pequeno. Precisávamos de mais espaço. A essa altura tínhamos cursos de Dança do Ventre, Aikido, outras danças e artesanato pagão.
Foi nessa época que lancei meu primeiro Livro, também uma direção recebida de Mariah:

“Wicca, a Bruxaria Saindo das Sombras” e o sucesso foi imediato. O Lançamento aconteceu na Livraria Siciliano no Barra Shopping e na época foi um sucesso de Vendas.

Fui à busca de novo endereço. Encontrei o local perfeito! Um casarão na Rua Real Grandeza com três andares e ampla área. Foi nesse ano de 2004 que nos mudamos para o que seria definitivamente o Maior Centro de Estudos de Ocultismo do Brasil.

O espaço era tanto que propusemos a uma aluna que nos fornecia artigos de prata importados que fizesse seu atelier chamado ARGENTUM na estrutura, e propusemos a criação de um restaurante temático a sacerdotisa que trabalhava comigo, que, aliás, foi minha primeira iniciada. Talvez numa nova obra eu escreva sobre aqueles que iniciei e toda a minha decepção com os mesmo... mas não é a intenção do atual livro.

Evidentemente que na última hora acabei assumindo a responsabilidade de toda a estrutura, e com isso também nasceu a Taberna Greenman, nosso restaurante temático, com pratos inspirados no Paganismo Irlandês.


Um pouco antes da mudança para o novo Templo de Brigith, dois acontecimentos viriam a marcar minha vida: Eliane começaria a trabalhar com os Espíritos e eu viria a conhecer meu instrutor na ASTRVM ARGENTVM de Aleister Crowley.
Lançamento de meu Livro na Bienal Rio Centro

Lançamento e autógrafos Livro Wicca a Bruxaria Saindo das Sombras
Gravação do DVD Wicca a Religião das Bruxas








Capítulo XVIII
Espíritos e Crowley

  
Quando percebemos que a casa da Rua Conde de Irajá estava pequena, fui apresentado pelo amigo ocultista C.R, aquele que viria a ser meu instrutor na filosofia thelêmica de Aleister Crowley, a besta do Apocalipse, o Pior homem do Mundo.

Aleister Crowley
Frater QVIF 196 era um policial Civil com um conhecimento excepcional sobre absolutamente TUDO. Falava línguas, era egiptólogo, um dos mais graduados estudantes da filosofia thelêmica no País, tinha tido contato direto com Marcelo Ramos Motta (Frater T.) e Euclides Lacerda (Frater Thor), maiores autoridades em Thelema no Brasil. Frater QVIF ainda era um Bispo Gnóstico, Maçom e membro de outras ordens, as quais nunca tinha tido contato direto. Era tudo o que eu queria para reavivar minha sede de conhecimento.

Imediatamente, graças aos gostos em comum, formou-se uma grande e verdadeira amizade e através de Frater QVIF comecei a conhecer Aleister Crowley e sua filosofia.
Mas quem foi Aleister Crowley?
Aleister Crowley foi sem sombra de dúvida o maior mago do século XX. Suas explorações no campo das drogas e do sexo são enfatizadas em demasia por quase todas as pessoas que se põe a falar sobre ele. Essa sua faceta poderia ser explicada (talvez até possa ser justificada) como uma fuga genial da pútrida sociedade ultra puritana em que foi criado. 
O protestantismo vitoriano foi uma das manifestações mais repressoras de que já se teve notícia e Crowley, juntamente com alguns artistas de vanguarda de sua época teve a ousadia de se colocar contra todo esse sistema de valores e criar um sistema próprio, que por pior que fosse era melhor do que o sistema estabelecido. 
Aleister Crowley
A mente de Crowley, um misto de Nietzsche e Rabelais, com uma estética egípcia e um negro senso de humor, era de certa forma, inescrutável. Apesar de freudianamente seus complexos serem óbvios, lendo Crowley nunca se tem certeza do que ele realmente quis dizer. Ele brincava com o leitor, geralmente o superestimando (principalmente nos primeiros livros, cheios de referências obscuras imprescindíveis para a compreensão da obra). Apesar disto escreveu excelentes poesias, mas que de forma alguma superaram o interesse do mundo na história de sua vida, atribulada, trágica e cheia de aventuras como foi, por si só uma obra de arte. 
Crowley nasceu em 1875, filho de um pastor de uma seita fundamentalista protestante, que também era dono de uma fábrica de cerveja. Seu pai morreu cedo, deixando boas lembranças no menino, mas sua mãe, segundo ele, era uma "estúpida criatura", e as brigas da adolescência logo fizeram com que sua mãe o chamasse de "Besta", apelido que adotou posteriormente e que lhe trouxe boa parte da fama. 
Na escola se mostrou brilhante e obediente, até que foi culpado injustamente de um pequeno delito e foi posto de castigo, a pão e água, o que piorou sua já fraca saúde (tempos depois lhe receitariam heroína para a asma, substância que usou até os setenta e dois anos de idade, quando morreu de parada cardíaca). Crowley nunca se esqueceu desse tratamento, e desde menino começou a achar que havia algo de errado com o "senso comum" da época. Decidiu ser um homem santo, e cometer o maior pecado, como em uma lenda dos Plymouth Brothers (culto de seu pai) que afirmava que o maior santo cometeria o maior pecado. 
Na Universidade Crowley finalmente se encontrou. Com muito dinheiro (da herança de seu pai) e livre da
Crowley Na Golden Down
repressão da família, exerceu todas as atividades pelas quais ficou conhecido: alpinismo, poesia, enxadrismo, sexo e magia, e, dizem, foi excepcional em cada uma delas. Crowley travou contato com a Golden Dawn, uma ordem pseudo-maçonica de prática ritualística e iniciatória que esteve em seu auge no fim do século passado, quando Crowley a frequentou. Subiu rapidamente pelos graus da ordem, mas foi barrado por um grupo de pessoas que chegaram a afirmar que a "ordem não era um reformatório". Crowley era desconsiderado pelos intelectuais e desprezado pela burguesia, fato que o pode ter levado a suas inúmeras viagens e expedições de alpinismo. 
Crowley pode parecer extremamente arrogante e narcisista em seus escritos, mas isso não parece ser verdade, se examinamos sua vida a fundo. Ele sempre buscou o reconhecimento e aprovação das pessoas, e quando notou que isso não era possível, mantendo sua crítica atroz aos absurdos do puritanismo inglês, ele resolveu aparecer fazendo escândalos, reais ou falsificados, ao estilo do estereótipo "falem mal, mas falem". Mesmo assim em sua autobiografia ("Confessions of Aleister Crowley") ele se mostrou extremamente magoado quando a imprensa marrom inglesa (conhecidíssima até hoje e abominada pela família real inglesa) inventava alguma coisa absurda e terrível ao seu respeito, como em uma ocasião em que o acusaram de comer carne humana na expedição ao monte K2. 
Crowley mais Idoso
A Golden Dawn recusou iniciação a Crowley, mas seu chefe, McGreggor Mathers não. Talvez interessado no dinheiro do jovem Aleister Crowley ele o iniciou, e logo se tornou um mestre para Crowley. 
Seus trabalhos mágicos e estudos místicos o levaram as mais diversas partes do mundo, experimentando com todas as formas de catarse e intoxicação, que considerava como bases da religião. Mas pouco a pouco se distanciava de Mathers, que a essa altura já havia se proclamado em contato direto com os "mestres" que regem a terra, e com isso seu autoritarismo se tornou insuportável. Crowley foi o único a defendê-lo até o final, quando percebeu que tudo não passava de uma farsa. 
A crença de que existe um grupo de iniciados secretos que carregam o conhecimento humano e são os verdadeiros "chefes" da terra é compartilhada no sentido estritamente literal por muitas pessoas e seitas. Crowley aceitou essa ideia de uma forma ou de outra até o fim da vida, mas empregou diversas interpretações para estas entidades, algumas baseadas na psicologia (recém-estabelecida como uma ciência por Freud, na mesma época). 
Mas, desiludido com a Golden Dawn, passou alguns meses afastado da magia, e pouco a pouco se reaproximou, trabalhando sozinho. 
Marcelo Ramos Motta
Então numa viagem ao Cairo em 1904, recém-casado, sua esposa começou a falar algumas coisas estranhas das quais ela não poderia ter conhecimento. Ela o mandou invocar o deus Hórus. 
Dessa invocação surgiu um texto pequeno, de três capítulos, intenso e esquisito, ditado por um dos "ministros" da forma de Hórus conhecida por "Hoor-Paar-Kraat", Harpócrates, Hórus, a criança. Aiwass era o nome dessa entidade, depois reconhecida como o Sagrado Anjo Guardião do próprio Crowley. Com isso três coisas estão subentendidas: Aiwass era um dos "mestres" que regiam o presente Éon, dedicado ao Deus Hórus, seu mentor; era também uma entidade não totalmente separada de Crowley, embora devesse ser tratado como tal, alguns poderiam dizer que ele era o self junguiano de Crowley (mesmo ele reconheceu isso), outros, maldosamente, que era sua Sombra (termo que em psicologia junguiana designa a parte de nós que reprimimos e que contém aquilo que temos medo de admitir); Crowley demorou cerca de cinco anos para acatar o que o texto dizia. Uma das profecias previa a morte de seu filho, que acabou por morrer mesmo, de doença desconhecida. 
Quando finalmente aceitou o Livro da Lei estava em contato com um corpo germânico de iniciados, que em outro livro dele ("The Book of Lies") encontraram um segredo de magia sexual que pensavam ter o monopólio no ocidente. Nem Crowley havia entendido o que tinha escrito, mas aceitou mesmo assim uma alta posição hierárquica na Ordem. Era a Ordo Templi Orientis, que até hoje detém os direitos sobre os textos de Crowley posteriores a 1910. 
A O.T.O. existe até hoje (ou melhor, existem, visto que houve cisões e brigas e etc, que somando com os charlatães, devem somar mais de 30 O.T. Os., por alto. A maioria clama legitimidade.) 
Crowley perdeu muito dinheiro publicando seus próprios livros e os vendendo a preço de banana. E a incompetência de um tesoureiro da O.T.O., que perdeu um galpão cheio de livros num lance mal entendido até hoje, acabou causando sua bancarrota final. 

Além da O.T.O. que tinha bases maçônicas, Crowley criou um corpo próprio, designado como A.:.A.:.., esse
Euclydes Lacerda - Frater Thor
corpo, muito mais velado, deveria servir como que "escola de treinamento" para os possíveis "mestres" da humanidade. 


Crowley sobreviveu de doações e venda de livros até o fim da vida. E morreu em relativa miséria, ainda viciado em heroína, pouco tempo depois de terminar seu último trabalho, um livro sobre o Tarô que Lady Frieda Harris havia pintado com suas indicações. Um baralho magnífico.
Para mim, que estudava o ocultismo por toda uma vida, encontrar um novo manancial como a filosofia e ordens de Crowley, era tudo o que se desejava.
Imediatamente comecei a estudar a fundo Thelema. Sob a supervisão de Frater QVIF, adentrei a ASTRVM ARGENTVM, braço filosófico de Crowley, e em pouco tempo galguei alguns degraus dessa ordem.
Graças a minha amizade e dedicação a Frater QVIF, comecei a receber do mesmo as instruções especiais, assim como cópias de toda a documentação referente à história de Thelema no Brasil. Assim, passei a ser o 5º na linhagem que derivava de Marcelo Ramos Motta no Brasil, sendo ela a seguinte: Aleister Crowley, Marcelo Motta, Euclydes Lacerda, Frater QVIF e eu.
Adotamos no novo Templo de Brigith os cursos de Tarot de Thot, Magia Thelêmica Kabbalah e tantos outros que tinham referência a Crowley. Eu mesmo, nesse momento, comecei a traçar paralelos entre os trabalhos de Aleister Crowley e Gerald Gardner.
Mas nem tudo eram flores nessa época. Foi nesse período em que Eliane, profundamente envolvida com o Ciganismo (era uma aficionada pelo Baralho Cigano e pela cultura daquele Povo), após traçar sua ancestralidade e descobrir que tinha origens nesse povo, abandonou definitivamente o catolicismo e me fez um pedido: Queria tornar-se uma médium!
Até hoje me arrependo de ter aceitado seu pedido...

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