quarta-feira, 15 de junho de 2016

Capítulo XXI A derrocada continua e Capítulo XXII Fim de um ciclo





Capítulo XXI
A derrocada continua

  
No início de 2010 recebi um convite de um Deputado Estadual para compor sua equipe e trabalhar na Comissão de Defesa do Meio Ambiente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Lutando contra o tráfico de Animais

Fiquei nessa comissão por mais de dois anos. Nesse período tive a oportunidade de trabalhar defendendo algo que sempre gostei. Animais e o meio ambiente.

Foram mais de três mil animais salvos de situação de tráfico e maus tratos. Graças a esse trabalho, mais tarde eu receberia dois prêmios importantes: O Platinum 1000 por mais de mil mergulhos fotografando e filmando o fundo do mar, na intenção de preservar e defender o ambiente marinho e a Medalha São Francisco de Assis do 3º Milenio da Câmara dos Vereadores do RJ.

Prêmio Internacional Platinum 1000
É claro que esse trabalho não me trouxe apenas felicidade. Eram dezenas de ameaças de morte, carros estranhos na porta de minha casa, ao ponto de chamar a Polícia Militar várias vezes para averiguar... afinal, tinham sido mais de 100 traficantes de animais presos, Rodeios de Cervejarias impedidos, Mercadão de Madureira fechado e grandes empresas processadas.

Em agosto de 2010, apenas um mês depois de minha experiência nas portas do Inferno, sofri o 2º baque, que me levaria a começar um processo de descrédito em tudo o que professava.

Na sexta-feira, dois dias antes do Dia dos Pais, finalmente fiz o lançamento de meu DVD “A Religião das Bruxas” com uma grande festa no Templo de Brigith. Era um sonho realizado.

Agora poderia levar os ensinamentos à distância, não ficaria mais restrito ao contato pessoal ou por livros com as pessoas que tinham sede de conhecer a bruxaria. É claro que a recente experiência com o Inferno não saia de minha mente e que a dúvida já se fazia presente, mas o projeto do DVD tinha começado muito tempo antes, e sempre gostei de finalizar meus projetos.

Imagem do meu restaurante TABERNA GREENMAN
No dia seguinte sábado, véspera do Dia dos Pais, retornando para casa após o dia de trabalho no Templo, recebi o telefonema de minha filha. Ela em casa me pedia para comprar um sanduíche de uma famosa rede de fast food que ela gostava muito. Nessa época estava num processo, tentando parar de fumar, único vício que eu tinha desde os 13 anos de idade. Pedi a minha esposa que comprasse o sanduíche enquanto nosso motorista me levaria à farmácia do outro lado da rua, para comprar uma daquelas gomas de mascar com nicotina, que auxiliam no processo do abandono do vício. Hoje sei que o vício também é um demônio e que livrar-se dele é uma tarefa muito mais espiritual que física.

Nosso motorista me deixou na porta da farmácia e partiu para buscar minha esposa. Eu deveria me encontrar com eles no estacionamento do fast food. Comprei minha goma de mascar e comecei a atravessar a rua.

Para quem conhece a Estrada do Galeão na Ilha do Governador, sabe que são três pistas, em alguns
Autografando meu DVD sobre Bruxaria
locais chegando a quatro. Eu observei e o sinal estava devidamente fechado, inclusive tinha daqueles marcadores que mostram o tempo de forma decrescente até que o sinal volte a ficar verde para os veículos. Comecei minha travessia tranquilamente e, quando já estava bem próximo da calçada, escutei um cantar de pneus e ao me virar, vi o veículo vindo em minha direção.

Dizem que sua vida passa diante de seus olhos quando se está próximo da morte... comigo não foi assim, mas tenho a certeza de que o tempo parou naquele momento, com o carro a apenas poucos metros de me atropelar. Recordo-me perfeitamente da seguinte frase que passou pela minha mente naquele momento em que o tempo simplesmente parou:

- Vou Morrer! Não, não vou morrer, tenho dois filhos e amanhã é dia dos Pais. Não aceito minha morte agora! – na época tinha apenas meus filhos Thiago de dezessete anos e Eduarda de nove.

Graças ao condicionamento de uma vida de treino em artes marciais (fiz jiu-jitsu desde os quatro
anos de idade, passei pelo Box Tailandês e já adulto cheguei à instrução de Aikido) fui capaz de saltar por cima do capo do veículo, que me atingiu na perna esquerda, na altura do joelho.

Rodei por cima do capo do carro e cai de pé, mas por razões ainda desconhecidas naquele momento, não consegui me manter de pé e fui ao chão.

O veículo evadiu-se do local sem sequer diminuir a velocidade e logo uma multidão se formou a minha volta.

Eu dizia às pessoas que estava bem, mas tentava me levantar e não conseguia. Procurei sangue e não vi. Vasculhei meu corpo da cintura para cima, em busca de qualquer sinal de ferimentos e não encontrei nada.

Em minha mente, bastava me levantar e seguir com a vida, e assim tentei, quando senti uma dor lancinante na perna esquerda, no pé e não consegui me levantar. Apoiado no meio fio pedia que alguém fosse avisar a minha esposa, que se encontrava a menos de 10 metros, dentro da lanchonete. Nosso motorista me encontrou e foi chamar Eliane.

Capa do meu DVD sobre Bruxaria
Em menos de dez minutos chegava uma ambulância juntamente com a polícia que, obviamente não conseguiu encontrar meu atropelador.

Mais tarde, já no hospital, soube que havia fraturado o platô do joelho, a fíbula e a tíbia, além de destruir meu calcanhar ao cair de pé, graças ao impacto com o solo. Isso me presenteou com duas placas e cinco parafusos na perna esquerda.

Eliane foi perfeita nessa época. Cuidava de mim em casa, fazia massagens e se compadecia das dores
indescritíveis que sentia quando tinha de fazer a fisioterapia. Foram três meses de sofrimento, tendo de olhar as pessoas de baixo para cima, sem sair de casa, sem andar... E Eliane, além de cuidar de mim, intensificou seu trabalho no Templo de Brigith, afinal, vivíamos dos atendimentos e cursos, e comigo impossibilitado cabia a ela nosso sustento. Foi nessa época que decidimos fechar definitivamente a Taberna Greenman, nosso restaurante, visto que seria impossível a administração de todas as funções pela Eliane.

Uma coisa não saia de minha cabeça... eu era um protegido dos Deuses. Fazia dezenas de rituais de proteção. Jamais tinha quebrado qualquer osso de meu corpo. E por que isso tinha acontecido comigo, apenas um dia depois do lançamento de meu DVD? Onde estavam meus Deuses?

E intensificando seu contato com as Entidades foi que, exatamente por minha esposa, o segundo baque veio.

Certa noite, ao chegar a casa, Eliane estava branca como cera. Seu rosto mostrava uma preocupação gigantesca. Ao perguntar o que havia acontecido, recebi a seguinte resposta:

- A Padilha veio e disse a todos que estavam sendo atendidos que ELA é que tinha provocado seu acidente. E que agora você aprenderia a respeitá-la!

Naquele momento, em minha mente só passou um questionamento...

Por que meus Deuses tinham permitido?


Com meus filhos recebendo Medalha

Ao receber a Medalha S.Francisco de Assis na Câmara dos Vereadores do RJ

Mergulho, uma paixão

Combatendo os crimes Ambientais




Capítulo XXII
Fim de um ciclo 

  


Foram mais de três meses de cama. Sentia-me um inútil e me questionava profundamente sobre os acontecimentos.

Se o fato de ter estado às portas do Inferno já tinha sido uma experiência que colocaria em cheque tudo em que eu cria, sofrer um acidente, mesmo com todos os rituais de proteção, com todas as cerimônias e sacrifícios feitos para resguardar minha segurança, detonou um processo de dúvida e descrença violento.

Que fique claro que os sacrifícios da bruxaria se remetem às práticas ancestrais de entregar o melhor para os Deuses. E se fixam em sacrificar ervas, grãos, vinho, cerveja, flores e plantas que tenham referência ao período específico do ano, assim como ao Deus escolhido. Dentro desses Deuses, encontram-se aqueles a quem ninguém mais cultua nos dias atuais. Bons exemplos seriam os Deuses egípcios como Rá, Anúbis, Osíris... ou ainda os celtas como Cernnunos, Brigit e Macha. Na bruxaria são terminantemente proibidos os sacrifícios de animais.

Eu sabia que essas entidades, esses demônios eram sorrateiros. Já os combatia há muitos anos, e meu ódio por eles era gigantesco. Em certa oportunidade, ao expulsar uma pomba-gira, perguntei:
- Como você faz para atingir uma pessoa como eu, que se protege, que vive pela magia e que faz rituais de proteção? – Perguntei

- Isso é muito fácil. Para te atingir não preciso fazer nada diretamente contra você. Você tem esposa, tem filhos, tem mãe. – ela respondeu gargalhando.

Mas agora a situação era diferente. Eles tinham me atingido diretamente. Onde estariam os Deuses a quem honrei por tantos anos?

Depois desse tempo em casa, aos poucos fui retornando as atividades normais, tanto na ALERJ quanto no Templo de Brigith.

Inicialmente dando um curso, um workshop. Fazendo um atendimento por dia, ou seja, voltando à rotina. Mas algo tinha mudado. Agora eu tinha um sentimento que não sabia definir.

Quando digo que não podia definir, por incrível que possa parecer ao leitor, realmente era indefinível. Era uma espécie de medo, mas eu nunca sentira medo. Era um misto de dúvida, incompreensão e incerteza. Não sei até hoje se poderia chamar de medo, uma vez que meu ódio por essas entidades, esses demônios fantasiados de espíritos só crescia.

O acidente havia me deixado com sequelas, que permanecem até hoje. Por não ter podido operar o calcanhar que havia sido completamente destruído, até os dias de hoje ainda sinto dores e a mobilidade de meu pé esquerdo ficou comprometida.

O ano de 2011 chegara e fosse pelas dúvidas em relação as minhas crenças, fosse pelo meu amor pelos animais, voltei minhas baterias para meu trabalho na ALERJ. Vieram as tragédias na região Serrana e, a Comissão de Defesa do Meio Ambiente foi a única entidade pública a se preocupar com os animais durante as enchentes e desabamentos. Era muito trabalho e de certa forma, comecei a abandonar mais e mais minhas atividades no Templo, deixando as responsabilidades nas mãos de Eliane.

No final desse ano, por razões legais, decidimos mudar o Templo de Brigith. Primeiro já tínhamos fechado o restaurante e estávamos com uma estrutura gigantesca nas mãos. A casa, muito antiga, começava a dar sinais de desgaste, mesmo com a fortuna que havíamos gasto para reforma-la alguns anos atrás e mais uma vez, o ego e o orgulho do grupo que formava o Água da Lua desagregou os praticantes.

Não fosse o bastante os motivos comentados, Eliane minha esposa, assumiu o trabalho de 39 anos de uma ONG que era de sua tia falecida, trabalho esse que possibilitava que mais de duzentas crianças carentes das comunidades do Dendê e Guarabú na Ilha do Governador pudessem ter pré-escola e alimentação de qualidade.

Assim, ao final de 2011 fechamos as portas do Templo de Brigith e comecei a buscar, sem muito afinco, um novo local.

Encontrei uma loja num shopping da Barra da Tijuca. Era uma boa loja, com jirau que me possibilitaria dividir entre a loja, uma sala de atendimento e uma sala de cursos bem montada. E assim aluguei no início de 2012 essa loja.

Como comentei, minha crença estava enfraquecida, Eliane trabalhando com as crianças carentes e lutando contra todas as forças que, no Brasil, desejam tirar vantagem de trabalhos ligados a área social... e acreditem, a corrupção e a ganancia são capazes de até matar, mas Eliane sempre foi uma guerreira e enfrentou tudo de frente.

Por razão das eleições, de minha crença fraca naquele momento e das atribuições de Eliane, a nova loja ficou fechada até Janeiro de 2013. Foram doze meses de aluguel, sem sequer irmos à loja. Sem que as obras fossem finalizadas.

Eliane prosseguia com sua luta contra todas as forças corruptas que de todas as formas tentavam desestruturá-la e eu tentava ajudar da melhor forma possível. Nessa época, pelo afastamento do Templo e por suas novas atribuições, eu via Eliane abandonar gradativamente seu pacto com aquela entidade nefasta que havia me afrontado diretamente. Enquanto isso, eu montava, sem qualquer recurso minha campanha política.

Não investi na campanha. Primeiramente, pois não estava disposto a delapidar o patrimônio que tinha construído em campanhas. Só faz isso quem tem acordos escusos que são verdadeiros pactos com o diabo com empresas que, depois de eleito cobrarão sua alma, ou políticos que sabem que de forma corrupta recuperarão seus “investimentos” depois de eleitos. Como eu não era nem corrupto e nem estava disposto a vender minha alma, minha campanha se restringia praticamente a internet.
Evidentemente que, defendendo o meio ambiente, animais, crianças e idosos (exatamente quem não vota) e sem recursos de campanha, eu não fui eleito. Mas o resultado foi muito bom, e a experiência melhor ainda. Mas agora era hora de voltar a trabalhar e a repor o patrimônio que havia gasto com a creche (uma vez que os recursos de convênio, nem de perto cobriam os gastos) e com a sobrevivência da família.

Era hora do Templo de Brigith renascer...

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Capítulo XIX O início do fim e Capítulo XX Eu estive nas portas do Inferno



Capítulo XIX
O início do fim


O Templo de Brigith era um sucesso. Além dos cursos, workshops, de ter um restaurante temático Irlandês em seu interior, ainda promovia atendimentos diversos. Tínhamos a equipe mais conceituada do Brasil de Tarólogos, runólogos, atendentes de baralho cigano, astrólogos... enfim, todas as práticas divinatórias.

De minha parte, atendia em média de cinco a seis clientes por dia, com um preço de atendimento que poderíamos dizer ser alto para os padrões do meio esotérico.  Minha esposa atendia com baralho cigano, fazia trabalhos de magia e ministrava cursos de baralho cigano, cultura cigana e dava aulas de dança do ventre.

Apenas alguns meses antes, Eliane tinha me feito um pedido estranho. Ela queria ser médium. Naquela altura ela já sentia a “entidade” colada em seu corpo. Ela tinha sonhos regularmente com essa entidade, mas não era o bastante.

Dentro de meus conhecimentos da anatomia oculta do ser, sabia como abrir essa sensibilidade, esse portal de comunicação com os espíritos. Mas algo me incomodava naquele pedido. Afinal, eu tinha me especializado no que chamamos nas igrejas de “libertação” e que chamamos no ocultismo de exorcismo.

Na minha experiência de quase vinte anos nessa época, sabia que quase toda a magia feita no nosso país era de origem afro-brasileira. Incomodava-me o fato de permitir que minha esposa, a mulher que amava fosse possuída por uma dessas entidades as quais eu já combatia e expulsava há tempos.

A insistência foi grande, e resolvi aceitar o pedido. Numa tarde naquela mesma semana eu abri a coroa de minha esposa, e ela imediatamente começou a receber uma entidade feminina cigana. Com o tempo, ela viria a manifestar uma pomba-gira, que viria a ser uma das minhas maiores inimigas, mas que seria também a responsável direta pela minha decisão de conversão.

Os anos se passavam e o Templo crescia. Como eu disse antes, grupos se formavam e se desfaziam por ego e orgulho. Já naquela época eu deveria ter percebido que a bruxaria nada tinha de agregadora, muito pelo contrário.

O ano era de 2005, aquele mesmo amigo C.R que havia me apresentado a Frater QVIF certo dia me procurou com uma grande novidade.

O Real Arco Maçônico, uma tradição maçônica que evocava ser o verdadeiro rito de York, teria chegado ao Brasil. E ele já estava envolvido para se tornar também um membro e me convidou.

Evidentemente que seria mais uma oportunidade para conhecimento, e eu aceitei.

Eu havia abandonado os graus filosóficos da maçonaria Adonhiramita por não apresentarem maiores
conhecimentos e desafios, mas o Real Arco se propunha a ser algo novo. Enquanto a maçonaria tradicional tratava da construção do Templo de Salomão, o Real Arco deveria remeter seus conhecimentos inicialmente ao período após o Templo pronto e nos graus crípticos a história que antecedia essa construção. Além disso, segundo explicações do próprio rito, seria um dos mais simbólicos, com o encontro da Arca Sagrada e a revelação do verdadeiro nome de Deus.

Era uma nova proposta, novos conhecimentos e eu me animei. Evidentemente que muito dos ensinamentos eram profundamente ligados ao judaísmo, mas pouco me importava. O que eu queria era conhecimento.

Por ser novo, o real Arco precisava de bons membros e, tanto eu quanto C.R fomos escolhidos para compor o capítulo (nesse rito as antigas “lojas” eram chamadas assim) número 1, o capítulo chamava-se J.G.G.

Como comentei anteriormente, como tudo na minha vida no ocultismo, o Real Arco não foi diferente. Devido aos meus conhecimentos no ocultismo, algo que apenas havia acontecido com D. Pedro I também veio a acontecer comigo.

Em meu primeiro contato iniciático com o Rito de York, recebi os três primeiros graus numa sexta feira, no dia seguinte, um sábado, recebi o último grau que completavam os Graus Capitulares. Em menos de 24 horas fui de um nada a Maçom do Real Arco, passando pelos graus de Mestre de Marca, Past Master, Mui Excelente Mestre e chegando a Maçom do Real Arco. E não parou ai...

Na semana seguinte fui promovido em todos os graus Crípticos que passavam de Mestre Real, Mestre Escolhido até Super Excelente Mestre. Fazendo uma analogia a maçonaria tradicional, em apenas uma semana seria como ir do grau 4 da maçonaria tradicional ao grau 26 da mesma.

Durante minha elevação a Super Excelente Mestre, também recebi a comenda especial da Ordem da Trolha de Prata, essa honraria é conferida ao Maçom por seus relevantes serviços à Ordem. Não por acaso, meus “irmãos” chamavam-me de D.Pedro.

A fama me buscava. Eram dezenas de reportagens de jornais, televisão, sempre que precisavam de alguém para falar de bruxaria ou de magia e ocultismo vinham a mim. A essa altura já haviam passado milhares de alunos pelos cursos do Templo de Brigith. Eu já havia cuidado de todo tipo de possessão, curava pessoas (nunca cobrei para curar, ou seja, para a área de saúde) e era visto como referência no meio. Fui o único bruxo nacional a dar uma entrevista especial para a Revista de História da Biblioteca Nacional.

Em 2006 lancei diretamente na Bienal de São Paulo, meu segundo Livro: Defesa Psíquica e Espiritual, a Arte de combater o Invisível.

Nesse livro eu passava conhecimentos sobre minhas práticas de exorcismo e como combater as incidências do Mal. Nessa época eu ainda acreditava que espíritos de desencarnados (mortos) pudessem continuar vagando pelo mundo dos vivos. Hoje sei que só existem dois caminhos: O Céu ou o Inferno. Esses tais “espíritos” nada mais são que demônios, anjos decaidos que se aproveitam das imagens desses seres que já viveram para atormentar e roubar almas.

Nada parecia poder ir mal na minha vida. Eu era realizado em todas as áreas, mas no fundo, bem no fundo, uma angustia não me abandonava. Algo faltava dentro de mim e, mesmo com toda a fama, perdia dia a dia o ânimo para o trabalho.

Muitas histórias aconteceram ao longo dos anos, histórias que ilustram perfeitamente meu trabalho, os “milagres” que acreditava fazer, as milhares de pessoas que acreditei ter libertado, quando na verdade eu apenas “desocupava” aquele ser humano, para que outros demônios pudessem atuar em suas vidas. Na época nada disso me era conhecido, afinal como eu sempre repetia: Atendia em média cinco a seis pessoas diariamente e nesses tantos anos de trabalho com um lugar estabelecido, ninguém havia voltado para reclamar, muito pelo contrário.

Eliane começava a aumentar a frequência de seu trabalho. Já não havia dia ou lugar para que ela manifestasse suas entidades. E eu sempre incomodado. Como eu podia combater essas entidades diariamente e minha própria esposa as manifestar e eu achar isso normal?
No ano de 2010, aconteceu o início do fim...
Capa de meu 2º Livro

Autografando na Bienal do Livro de SP, onde meu 2º Livro foi oficialmente Lançado


  


Capítulo XX
Eu estive nas portas do Inferno

  
Em 2010 eu já tinha iniciado cinco pessoas. Os Sabbaths eram realizados na minha residência e eram sempre festas muito concorridas.

Um pedido frequente de meus alunos era sobre um curso de “projeção Astral” que, para ilustrar, é a arte de fazer com que o corpo energético saia do corpo físico durante o sono, e possa passear, ir onde desejar, voar, voltar ao passado, ir ao futuro... ou seja, poderes ilimitados durante o sono.

Quero que o leitor compreenda que essa obra não se propõe a ser um manual de bruxaria, ou um grimório de feitiços. Que teria muitas histórias mirabolantes para contar, mas o objetivo desse livro está muito bem explícito em sua introdução. Nossa intenção é a de resgatar almas, mostrar os enganos, desvendar o oculto. Num próximo livro contarei mais profundamente as histórias e como o demônio se utilizava de mim para promover o mal, fazendo-o se passar pelo bem.

Com os pedidos para o curso de projeção astral, resolvi ceder e ministrar esse curso. Já tinha tido algumas experiências desagradáveis, como a do curso de espelhos, onde os participantes acabavam se atacando apenas para ver se realmente o que era passado funcionava. De toda a feita, decidi ministrar esse curso.

Já fazia alguns anos desde que tinha tido minha última projeção consciente. Projeção para um ocultista experimentado é como engatinhar para um bebê, então, antes do início marcado para o curso, resolvi colocar a prática em dia. Durante uma semana fui galgando os níveis de consciência, fazendo com que meu corpo mental ficasse cada vez mais consciente durante o sono.

Numa noite dessa semana, chegando tarde em casa e muito cansado, fiz os exercícios e nem me preocupei muito com os resultados, foi então que senti aquela sensação tão conhecida.

Acordei em catalepsia do sono, ou seja, sem conseguir mover nenhum músculo, mas consciente de tudo a minha volta. Percebia Eliane dormindo ao meu lado e conseguia ver tudo, mesmo com meus olhos fechados. Se o leitor já viu em filmes ou já teve a experiência de usar um equipamento de visão noturna, onde se vê tudo com uma luminosidade esverdeada, a visão do projetado astral é bem similar.

Em minha mente veio o pensamento: Ótimo, estou projetado, vou aproveitar ao máximo.

Levantei meu corpo Astral, saindo de meu corpo físico e na minha mente, meu desejo era o de voar. Dei a volta pela minha cama, afinal, quanto mais física e real fosse a experiência, mas consciente ela seria. Saí pela porta de meu quarto para o corredor, quando algo me chamou a atenção.

No corredor agora havia uma porta, simples, idêntica às outras de minha casa, mas num local onde não existia qualquer porta no plano da realidade. Evidentemente que como um ocultista experimentado eu jamais fugiria da ideia de descobrir o que existia por trás daquela nova porta. Que plano existencial eu encontraria? Para onde me levaria?

Aproximei-me lentamente e toquei a maçaneta. Abri aquela porta e o que vi começou a mudança de minha vida.

Do outro lado da porta a escuridão era iluminada em flashes por uma luz vermelha amarelada, uma luz provocada pelo fogo. Gemidos e gritos, muito choro. Imediatamente fui invadido de uma angústia que causou uma dor física em meu peito. Aos poucos a escuridão foi se iluminando e pude ver a imagem completa daquele lugar pavoroso.

Eram milhares de pessoas em meio ao fogo. Um grande lago formado por lava tinha milhares de pessoas dentro. Seus corpos se derretiam e se refaziam imediatamente. Eu podia ver a carne derretendo e os ossos aparecendo, e logo depois a carne renascia dos corpos.

Criaturas estranhas que me recordavam a mistura de ratos ou morcegos com humanos ficavam a beira do grande lago. Quando qualquer pessoa tentava sair daquela lava incandescente, imediatamente levava um chute no rosto dado por essas criaturas.

Minha mente parecia anestesiada. Num primeiro momento não entendi absolutamente nada. Eu tinha vivido toda uma vida de negação ao conceito de Inferno, ou a qualquer conceito parecido, onde ao morrer, nossas almas teriam de sofrer. Na bruxaria aprendíamos que após a morte iríamos para Summerland (a terra do Verão), um lugar conforme o idealizado em vida. Se o praticante acreditasse que iria para uma praia, seria lá que ele passaria seu tempo até o reencarne (sim, bruxos creem na reencarnação). Para mim, aquela visão de sofrimento, aquelas criaturas disformes eram absolutamente surreais.

Não sei se emiti algum som enquanto ficava horrorizado com a visão, mas num determinado momento, todas aquelas criaturas medonhas viraram-se em minha direção, apresentaram seus dentes pontiagudos e suas línguas bifurcadas... e começaram a vir em minha direção.

O pavor tomou conta de mim, e eu simplesmente paralisei. Algumas daquelas criaturas estavam apenas a poucos metros de mim e eu não conseguia me mover. Via aquelas figuras grotescas se aproximarem e o único pensamento que passou por minha mente foi o de que eu também seria condenado a permanecer naquele lugar pavoroso.

As criaturas já estavam a poucos passos de mim, e sentia um cheiro como de pólvora queimada, muito desagradável que eu não conhecia. Hoje sei que era o cheiro do enxofre.

Quando a criatura mais próxima estendeu seus dedos magros e com garras, e eu já me dava como perdido lembro-me perfeitamente de sentir e ver duas mãos que pareciam formadas de pura luz que me seguraram pelos ombros e me puxaram para trás, fazendo com que eu atravessasse a porta, voltando ao corredor de minha casa.

A porta bateu me separando daquele lugar medonho. Eu tentei me virar para ver meu salvador, mas continuava paralisado e não consegui. Imediatamente me senti sendo puxado para meu corpo que estava deitado em minha cama, a velocidade era impressionante e ao “cair” em meu corpo, acordei com um grito.

Não entendia se meu pavor vinha das visões que duraram poucos segundo, ou do fato de ter de admitir que estivesse errado, que tudo o que ensinava sobre o pós-morte era uma mentira. Que eu não podia mais acreditar em tudo o que acreditara por tantos e tantos anos...

Agora eu sabia que tinha não só tido uma visão, mas estado pessoalmente no INFERNO!