Capítulo
XXI
A
derrocada continua
No início de 2010 recebi um
convite de um Deputado Estadual para compor sua equipe e trabalhar na Comissão
de Defesa do Meio Ambiente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Lutando contra o tráfico de Animais |
Fiquei nessa comissão por mais de
dois anos. Nesse período tive a oportunidade de trabalhar defendendo algo que
sempre gostei. Animais e o meio ambiente.
Foram mais de três mil animais
salvos de situação de tráfico e maus tratos. Graças a esse trabalho, mais tarde
eu receberia dois prêmios importantes: O Platinum 1000 por mais de mil
mergulhos fotografando e filmando o fundo do mar, na intenção de preservar e
defender o ambiente marinho e a Medalha São Francisco de Assis do 3º Milenio da
Câmara dos Vereadores do RJ.
Prêmio Internacional Platinum 1000 |
É claro que esse trabalho não me
trouxe apenas felicidade. Eram dezenas de ameaças de morte, carros estranhos na
porta de minha casa, ao ponto de chamar a Polícia Militar várias vezes para
averiguar... afinal, tinham sido mais de 100 traficantes de animais presos,
Rodeios de Cervejarias impedidos, Mercadão de Madureira fechado e grandes
empresas processadas.
Em agosto de 2010, apenas um mês
depois de minha experiência nas portas do Inferno, sofri o 2º baque, que me
levaria a começar um processo de descrédito em tudo o que professava.
Na sexta-feira, dois dias antes
do Dia dos Pais, finalmente fiz o lançamento de meu DVD “A Religião das Bruxas”
com uma grande festa no Templo de Brigith. Era um sonho realizado.
Agora poderia levar os
ensinamentos à distância, não ficaria mais restrito ao contato pessoal ou por
livros com as pessoas que tinham sede de conhecer a bruxaria. É claro que a
recente experiência com o Inferno não saia de minha mente e que a dúvida já se
fazia presente, mas o projeto do DVD tinha começado muito tempo antes, e sempre
gostei de finalizar meus projetos.
Imagem do meu restaurante TABERNA GREENMAN |
No dia seguinte sábado, véspera
do Dia dos Pais, retornando para casa após o dia de trabalho no Templo, recebi
o telefonema de minha filha. Ela em casa me pedia para comprar um sanduíche de
uma famosa rede de fast food que ela gostava muito. Nessa época estava num
processo, tentando parar de fumar, único vício que eu tinha desde os 13 anos de
idade. Pedi a minha esposa que comprasse o sanduíche enquanto nosso motorista
me levaria à farmácia do outro lado da rua, para comprar uma daquelas gomas de
mascar com nicotina, que auxiliam no processo do abandono do vício. Hoje sei
que o vício também é um demônio e que livrar-se dele é uma tarefa muito mais
espiritual que física.
Nosso motorista me deixou na
porta da farmácia e partiu para buscar minha esposa. Eu deveria me encontrar
com eles no estacionamento do fast food. Comprei minha goma de mascar e comecei
a atravessar a rua.
Para quem conhece a Estrada do
Galeão na Ilha do Governador, sabe que são três pistas, em alguns
locais chegando
a quatro. Eu observei e o sinal estava devidamente fechado, inclusive tinha
daqueles marcadores que mostram o tempo de forma decrescente até que o sinal
volte a ficar verde para os veículos. Comecei minha travessia tranquilamente e,
quando já estava bem próximo da calçada, escutei um cantar de pneus e ao me
virar, vi o veículo vindo em minha direção.
Autografando meu DVD sobre Bruxaria |
Dizem que sua vida passa diante
de seus olhos quando se está próximo da morte... comigo não foi assim, mas
tenho a certeza de que o tempo parou naquele momento, com o carro a apenas
poucos metros de me atropelar. Recordo-me perfeitamente da seguinte frase que
passou pela minha mente naquele momento em que o tempo simplesmente parou:
- Vou Morrer! Não, não vou
morrer, tenho dois filhos e amanhã é dia dos Pais. Não aceito minha morte
agora! – na época tinha apenas meus filhos Thiago de dezessete anos e Eduarda
de nove.
Graças ao condicionamento de uma
vida de treino em artes marciais (fiz jiu-jitsu desde os quatro
anos de idade,
passei pelo Box Tailandês e já adulto cheguei à instrução de Aikido) fui capaz
de saltar por cima do capo do veículo, que me atingiu na perna esquerda, na
altura do joelho.
Rodei por cima do capo do carro e
cai de pé, mas por razões ainda desconhecidas naquele momento, não consegui me
manter de pé e fui ao chão.
O veículo evadiu-se do local sem
sequer diminuir a velocidade e logo uma multidão se formou a minha volta.
Eu dizia às pessoas que estava
bem, mas tentava me levantar e não conseguia. Procurei sangue e não vi.
Vasculhei meu corpo da cintura para cima, em busca de qualquer sinal de
ferimentos e não encontrei nada.
Em minha mente, bastava me
levantar e seguir com a vida, e assim tentei, quando senti uma dor lancinante
na perna esquerda, no pé e não consegui me levantar. Apoiado no meio fio pedia
que alguém fosse avisar a minha esposa, que se encontrava a menos de 10 metros,
dentro da lanchonete. Nosso motorista me encontrou e foi chamar Eliane.
Capa do meu DVD sobre Bruxaria |
Em menos de dez minutos chegava
uma ambulância juntamente com a polícia que, obviamente não conseguiu encontrar
meu atropelador.
Mais tarde, já no hospital, soube
que havia fraturado o platô do joelho, a fíbula e a tíbia, além de destruir meu
calcanhar ao cair de pé, graças ao impacto com o solo. Isso me presenteou com
duas placas e cinco parafusos na perna esquerda.
Eliane foi perfeita nessa época.
Cuidava de mim em casa, fazia massagens e se compadecia das dores
indescritíveis que sentia quando tinha de fazer a fisioterapia. Foram três
meses de sofrimento, tendo de olhar as pessoas de baixo para cima, sem sair de
casa, sem andar... E Eliane, além de cuidar de mim, intensificou seu trabalho
no Templo de Brigith, afinal, vivíamos dos atendimentos e cursos, e comigo
impossibilitado cabia a ela nosso sustento. Foi nessa época que decidimos fechar
definitivamente a Taberna Greenman, nosso restaurante, visto que seria
impossível a administração de todas as funções pela Eliane.
Uma coisa não saia de minha
cabeça... eu era um protegido dos Deuses. Fazia dezenas de rituais de proteção.
Jamais tinha quebrado qualquer osso de meu corpo. E por que isso tinha
acontecido comigo, apenas um dia depois do lançamento de meu DVD? Onde estavam
meus Deuses?
E intensificando seu contato com
as Entidades foi que, exatamente por minha esposa, o segundo baque veio.
Certa noite, ao chegar a casa,
Eliane estava branca como cera. Seu rosto mostrava uma preocupação gigantesca.
Ao perguntar o que havia acontecido, recebi a seguinte resposta:
- A Padilha veio e disse a todos
que estavam sendo atendidos que ELA é que tinha provocado seu acidente. E que
agora você aprenderia a respeitá-la!
Naquele momento, em minha mente
só passou um questionamento...
Por que meus Deuses tinham permitido?
Com meus filhos recebendo Medalha |
Ao receber a Medalha S.Francisco de Assis na Câmara dos Vereadores do RJ |
Mergulho, uma paixão |
Combatendo os crimes Ambientais |
Capítulo
XXII
Fim
de um ciclo
Foram
mais de três meses de cama. Sentia-me um inútil e me questionava profundamente
sobre os acontecimentos.
Se
o fato de ter estado às portas do Inferno já tinha sido uma experiência que
colocaria em cheque tudo em que eu cria, sofrer um acidente, mesmo com todos os
rituais de proteção, com todas as cerimônias e sacrifícios feitos para
resguardar minha segurança, detonou um processo de dúvida e descrença violento.
Que
fique claro que os sacrifícios da bruxaria se remetem às práticas ancestrais de
entregar o melhor para os Deuses. E se fixam em sacrificar ervas, grãos, vinho,
cerveja, flores e plantas que tenham referência ao período específico do ano,
assim como ao Deus escolhido. Dentro desses Deuses, encontram-se aqueles a quem
ninguém mais cultua nos dias atuais. Bons exemplos seriam os Deuses egípcios
como Rá, Anúbis, Osíris... ou ainda os celtas como Cernnunos, Brigit e Macha.
Na bruxaria são terminantemente proibidos os sacrifícios de animais.
Eu
sabia que essas entidades, esses demônios eram sorrateiros. Já os combatia há
muitos anos, e meu ódio por eles era gigantesco. Em certa oportunidade, ao
expulsar uma pomba-gira, perguntei:
-
Como você faz para atingir uma pessoa como eu, que se protege, que vive pela
magia e que faz rituais de proteção? – Perguntei
-
Isso é muito fácil. Para te atingir não preciso fazer nada diretamente contra
você. Você tem esposa, tem filhos, tem mãe. – ela respondeu gargalhando.
Mas
agora a situação era diferente. Eles tinham me atingido diretamente. Onde
estariam os Deuses a quem honrei por tantos anos?
Depois
desse tempo em casa, aos poucos fui retornando as atividades normais, tanto na
ALERJ quanto no Templo de Brigith.
Inicialmente
dando um curso, um workshop. Fazendo um atendimento por dia, ou seja, voltando
à rotina. Mas algo tinha mudado. Agora eu tinha um sentimento que não sabia
definir.
Quando
digo que não podia definir, por incrível que possa parecer ao leitor, realmente
era indefinível. Era uma espécie de medo, mas eu nunca sentira medo. Era um
misto de dúvida, incompreensão e incerteza. Não sei até hoje se poderia chamar
de medo, uma vez que meu ódio por essas entidades, esses demônios fantasiados
de espíritos só crescia.
O
acidente havia me deixado com sequelas, que permanecem até hoje. Por não ter
podido operar o calcanhar que havia sido completamente destruído, até os dias
de hoje ainda sinto dores e a mobilidade de meu pé esquerdo ficou comprometida.
O
ano de 2011 chegara e fosse pelas dúvidas em relação as minhas crenças, fosse
pelo meu amor pelos animais, voltei minhas baterias para meu trabalho na ALERJ.
Vieram as tragédias na região Serrana e, a Comissão de Defesa do Meio Ambiente
foi a única entidade pública a se preocupar com os animais durante as enchentes
e desabamentos. Era muito trabalho e de certa forma, comecei a abandonar mais e
mais minhas atividades no Templo, deixando as responsabilidades nas mãos de
Eliane.
No
final desse ano, por razões legais, decidimos mudar o Templo de Brigith.
Primeiro já tínhamos fechado o restaurante e estávamos com uma estrutura
gigantesca nas mãos. A casa, muito antiga, começava a dar sinais de desgaste,
mesmo com a fortuna que havíamos gasto para reforma-la alguns anos atrás e mais
uma vez, o ego e o orgulho do grupo que formava o Água da Lua desagregou os
praticantes.
Não
fosse o bastante os motivos comentados, Eliane minha esposa, assumiu o trabalho
de 39 anos de uma ONG que era de sua tia falecida, trabalho esse que
possibilitava que mais de duzentas crianças carentes das comunidades do Dendê e
Guarabú na Ilha do Governador pudessem ter pré-escola e alimentação de
qualidade.
Assim,
ao final de 2011 fechamos as portas do Templo de Brigith e comecei a buscar,
sem muito afinco, um novo local.
Encontrei
uma loja num shopping da Barra da Tijuca. Era uma boa loja, com jirau que me
possibilitaria dividir entre a loja, uma sala de atendimento e uma sala de
cursos bem montada. E assim aluguei no início de 2012 essa loja.
Como
comentei, minha crença estava enfraquecida, Eliane trabalhando com as crianças
carentes e lutando contra todas as forças que, no Brasil, desejam tirar
vantagem de trabalhos ligados a área social... e acreditem, a corrupção e a
ganancia são capazes de até matar, mas Eliane sempre foi uma guerreira e
enfrentou tudo de frente.
Por
razão das eleições, de minha crença fraca naquele momento e das atribuições de
Eliane, a nova loja ficou fechada até Janeiro de 2013. Foram doze meses de
aluguel, sem sequer irmos à loja. Sem que as obras fossem finalizadas.
Eliane
prosseguia com sua luta contra todas as forças corruptas que de todas as formas
tentavam desestruturá-la e eu tentava ajudar da melhor forma possível. Nessa
época, pelo afastamento do Templo e por suas novas atribuições, eu via Eliane
abandonar gradativamente seu pacto com aquela entidade nefasta que havia me
afrontado diretamente. Enquanto isso, eu montava, sem qualquer recurso minha
campanha política.
Não
investi na campanha. Primeiramente, pois não estava disposto a delapidar o
patrimônio que tinha construído em campanhas. Só faz isso quem tem acordos
escusos que são verdadeiros pactos com o diabo com empresas que, depois de
eleito cobrarão sua alma, ou políticos que sabem que de forma corrupta
recuperarão seus “investimentos” depois de eleitos. Como eu não era nem
corrupto e nem estava disposto a vender minha alma, minha campanha se
restringia praticamente a internet.
Evidentemente
que, defendendo o meio ambiente, animais, crianças e idosos (exatamente quem
não vota) e sem recursos de campanha, eu não fui eleito. Mas o resultado foi
muito bom, e a experiência melhor ainda. Mas agora era hora de voltar a
trabalhar e a repor o patrimônio que havia gasto com a creche (uma vez que os
recursos de convênio, nem de perto cobriam os gastos) e com a sobrevivência da
família.
Era
hora do Templo de Brigith renascer...
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