quarta-feira, 15 de junho de 2016

Capítulo XXI A derrocada continua e Capítulo XXII Fim de um ciclo





Capítulo XXI
A derrocada continua

  
No início de 2010 recebi um convite de um Deputado Estadual para compor sua equipe e trabalhar na Comissão de Defesa do Meio Ambiente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Lutando contra o tráfico de Animais

Fiquei nessa comissão por mais de dois anos. Nesse período tive a oportunidade de trabalhar defendendo algo que sempre gostei. Animais e o meio ambiente.

Foram mais de três mil animais salvos de situação de tráfico e maus tratos. Graças a esse trabalho, mais tarde eu receberia dois prêmios importantes: O Platinum 1000 por mais de mil mergulhos fotografando e filmando o fundo do mar, na intenção de preservar e defender o ambiente marinho e a Medalha São Francisco de Assis do 3º Milenio da Câmara dos Vereadores do RJ.

Prêmio Internacional Platinum 1000
É claro que esse trabalho não me trouxe apenas felicidade. Eram dezenas de ameaças de morte, carros estranhos na porta de minha casa, ao ponto de chamar a Polícia Militar várias vezes para averiguar... afinal, tinham sido mais de 100 traficantes de animais presos, Rodeios de Cervejarias impedidos, Mercadão de Madureira fechado e grandes empresas processadas.

Em agosto de 2010, apenas um mês depois de minha experiência nas portas do Inferno, sofri o 2º baque, que me levaria a começar um processo de descrédito em tudo o que professava.

Na sexta-feira, dois dias antes do Dia dos Pais, finalmente fiz o lançamento de meu DVD “A Religião das Bruxas” com uma grande festa no Templo de Brigith. Era um sonho realizado.

Agora poderia levar os ensinamentos à distância, não ficaria mais restrito ao contato pessoal ou por livros com as pessoas que tinham sede de conhecer a bruxaria. É claro que a recente experiência com o Inferno não saia de minha mente e que a dúvida já se fazia presente, mas o projeto do DVD tinha começado muito tempo antes, e sempre gostei de finalizar meus projetos.

Imagem do meu restaurante TABERNA GREENMAN
No dia seguinte sábado, véspera do Dia dos Pais, retornando para casa após o dia de trabalho no Templo, recebi o telefonema de minha filha. Ela em casa me pedia para comprar um sanduíche de uma famosa rede de fast food que ela gostava muito. Nessa época estava num processo, tentando parar de fumar, único vício que eu tinha desde os 13 anos de idade. Pedi a minha esposa que comprasse o sanduíche enquanto nosso motorista me levaria à farmácia do outro lado da rua, para comprar uma daquelas gomas de mascar com nicotina, que auxiliam no processo do abandono do vício. Hoje sei que o vício também é um demônio e que livrar-se dele é uma tarefa muito mais espiritual que física.

Nosso motorista me deixou na porta da farmácia e partiu para buscar minha esposa. Eu deveria me encontrar com eles no estacionamento do fast food. Comprei minha goma de mascar e comecei a atravessar a rua.

Para quem conhece a Estrada do Galeão na Ilha do Governador, sabe que são três pistas, em alguns
Autografando meu DVD sobre Bruxaria
locais chegando a quatro. Eu observei e o sinal estava devidamente fechado, inclusive tinha daqueles marcadores que mostram o tempo de forma decrescente até que o sinal volte a ficar verde para os veículos. Comecei minha travessia tranquilamente e, quando já estava bem próximo da calçada, escutei um cantar de pneus e ao me virar, vi o veículo vindo em minha direção.

Dizem que sua vida passa diante de seus olhos quando se está próximo da morte... comigo não foi assim, mas tenho a certeza de que o tempo parou naquele momento, com o carro a apenas poucos metros de me atropelar. Recordo-me perfeitamente da seguinte frase que passou pela minha mente naquele momento em que o tempo simplesmente parou:

- Vou Morrer! Não, não vou morrer, tenho dois filhos e amanhã é dia dos Pais. Não aceito minha morte agora! – na época tinha apenas meus filhos Thiago de dezessete anos e Eduarda de nove.

Graças ao condicionamento de uma vida de treino em artes marciais (fiz jiu-jitsu desde os quatro
anos de idade, passei pelo Box Tailandês e já adulto cheguei à instrução de Aikido) fui capaz de saltar por cima do capo do veículo, que me atingiu na perna esquerda, na altura do joelho.

Rodei por cima do capo do carro e cai de pé, mas por razões ainda desconhecidas naquele momento, não consegui me manter de pé e fui ao chão.

O veículo evadiu-se do local sem sequer diminuir a velocidade e logo uma multidão se formou a minha volta.

Eu dizia às pessoas que estava bem, mas tentava me levantar e não conseguia. Procurei sangue e não vi. Vasculhei meu corpo da cintura para cima, em busca de qualquer sinal de ferimentos e não encontrei nada.

Em minha mente, bastava me levantar e seguir com a vida, e assim tentei, quando senti uma dor lancinante na perna esquerda, no pé e não consegui me levantar. Apoiado no meio fio pedia que alguém fosse avisar a minha esposa, que se encontrava a menos de 10 metros, dentro da lanchonete. Nosso motorista me encontrou e foi chamar Eliane.

Capa do meu DVD sobre Bruxaria
Em menos de dez minutos chegava uma ambulância juntamente com a polícia que, obviamente não conseguiu encontrar meu atropelador.

Mais tarde, já no hospital, soube que havia fraturado o platô do joelho, a fíbula e a tíbia, além de destruir meu calcanhar ao cair de pé, graças ao impacto com o solo. Isso me presenteou com duas placas e cinco parafusos na perna esquerda.

Eliane foi perfeita nessa época. Cuidava de mim em casa, fazia massagens e se compadecia das dores
indescritíveis que sentia quando tinha de fazer a fisioterapia. Foram três meses de sofrimento, tendo de olhar as pessoas de baixo para cima, sem sair de casa, sem andar... E Eliane, além de cuidar de mim, intensificou seu trabalho no Templo de Brigith, afinal, vivíamos dos atendimentos e cursos, e comigo impossibilitado cabia a ela nosso sustento. Foi nessa época que decidimos fechar definitivamente a Taberna Greenman, nosso restaurante, visto que seria impossível a administração de todas as funções pela Eliane.

Uma coisa não saia de minha cabeça... eu era um protegido dos Deuses. Fazia dezenas de rituais de proteção. Jamais tinha quebrado qualquer osso de meu corpo. E por que isso tinha acontecido comigo, apenas um dia depois do lançamento de meu DVD? Onde estavam meus Deuses?

E intensificando seu contato com as Entidades foi que, exatamente por minha esposa, o segundo baque veio.

Certa noite, ao chegar a casa, Eliane estava branca como cera. Seu rosto mostrava uma preocupação gigantesca. Ao perguntar o que havia acontecido, recebi a seguinte resposta:

- A Padilha veio e disse a todos que estavam sendo atendidos que ELA é que tinha provocado seu acidente. E que agora você aprenderia a respeitá-la!

Naquele momento, em minha mente só passou um questionamento...

Por que meus Deuses tinham permitido?


Com meus filhos recebendo Medalha

Ao receber a Medalha S.Francisco de Assis na Câmara dos Vereadores do RJ

Mergulho, uma paixão

Combatendo os crimes Ambientais




Capítulo XXII
Fim de um ciclo 

  


Foram mais de três meses de cama. Sentia-me um inútil e me questionava profundamente sobre os acontecimentos.

Se o fato de ter estado às portas do Inferno já tinha sido uma experiência que colocaria em cheque tudo em que eu cria, sofrer um acidente, mesmo com todos os rituais de proteção, com todas as cerimônias e sacrifícios feitos para resguardar minha segurança, detonou um processo de dúvida e descrença violento.

Que fique claro que os sacrifícios da bruxaria se remetem às práticas ancestrais de entregar o melhor para os Deuses. E se fixam em sacrificar ervas, grãos, vinho, cerveja, flores e plantas que tenham referência ao período específico do ano, assim como ao Deus escolhido. Dentro desses Deuses, encontram-se aqueles a quem ninguém mais cultua nos dias atuais. Bons exemplos seriam os Deuses egípcios como Rá, Anúbis, Osíris... ou ainda os celtas como Cernnunos, Brigit e Macha. Na bruxaria são terminantemente proibidos os sacrifícios de animais.

Eu sabia que essas entidades, esses demônios eram sorrateiros. Já os combatia há muitos anos, e meu ódio por eles era gigantesco. Em certa oportunidade, ao expulsar uma pomba-gira, perguntei:
- Como você faz para atingir uma pessoa como eu, que se protege, que vive pela magia e que faz rituais de proteção? – Perguntei

- Isso é muito fácil. Para te atingir não preciso fazer nada diretamente contra você. Você tem esposa, tem filhos, tem mãe. – ela respondeu gargalhando.

Mas agora a situação era diferente. Eles tinham me atingido diretamente. Onde estariam os Deuses a quem honrei por tantos anos?

Depois desse tempo em casa, aos poucos fui retornando as atividades normais, tanto na ALERJ quanto no Templo de Brigith.

Inicialmente dando um curso, um workshop. Fazendo um atendimento por dia, ou seja, voltando à rotina. Mas algo tinha mudado. Agora eu tinha um sentimento que não sabia definir.

Quando digo que não podia definir, por incrível que possa parecer ao leitor, realmente era indefinível. Era uma espécie de medo, mas eu nunca sentira medo. Era um misto de dúvida, incompreensão e incerteza. Não sei até hoje se poderia chamar de medo, uma vez que meu ódio por essas entidades, esses demônios fantasiados de espíritos só crescia.

O acidente havia me deixado com sequelas, que permanecem até hoje. Por não ter podido operar o calcanhar que havia sido completamente destruído, até os dias de hoje ainda sinto dores e a mobilidade de meu pé esquerdo ficou comprometida.

O ano de 2011 chegara e fosse pelas dúvidas em relação as minhas crenças, fosse pelo meu amor pelos animais, voltei minhas baterias para meu trabalho na ALERJ. Vieram as tragédias na região Serrana e, a Comissão de Defesa do Meio Ambiente foi a única entidade pública a se preocupar com os animais durante as enchentes e desabamentos. Era muito trabalho e de certa forma, comecei a abandonar mais e mais minhas atividades no Templo, deixando as responsabilidades nas mãos de Eliane.

No final desse ano, por razões legais, decidimos mudar o Templo de Brigith. Primeiro já tínhamos fechado o restaurante e estávamos com uma estrutura gigantesca nas mãos. A casa, muito antiga, começava a dar sinais de desgaste, mesmo com a fortuna que havíamos gasto para reforma-la alguns anos atrás e mais uma vez, o ego e o orgulho do grupo que formava o Água da Lua desagregou os praticantes.

Não fosse o bastante os motivos comentados, Eliane minha esposa, assumiu o trabalho de 39 anos de uma ONG que era de sua tia falecida, trabalho esse que possibilitava que mais de duzentas crianças carentes das comunidades do Dendê e Guarabú na Ilha do Governador pudessem ter pré-escola e alimentação de qualidade.

Assim, ao final de 2011 fechamos as portas do Templo de Brigith e comecei a buscar, sem muito afinco, um novo local.

Encontrei uma loja num shopping da Barra da Tijuca. Era uma boa loja, com jirau que me possibilitaria dividir entre a loja, uma sala de atendimento e uma sala de cursos bem montada. E assim aluguei no início de 2012 essa loja.

Como comentei, minha crença estava enfraquecida, Eliane trabalhando com as crianças carentes e lutando contra todas as forças que, no Brasil, desejam tirar vantagem de trabalhos ligados a área social... e acreditem, a corrupção e a ganancia são capazes de até matar, mas Eliane sempre foi uma guerreira e enfrentou tudo de frente.

Por razão das eleições, de minha crença fraca naquele momento e das atribuições de Eliane, a nova loja ficou fechada até Janeiro de 2013. Foram doze meses de aluguel, sem sequer irmos à loja. Sem que as obras fossem finalizadas.

Eliane prosseguia com sua luta contra todas as forças corruptas que de todas as formas tentavam desestruturá-la e eu tentava ajudar da melhor forma possível. Nessa época, pelo afastamento do Templo e por suas novas atribuições, eu via Eliane abandonar gradativamente seu pacto com aquela entidade nefasta que havia me afrontado diretamente. Enquanto isso, eu montava, sem qualquer recurso minha campanha política.

Não investi na campanha. Primeiramente, pois não estava disposto a delapidar o patrimônio que tinha construído em campanhas. Só faz isso quem tem acordos escusos que são verdadeiros pactos com o diabo com empresas que, depois de eleito cobrarão sua alma, ou políticos que sabem que de forma corrupta recuperarão seus “investimentos” depois de eleitos. Como eu não era nem corrupto e nem estava disposto a vender minha alma, minha campanha se restringia praticamente a internet.
Evidentemente que, defendendo o meio ambiente, animais, crianças e idosos (exatamente quem não vota) e sem recursos de campanha, eu não fui eleito. Mas o resultado foi muito bom, e a experiência melhor ainda. Mas agora era hora de voltar a trabalhar e a repor o patrimônio que havia gasto com a creche (uma vez que os recursos de convênio, nem de perto cobriam os gastos) e com a sobrevivência da família.

Era hora do Templo de Brigith renascer...

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