O
início do fim
O Templo de Brigith era um sucesso. Além dos
cursos, workshops, de ter um restaurante temático Irlandês em seu interior,
ainda promovia atendimentos diversos. Tínhamos a equipe mais conceituada do
Brasil de Tarólogos, runólogos, atendentes de baralho cigano, astrólogos... enfim,
todas as práticas divinatórias.
De minha parte, atendia em média de cinco a
seis clientes por dia, com um preço de atendimento que poderíamos dizer ser
alto para os padrões do meio esotérico.
Minha esposa atendia com baralho cigano, fazia trabalhos de magia e
ministrava cursos de baralho cigano, cultura cigana e dava aulas de dança do
ventre.
Apenas alguns meses antes, Eliane tinha me
feito um pedido estranho. Ela queria ser médium. Naquela altura ela já sentia a
“entidade” colada em seu corpo. Ela tinha sonhos regularmente com essa
entidade, mas não era o bastante.
Dentro de meus conhecimentos da anatomia
oculta do ser, sabia como abrir essa sensibilidade, esse portal de comunicação
com os espíritos. Mas algo me incomodava naquele pedido. Afinal, eu tinha me
especializado no que chamamos nas igrejas de “libertação” e que chamamos no
ocultismo de exorcismo.
Na minha experiência de quase vinte anos
nessa época, sabia que quase toda a magia feita no nosso país era de origem
afro-brasileira. Incomodava-me o fato de permitir que minha esposa, a mulher
que amava fosse possuída por uma dessas entidades as quais eu já combatia e
expulsava há tempos.
A insistência foi grande, e resolvi aceitar o
pedido. Numa tarde naquela mesma semana eu abri a coroa de minha esposa, e ela
imediatamente começou a receber uma entidade feminina cigana. Com o tempo, ela
viria a manifestar uma pomba-gira, que viria a ser uma das minhas maiores
inimigas, mas que seria também a responsável direta pela minha decisão de
conversão.
Os anos se passavam e o Templo crescia. Como
eu disse antes, grupos se formavam e se desfaziam por ego e orgulho. Já naquela
época eu deveria ter percebido que a bruxaria nada tinha de agregadora, muito
pelo contrário.
O ano era de 2005, aquele mesmo amigo C.R que
havia me apresentado a Frater QVIF certo dia me procurou com uma grande
novidade.
O Real Arco Maçônico, uma tradição maçônica
que evocava ser o verdadeiro rito de York, teria chegado ao Brasil. E ele já
estava envolvido para se tornar também um membro e me convidou.
Evidentemente que seria mais uma oportunidade
para conhecimento, e eu aceitei.
Eu havia abandonado os graus filosóficos da
maçonaria Adonhiramita por não apresentarem maiores
conhecimentos e desafios,
mas o Real Arco se propunha a ser algo novo. Enquanto a maçonaria tradicional
tratava da construção do Templo de Salomão, o Real Arco deveria remeter seus
conhecimentos inicialmente ao período após o Templo pronto e nos graus crípticos
a história que antecedia essa construção. Além disso, segundo explicações do
próprio rito, seria um dos mais simbólicos, com o encontro da Arca Sagrada e a
revelação do verdadeiro nome de Deus.
Era uma nova proposta, novos conhecimentos e
eu me animei. Evidentemente que muito dos ensinamentos eram profundamente
ligados ao judaísmo, mas pouco me importava. O que eu queria era conhecimento.
Por ser novo, o real Arco precisava de bons
membros e, tanto eu quanto C.R fomos escolhidos para compor o capítulo (nesse
rito as antigas “lojas” eram chamadas assim) número 1, o capítulo chamava-se
J.G.G.
Como comentei anteriormente, como tudo na
minha vida no ocultismo, o Real Arco não foi diferente. Devido aos meus
conhecimentos no ocultismo, algo que apenas havia acontecido com D. Pedro I
também veio a acontecer comigo.
Em meu primeiro contato iniciático com o Rito
de York, recebi os três primeiros graus numa sexta feira, no dia seguinte, um
sábado, recebi o último grau que completavam os Graus Capitulares. Em menos de
24 horas fui de um nada a Maçom do Real Arco, passando pelos graus de Mestre de
Marca, Past Master, Mui Excelente Mestre e chegando a Maçom do Real Arco. E não
parou ai...
Na semana seguinte fui promovido em todos os
graus Crípticos que passavam de Mestre Real, Mestre Escolhido até Super
Excelente Mestre. Fazendo uma analogia a maçonaria tradicional, em apenas uma
semana seria como ir do grau 4 da maçonaria tradicional ao grau 26 da mesma.
Durante minha elevação a Super Excelente
Mestre, também recebi a comenda especial da Ordem da Trolha de Prata, essa honraria é conferida ao Maçom por seus
relevantes serviços à Ordem. Não por acaso, meus “irmãos” chamavam-me de
D.Pedro.
A fama me buscava. Eram dezenas de
reportagens de jornais, televisão, sempre que precisavam de alguém para falar
de bruxaria ou de magia e ocultismo vinham a mim. A essa altura já haviam
passado milhares de alunos pelos cursos do Templo de Brigith. Eu já havia
cuidado de todo tipo de possessão, curava pessoas (nunca cobrei para curar, ou
seja, para a área de saúde) e era visto como referência no meio. Fui o único
bruxo nacional a dar uma entrevista especial para a Revista de História da
Biblioteca Nacional.
Em 2006 lancei diretamente na Bienal de São
Paulo, meu segundo Livro: Defesa Psíquica e Espiritual, a Arte de combater o
Invisível.
Nesse livro eu passava conhecimentos sobre
minhas práticas de exorcismo e como combater as incidências do Mal. Nessa época
eu ainda acreditava que espíritos de desencarnados (mortos) pudessem continuar
vagando pelo mundo dos vivos. Hoje sei que só existem dois caminhos: O Céu ou o
Inferno. Esses tais “espíritos” nada mais são que demônios, anjos decaidos que
se aproveitam das imagens desses seres que já viveram para atormentar e roubar
almas.
Nada parecia poder ir mal na minha vida. Eu
era realizado em todas as áreas, mas no fundo, bem no fundo, uma angustia não
me abandonava. Algo faltava dentro de mim e, mesmo com toda a fama, perdia dia
a dia o ânimo para o trabalho.
Muitas histórias aconteceram ao longo dos
anos, histórias que ilustram perfeitamente meu trabalho, os “milagres” que
acreditava fazer, as milhares de pessoas que acreditei ter libertado, quando na
verdade eu apenas “desocupava” aquele ser humano, para que outros demônios
pudessem atuar em suas vidas. Na época nada disso me era conhecido, afinal como
eu sempre repetia: Atendia em média cinco a seis pessoas diariamente e nesses
tantos anos de trabalho com um lugar estabelecido, ninguém havia voltado para
reclamar, muito pelo contrário.
Eliane começava a aumentar a frequência de
seu trabalho. Já não havia dia ou lugar para que ela manifestasse suas
entidades. E eu sempre incomodado. Como eu podia combater essas entidades
diariamente e minha própria esposa as manifestar e eu achar isso normal?
No ano de 2010, aconteceu o início do fim...
Capa de meu 2º Livro |
Autografando na Bienal do Livro de SP, onde meu 2º Livro foi oficialmente Lançado |
Capítulo
XX
Eu
estive nas portas do Inferno
Em 2010 eu já tinha iniciado cinco pessoas.
Os Sabbaths eram realizados na minha residência e eram sempre festas muito
concorridas.
Um pedido frequente de meus alunos era sobre
um curso de “projeção Astral” que, para ilustrar, é a arte de fazer com que o
corpo energético saia do corpo físico durante o sono, e possa passear, ir onde
desejar, voar, voltar ao passado, ir ao futuro... ou seja, poderes ilimitados
durante o sono.
Quero que o leitor compreenda que essa obra
não se propõe a ser um manual de bruxaria, ou um grimório de feitiços. Que
teria muitas histórias mirabolantes para contar, mas o objetivo desse livro
está muito bem explícito em sua introdução. Nossa intenção é a de resgatar
almas, mostrar os enganos, desvendar o oculto. Num próximo livro contarei mais
profundamente as histórias e como o demônio se utilizava de mim para promover o
mal, fazendo-o se passar pelo bem.
Com os pedidos para o curso de projeção
astral, resolvi ceder e ministrar esse curso. Já tinha tido algumas experiências
desagradáveis, como a do curso de espelhos, onde os participantes acabavam se
atacando apenas para ver se realmente o que era passado funcionava. De toda a
feita, decidi ministrar esse curso.
Já fazia alguns anos desde que tinha tido
minha última projeção consciente. Projeção para um ocultista experimentado é
como engatinhar para um bebê, então, antes do início marcado para o curso,
resolvi colocar a prática em dia. Durante uma semana fui galgando os níveis de
consciência, fazendo com que meu corpo mental ficasse cada vez mais consciente
durante o sono.
Numa noite dessa semana, chegando tarde em
casa e muito cansado, fiz os exercícios e nem me preocupei muito com os
resultados, foi então que senti aquela sensação tão conhecida.
Acordei em catalepsia do sono, ou seja, sem
conseguir mover nenhum músculo, mas consciente de tudo a minha volta. Percebia
Eliane dormindo ao meu lado e conseguia ver tudo, mesmo com meus olhos
fechados. Se o leitor já viu em filmes ou já teve a experiência de usar um
equipamento de visão noturna, onde se vê tudo com uma luminosidade esverdeada,
a visão do projetado astral é bem similar.
Em minha mente veio o pensamento: Ótimo,
estou projetado, vou aproveitar ao máximo.
Levantei meu corpo Astral, saindo de meu
corpo físico e na minha mente, meu desejo era o de voar. Dei a volta pela minha
cama, afinal, quanto mais física e real fosse a experiência, mas consciente ela
seria. Saí pela porta de meu quarto para o corredor, quando algo me chamou a
atenção.
No corredor agora havia uma porta, simples,
idêntica às outras de minha casa, mas num local onde não existia qualquer porta
no plano da realidade. Evidentemente que como um ocultista experimentado eu
jamais fugiria da ideia de descobrir o que existia por trás daquela nova porta.
Que plano existencial eu encontraria? Para onde me levaria?
Aproximei-me lentamente e toquei a maçaneta.
Abri aquela porta e o que vi começou a mudança de minha vida.
Do outro lado da porta a escuridão era
iluminada em flashes por uma luz vermelha amarelada, uma luz provocada pelo
fogo. Gemidos e gritos, muito choro. Imediatamente fui invadido de uma angústia
que causou uma dor física em meu peito. Aos poucos a escuridão foi se
iluminando e pude ver a imagem completa daquele lugar pavoroso.
Eram milhares de pessoas em meio ao fogo. Um
grande lago formado por lava tinha milhares de pessoas dentro. Seus corpos se
derretiam e se refaziam imediatamente. Eu podia ver a carne derretendo e os
ossos aparecendo, e logo depois a carne renascia dos corpos.
Criaturas estranhas que me recordavam a
mistura de ratos ou morcegos com humanos ficavam a beira do grande lago. Quando
qualquer pessoa tentava sair daquela lava incandescente, imediatamente levava
um chute no rosto dado por essas criaturas.
Minha mente parecia anestesiada. Num primeiro
momento não entendi absolutamente nada. Eu tinha vivido toda uma vida de
negação ao conceito de Inferno, ou a qualquer conceito parecido, onde ao
morrer, nossas almas teriam de sofrer. Na bruxaria aprendíamos que após a morte
iríamos para Summerland (a terra do Verão), um lugar conforme o idealizado em
vida. Se o praticante acreditasse que iria para uma praia, seria lá que ele
passaria seu tempo até o reencarne (sim, bruxos creem na reencarnação). Para
mim, aquela visão de sofrimento, aquelas criaturas disformes eram absolutamente
surreais.
Não sei se emiti algum som enquanto ficava
horrorizado com a visão, mas num determinado momento, todas aquelas criaturas
medonhas viraram-se em minha direção, apresentaram seus dentes pontiagudos e
suas línguas bifurcadas... e começaram a vir em minha direção.
O pavor tomou conta de mim, e eu simplesmente
paralisei. Algumas daquelas criaturas estavam apenas a poucos metros de mim e
eu não conseguia me mover. Via aquelas figuras grotescas se aproximarem e o único
pensamento que passou por minha mente foi o de que eu também seria condenado a
permanecer naquele lugar pavoroso.
As criaturas já estavam a poucos passos de
mim, e sentia um cheiro como de pólvora queimada, muito desagradável que eu não
conhecia. Hoje sei que era o cheiro do enxofre.
Quando a criatura mais próxima estendeu seus
dedos magros e com garras, e eu já me dava como perdido lembro-me perfeitamente
de sentir e ver duas mãos que pareciam formadas de pura luz que me seguraram
pelos ombros e me puxaram para trás, fazendo com que eu atravessasse a porta,
voltando ao corredor de minha casa.
A porta bateu me separando daquele lugar
medonho. Eu tentei me virar para ver meu salvador, mas continuava paralisado e
não consegui. Imediatamente me senti sendo puxado para meu corpo que estava
deitado em minha cama, a velocidade era impressionante e ao “cair” em meu
corpo, acordei com um grito.
Não entendia se meu pavor vinha das visões
que duraram poucos segundo, ou do fato de ter de admitir que estivesse errado,
que tudo o que ensinava sobre o pós-morte era uma mentira. Que eu não podia
mais acreditar em tudo o que acreditara por tantos e tantos anos...
Agora eu sabia que tinha não só tido uma
visão, mas estado pessoalmente no INFERNO!
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