sexta-feira, 1 de julho de 2016

Capítulo XXIII Cristo chega a minha casa


Capítulo XXIV
Os espíritos matam...

  

Mudamos para a casa nova. Parecia que finalmente teríamos alguma paz, afinal existe o ditado de que “Casa nova, vida nova”.

Estávamos empolgados na arrumação da casa dos sonhos. Cada cantinho era projetado. Morávamos eu, Eliane, Eduarda e Felipe (meus filhos), além de meu sogro, Seu Zé e minha sogra Do Carmo. Adequei o quarto de meus sogros para piso frio, afinal eram idosos e carpete causava alergias a idosos. Ao lado de nossa casa tínhamos um terreno imenso, pertencente também à dona de nossa casa, o que possibilitaria a Seu Zé a oportunidade de fazer o que ele mais gostava... mexer com a Terra.

Seu Zé era o pai com quem não tinha tido contato na infância. Um senhorzinho de 72 anos de idade nessa época, mas com a disposição de um jovem de trinta anos. Capinava, plantava, subia em coqueiros, tinha aquilo que chamamos de “dedo verde”. Tudo o plantava nascia e crescia. Seu Zé era meu grande companheiro. Cuidava dos cães, dos jardins, da casa, enfim, se a família tinha um pilar, esse pilar era Seu Zé.

Apesar da falta de estudo, ele mal sabia assinar seu nome, seu Zé tinha uma sabedoria que só o tempo, a experiência e a idade podem dar. Considerava-me tão filho quanto eu o considerava um pai e aprendi muito com esse homem.

Mas seu Zé tinha uma grande tristeza em seu coração: A minha religião.

Apesar de sempre ajudar na preparação das festas (Sabbaths) seu Zé não escondia sua tristeza. Era um homem com suas manias e crenças. Quando um de seus netos apresentava alguma doença, ele o colocava sentado no chão e passava a perna direita três vezes por cima da cabeça da criança... e ela melhorava. Quando um dos bichos (que eram sua paixão) ficava doente, Seu Zé sabia o que fazer, tanto física quanto espiritualmente. Acreditava em Deus, tinha a Cristo como seu Salvador, mas não seguia nenhuma religião, não ia a igrejas, mas orava em seus momentos certos.

Estávamos todos muito felizes. Nem os problemas com a ONG de Eliane nos tiravam o ânimo de uma nova vida.
Nos meses seguintes Seu Zé limparia o terreno, plantaria seu milho, aipim e feijão de corda, e com que orgulho ele mostrava sua plantação a qualquer pessoa que chegava a nossa casa. Um de seus maiores prazeres era de doar alimentos a quem precisava. Perdi as contas de quantas vezes vi Seu Zé colher, secar e debulhar feijão para doar a pessoas carentes das comunidades próximas. Todos os vizinhos já conheciam aquele Senhor baixinho, careca, magrinho e sua bicicleta vermelha, e não havia quem não gostasse de seu Zé.

Julho de 2013 chegou e com esse mês, o período eleitoral.

Não vou aqui gastar a paciência do leitor com as mazelas dessa eleição. Com as traições, incompetências do partido e com a luta para conseguir as ações eleitorais. Apenas deixo claro ao leitor que, nada do que havia sido acordado foi cumprido e com isso, mais uma eleição foi desperdiçada. Sem placas nas ruas, sem distribuição dos famosos “santinhos eleitorais”, sem nenhuma ação de divulgação fora a internet. E mesmo assim, consegui mais de 4.700 votos para Deputado Federal, graças ao meu trabalho com a proteção animal.

Numa tarde de domingo do início do mês de Agosto, seu Zé tinha acordado cedo. Cuidará de sua plantação e tinha levado Felipe, que nessa época tinha 1 ano e 9 meses, para passear e conhecer os legumes que plantava. Tenho a última gravação de vídeo de Seu Zé se divertindo com meu filho. Ele era um avô daqueles carinhosos, que fazia questão de cortar frutas para o neto, de fazer balanços em árvores para a neta, enfim... daqueles avôs de antigamente.

Minha sogra se preparava para ir passear com Eduarda na feirinha da praça próxima de minha casa Uma dessas feiras que vendem roupas e brinquedos. Seu Zé iria junto, pois queria doar feijão para uma pessoa necessitada que o esperava na feira. Minha esposa arrumava a casa e eu estava na sala, com Laptop no colo, me inteirando das notícias.

Saudades de Seu Zé
Lembro-me que, por voltas das 18h, quando começava a escurecer, lá estava seu Zé com sua bermuda, camiseta, já pronto para acompanhar minha sogra e minha filha a feira. Meia hora depois, minha sogra desceu as escadas com minha filha, preparada para sair. Fez o que deveria na cozinha, arrumou o que deveria arrumar e começou a chamar por Seu Zé.

A insistência de Do Carmo em chamar seu Zé sem resposta, chamou minha atenção. Levantei-me do sofá e me juntei à busca. Achávamos que ele poderia ter desistido de esperar e que teria ido sozinho a feira, apesar de não ser do feitio dele.

Peguei meu celular e comecei a telefonar para o aparelho de Seu Zé. Inicialmente comecei a escutar ao longe o toque de seu celular. Achei que poderia estar no canil, cuidando dos cães, que fica na parte inferior da casa e para lá fui. Nada de Seu Zé.


Continuei telefonando e ouvi o toque que vinha do terreno ao lado da casa. Para ter-se acesso a esse terreno, tínhamos que atravessar uma laje ao lado de minha casa e descer por uma escada de metal em caracol por uns 8 metros. O terreno tinha iluminação, que era ligada de minha casa, mas naquele dia as luzes estavam apagadas, afinal, havia acabado de escurecer. Imediatamente acendi as luzes do terreno, quando vi Seu Zé deitado no terreno, de costas para o chão, com as pernas cruzadas, como quem está descansando.

Num primeiro momento, minha mente não conseguia imaginar nada de errado, apenas achei estranho Seu Zé deitado no terreno. Minha sogra ao ver a cena, com o acender das luzes gritou:
- Fabiano, pelo amor de Deus, o Zé caiu da laje.

Aquele grito entrou em meu cérebro como uma faca. Ela tinha razão. Não havia possibilidade de ser uma brincadeira o fato de estar deitado no terreno.

Não me recordo como desci ao terreno. Não me recordo desses segundo. Meu cérebro estava completamente embotado em meu desespero.

Grande COmpanheiro
Quando me aproximei daquele pequeno homem deitado na terra, pernas cruzadas, inerte, imediatamente chamei por seu nome. Percebi que seus olhos estavam abertos e um pequeno filete de sangue brilhava em seus lábios.

Meu coração parecia que explodiria. Era um misto de sensações que até hoje não consigo, nem quero explicar.

Pedi a Seu Zé que ficasse calmo, que não tentasse falar. Imediatamente gritei para minha sogra para que ligasse para a ambulância. Vizinhos foram chamados e durante os seguintes 30 minutos sofremos em angústia até a chegada dos bombeiros.

A operação de guerra foi montada para o resgate de Seu Zé. A Laje dificultava a retirada dele do terreno. Tivemos de passar por dentro do canil, através de uma porta lateral que dava para nossa casa.
Seu Zé chegaria ao hospital no Centro da Cidade por vota das 21:30 daquela fatídica noite. A última imagem que me recordo foi a de minha esposa em desespero, com meu filho no colo dentro da ambulância, se despedindo de seu Pai e pedindo que ele retornasse, quando ele olhou para o neto querido e tentou levantar a mão na fora de um até logo.

Naquela madrugada, por volta da 01:15 da manhã, eu perdia um Pai e um grande amigo, vítima de fraturas nas vértebras t4 e t5 e múltiplas perfurações internas.

Até hoje não sabemos como aconteceu. Imaginamos que ele tenha ido recolher o feijão que havia deixado para secar na laje e, com a vista debilitada pela idade, teria caído da laje.

Passamos pelos ritos funerários, pela dor da perda e nas semanas seguintes recebemos a solidariedade e valorosa ajuda de S. e seu esposo D. Suas palavras sobre a salvação, Deus e um Cristo vivo foram fundamentais para minha esposa e sua mãe.

Com essa aproximação maior do D. e S., também minha esposa se aproximou definitivamente de Jesus. E foi essa aproximação que nos trouxe o que seria uma revelação pavorosa.

Apenas três semanas após o falecimento de Seu Zé, durante uma das visitas de D. e S., Eliane manifestou seu demônio pessoal.

Ela já não manifestava a mais de um ano. Tinha deixado de fazer as suas obrigações, de alimentar e presentear sua entidade, apesar das cobranças da mesma ainda existirem, e vinham através de sonhos, mas Eliane não a queria mais em sua vida.

Mas ela veio, e veio com força. D. imediatamente a controlou, usando de seus conhecimentos e da unção que tinha recebido quando ainda um frequentador da IURD. Era aquela mesma entidade que se autodenominava Padilha da Rosa Vermelha, aquela mesma com quem eu brigara nos últimos anos e que teria sido a responsável pelo meu “acidente”.

A entidade estava enfurecida. Xingava e tentava agredir as pessoas. D. imediatamente a controlou e começou a entrevista-la. Não demorou muito até que ela confessasse...

- Fui eu que matei o Pai dessa ingrata. Eu o empurrei da laje!

Nesse momento todos os presente gelaram. D. procedeu como deveria, expulsou a entidade para que nunca mais fosse capaz de voltar e Eliane voltou à consciência, sem lembrar-se de nada.

A libertação de Eliane tinha começado, e iria ser finalizada alguns meses depois na Igreja Universal do Reino de Deus, mas tão importante quanto, naquela tarde eu dei o meu basta.

Para mim, o contato com o oculto deveria terminar ali. A revolta com meus Deuses era gigantesca, a inconformidade por ter perdido meu “Pai” e por todas as mazelas que teria passado nos últimos anos me levavam naquele momento a renegar TUDO o que já havia acreditado.


Naquela tarde dei meu primeiro passo em direção a Jesus, mesmo sem sequer ainda ter consciência disso.



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