Os
espíritos matam...
Mudamos
para a casa nova. Parecia que finalmente teríamos alguma paz, afinal existe o
ditado de que “Casa nova, vida nova”.
Estávamos
empolgados na arrumação da casa dos sonhos. Cada cantinho era projetado. Morávamos
eu, Eliane, Eduarda e Felipe (meus filhos), além de meu sogro, Seu Zé e minha
sogra Do Carmo. Adequei o quarto de meus sogros para piso frio, afinal eram
idosos e carpete causava alergias a idosos. Ao lado de nossa casa tínhamos um
terreno imenso, pertencente também à dona de nossa casa, o que possibilitaria a
Seu Zé a oportunidade de fazer o que ele mais gostava... mexer com a Terra.
Seu
Zé era o pai com quem não tinha tido contato na infância. Um senhorzinho de 72
anos de idade nessa época, mas com a disposição de um jovem de trinta anos.
Capinava, plantava, subia em coqueiros, tinha aquilo que chamamos de “dedo
verde”. Tudo o plantava nascia e crescia. Seu Zé era meu grande companheiro.
Cuidava dos cães, dos jardins, da casa, enfim, se a família tinha um pilar,
esse pilar era Seu Zé.
Apesar
da falta de estudo, ele mal sabia assinar seu nome, seu Zé tinha uma sabedoria
que só o tempo, a experiência e a idade podem dar. Considerava-me tão filho
quanto eu o considerava um pai e aprendi muito com esse homem.
Mas
seu Zé tinha uma grande tristeza em seu coração: A minha religião.
Apesar
de sempre ajudar na preparação das festas (Sabbaths) seu Zé não escondia sua
tristeza. Era um homem com suas manias e crenças. Quando um de seus netos
apresentava alguma doença, ele o colocava sentado no chão e passava a perna
direita três vezes por cima da cabeça da criança... e ela melhorava. Quando um
dos bichos (que eram sua paixão) ficava doente, Seu Zé sabia o que fazer, tanto
física quanto espiritualmente. Acreditava em Deus, tinha a Cristo como seu
Salvador, mas não seguia nenhuma religião, não ia a igrejas, mas orava em seus
momentos certos.
Estávamos
todos muito felizes. Nem os problemas com a ONG de Eliane nos tiravam o ânimo
de uma nova vida.
Nos
meses seguintes Seu Zé limparia o terreno, plantaria seu milho, aipim e feijão
de corda, e com que orgulho ele mostrava sua plantação a qualquer pessoa que
chegava a nossa casa. Um de seus maiores prazeres era de doar alimentos a quem
precisava. Perdi as contas de quantas vezes vi Seu Zé colher, secar e debulhar
feijão para doar a pessoas carentes das comunidades próximas. Todos os vizinhos
já conheciam aquele Senhor baixinho, careca, magrinho e sua bicicleta vermelha,
e não havia quem não gostasse de seu Zé.
Julho
de 2013 chegou e com esse mês, o período eleitoral.
Não
vou aqui gastar a paciência do leitor com as mazelas dessa eleição. Com as
traições, incompetências do partido e com a luta para conseguir as ações
eleitorais. Apenas deixo claro ao leitor que, nada do que havia sido acordado
foi cumprido e com isso, mais uma eleição foi desperdiçada. Sem placas nas
ruas, sem distribuição dos famosos “santinhos eleitorais”, sem nenhuma ação de
divulgação fora a internet. E mesmo assim, consegui mais de 4.700 votos para
Deputado Federal, graças ao meu trabalho com a proteção animal.
Numa
tarde de domingo do início do mês de Agosto, seu Zé tinha acordado cedo.
Cuidará de sua plantação e tinha levado Felipe, que nessa época tinha 1 ano e 9
meses, para passear e conhecer os legumes que plantava. Tenho a última gravação
de vídeo de Seu Zé se divertindo com meu filho. Ele era um avô daqueles
carinhosos, que fazia questão de cortar frutas para o neto, de fazer balanços
em árvores para a neta, enfim... daqueles avôs de antigamente.
Minha
sogra se preparava para ir passear com Eduarda na feirinha da praça próxima de
minha casa Uma dessas feiras que vendem roupas e brinquedos. Seu Zé iria junto,
pois queria doar feijão para uma pessoa necessitada que o esperava na feira.
Minha esposa arrumava a casa e eu estava na sala, com Laptop no colo, me
inteirando das notícias.
Lembro-me
que, por voltas das 18h, quando começava a escurecer, lá estava seu Zé com sua
bermuda, camiseta, já pronto para acompanhar minha sogra e minha filha a feira.
Meia hora depois, minha sogra desceu as escadas com minha filha, preparada para
sair. Fez o que deveria na cozinha, arrumou o que deveria arrumar e começou a
chamar por Seu Zé.
A
insistência de Do Carmo em chamar seu Zé sem resposta, chamou minha atenção.
Levantei-me do sofá e me juntei à busca. Achávamos que ele poderia ter
desistido de esperar e que teria ido sozinho a feira, apesar de não ser do
feitio dele.
Peguei
meu celular e comecei a telefonar para o aparelho de Seu Zé. Inicialmente
comecei a escutar ao longe o toque de seu celular. Achei que poderia estar no
canil, cuidando dos cães, que fica na parte inferior da casa e para lá fui.
Nada de Seu Zé.
Continuei
telefonando e ouvi o toque que vinha do terreno ao lado da casa. Para ter-se
acesso a esse terreno, tínhamos que atravessar uma laje ao lado de minha casa e
descer por uma escada de metal em caracol por uns 8 metros. O terreno tinha
iluminação, que era ligada de minha casa, mas naquele dia as luzes estavam
apagadas, afinal, havia acabado de escurecer. Imediatamente acendi as luzes do
terreno, quando vi Seu Zé deitado no terreno, de costas para o chão, com as
pernas cruzadas, como quem está descansando.
Num
primeiro momento, minha mente não conseguia imaginar nada de errado, apenas
achei estranho Seu Zé deitado no terreno. Minha sogra ao ver a cena, com o
acender das luzes gritou:
-
Fabiano, pelo amor de Deus, o Zé caiu da laje.
Aquele
grito entrou em meu cérebro como uma faca. Ela tinha razão. Não havia
possibilidade de ser uma brincadeira o fato de estar deitado no terreno.
Não
me recordo como desci ao terreno. Não me recordo desses segundo. Meu cérebro
estava completamente embotado em meu desespero.
Quando
me aproximei daquele pequeno homem deitado na terra, pernas cruzadas, inerte,
imediatamente chamei por seu nome. Percebi que seus olhos estavam abertos e um
pequeno filete de sangue brilhava em seus lábios.
Meu
coração parecia que explodiria. Era um misto de sensações que até hoje não
consigo, nem quero explicar.
Pedi
a Seu Zé que ficasse calmo, que não tentasse falar. Imediatamente gritei para
minha sogra para que ligasse para a ambulância. Vizinhos foram chamados e
durante os seguintes 30 minutos sofremos em angústia até a chegada dos
bombeiros.
A
operação de guerra foi montada para o resgate de Seu Zé. A Laje dificultava a
retirada dele do terreno. Tivemos de passar por dentro do canil, através de uma
porta lateral que dava para nossa casa.
Seu
Zé chegaria ao hospital no Centro da Cidade por vota das 21:30 daquela fatídica
noite. A última imagem que me recordo foi a de minha esposa em desespero, com
meu filho no colo dentro da ambulância, se despedindo de seu Pai e pedindo que
ele retornasse, quando ele olhou para o neto querido e tentou levantar a mão na
fora de um até logo.
Naquela
madrugada, por volta da 01:15 da manhã, eu perdia um Pai e um grande amigo,
vítima de
fraturas nas vértebras t4 e t5 e múltiplas perfurações internas.
Bom Pai e Avô |
Até
hoje não sabemos como aconteceu. Imaginamos que ele tenha ido recolher o feijão
que havia deixado para secar na laje e, com a vista debilitada pela idade,
teria caído da laje.
Passamos
pelos ritos funerários, pela dor da perda e nas semanas seguintes recebemos a
solidariedade e valorosa ajuda de Simone e Denis. Suas palavras sobre a
salvação, Deus e um Cristo vivo foram fundamentais para minha esposa e sua mãe.
Com
essa aproximação maior dom D. e S., também minha esposa se aproximou
definitivamente de Jesus. E foi essa aproximação que nos trouxe o que seria uma
revelação pavorosa.
Apenas
três semanas após o falecimento de Seu Zé, durante uma das visitas de D. e
S., Eliane manifestou seu demônio pessoal.
Ela
já não manifestava a mais de um ano. Tinha deixado de fazer as suas obrigações,
de alimentar e presentear sua entidade, apesar das cobranças da mesma ainda
existirem, e vinham através de sonhos, mas Eliane não a queria mais em sua
vida.
Mas
ela veio, e veio com força. D. imediatamente a controlou, usando de seus
conhecimentos e da unção que tinha recebido quando ainda um frequentador da
IGREJA. Era aquela mesma entidade que se autodenominava Padilha da Rosa Vermelha,
aquela mesma com quem eu brigara nos últimos anos e que teria sido a
responsável pelo meu “acidente”.
A
entidade estava enfurecida. Xingava e tentava agredir as pessoas. D. imediatamente a controlou e começou a entrevista-la. Não demorou muito até que
ela confessasse...
-
Fui eu que matei o Pai dessa ingrata. Eu o empurrei da laje!
Saudades de Seu Zé |
Nesse
momento todos os presente gelaram. D. procedeu como deveria, expulsou a
entidade para que nunca mais fosse capaz de voltar e Eliane voltou à
consciência, sem lembrar-se de nada.
A
libertação de Eliane tinha começado, e iria ser finalizada alguns meses depois
na IGREJA, mas tão importante quanto, naquela tarde
eu dei o meu basta.
Para
mim, o contato com o oculto deveria terminar ali. A revolta com meus Deuses era
gigantesca, a inconformidade por ter perdido meu “Pai” e por todas as mazelas
que teria passado nos últimos anos me levavam naquele momento a renegar TUDO o
que já havia acreditado.
Naquela
tarde dei meu primeiro passo em direção a Jesus, mesmo sem sequer ainda ter
consciência disso.
Capítulo
XXV
Jesus
entre na minha vida!
Depois
do assassinato de Seu Zé pela entidade enfurecida a qual Eliane serviu por
diversos anos, tive a certeza de que minha vida teria de mudar. Não pelo fato
puro da entidade ter sido a responsável direta pelo falecimento trágico de meu
sogro, mas por entender que todas as minhas crenças não valiam de mais nada.
Imediatamente
após a morte de meu sogro, fechei DEFINITIVAMENTE o Templo de Brigith,
sepultando intelectualmente o bruxo conhecido um dia como MillenniuM.
Em
setembro Eliane sofreu um novo baque. As perseguições por parte da prefeitura
do RJ conseguiram fazê-la entender definitivamente que, em hipótese alguma, seu
contrato de convênio seria renovado. Desde julho ela lutava por essa renovação
e que sustentávamos com nossas economias a permanência das duzentas crianças
com educação e alimentação. A essa altura os recursos começaram a ficar
escassos e começamos a nos endividar com empréstimos e gastos em cartões de
crédito, tudo para que aquelas crianças carentes não viessem a sofrer com a
interrupção das aulas.
A
proprietária da casa onde a ONG tinha sede, uma das maiores “mães de santo” da
Ilha do Governador, de forma enganadora, tinha movido um processo de denuncia
vazia, alegando não ter onde morar (apesar do levantamento que fizemos e
descobrirmos dezenas de imóveis em seu nome) e não tínhamos mais como recorrer
legalmente, nem tão pouco recursos para isso.
Diante
de tudo o que vínhamos passando, Eliane começou a buscar apoio espiritual nas
igrejas evangélicas da comunidade.
A
sede da ONG tinha sido um centro de Candomblé no passado. Minha esposa queria
livrar o imóvel da carga negativa que possuía e começou a pedir ajuda a
pastores de todas as denominações do morro do Dendê. Nenhum desses pastores
cumpriu com promessas vazias de visitar a creche e orar a casa. Parecia que
sentiam medo pelo fato de ter sido um lugar de serviço aos espíritos.
Foi
quando Eliane foi apresentada a um pastor humilde, um jovem de vinte e poucos
anos. Quieto, recatado, com um jeito até meio distante. Esse era o pastor
transferido há pouco tempo para a IGREJA do Dendê, o pastor F.M.
F.M. foi o único pastor que cumpriu a promessa de comparecer a ONG. Não só
compareceu no dia seguinte a sua apresentação, como orou a casa por três dias
seguidos, encarando todas as energias nocivas que há anos se depositaram no
local. E assim, começou uma relação de respeito, consideração e confiança de
Eliane com o pastor F. M. Mais tarde, F.M. foi também o único pastor
a se juntar a nós na luta pela comunidade do Dendê contra a proprietária do
imóvel, orando e chegando a tentar conversar com a “mãe de santo” para
preservar o trabalho da ONG.
Em
outubro chegaram às eleições e o resultado não foi diferente do esperado. Sem
recursos, sem acordos escusos, sem propaganda, mesmo assim consegui ser o 4º
colocado em votos do partido para o cargo de Deputado Federal. Não seria ainda
dessa vez que poderia realizar meus sonhos de uma sociedade melhor para o meio
ambiente, animais, idosos e crianças.
Nessa
altura Eliane frequentava a reunião de segunda-feira da Nação na
catedral da IGREJA. Eu a via sair todas as segundas-feiras e ria de sua
cara.
É
importante que o leitor saiba que, se o criador da IGREJA teve algum opositor
no paganismo, esse opositor CERTAMENTE fui eu. Eu sempre disse que, se algum
dia alguém me visse entrar numa das sedes da IGREJA, que deveria ser internado como louco...
mas hoje sei que sou mais são do que jamais fui. Por essas razões, aliando meu
desprezo na época por Jesus, ao fato da IGREJA ser uma criação de E.M.,
Eliane definitivamente sofria horrores com a minha troça.
E
lá ia ela, cheia de uma Fé que eu não conhecia nem entendia. Ela voltava
radiante, com forças para se levantar no dia seguinte, enquanto eu, a cada dia
sentia menos vontade de viver.
Um
certo dia no final de outubro, Eliane me faria um convite para com ela assistir
a reunião em Del Castilho. Não me perguntem como, nem por que, mas aceitei. Até
hoje não sei o que me moveu a acompanhar Eliane. Ainda acho que tenha sido o
egoísmo em vê-la disposta, enquanto eu me acabava em sentimentos conflitantes.
O
leitor não poderá jamais imaginar a vergonha, o medo em ser visto caminhando
naquela catedral. E se alguém que me conhecia me visse? De certa forma me
achava protegido, visto que o último lugar em que alguém que pudesse conhecer
seria a Catedral da IGREJA.
E
diante desses sentimentos, eu não fui capaz de abrir meu coração. E continuei
achando aquilo tudo uma grande palhaçada. Eu não podia imaginar que Eliane,
muito antes do que eu pudesse imaginar, vinha frequentando reuniões na
Catedral, levada por S, e D.
Retornamos
a nossa casa e eu me prometia nunca mais perder meu tempo daquela forma.
Na
segunda-feira seguinte, mais precisamente no dia 03 de novembro, Eliane voltou
a refazer o convite. Os risos foram duplicados! Ela insistiu e eu ri mais alto
ainda. Foi quando subitamente, uma ideia que mudaria a minha vida e de toda a
minha família foi “soprada” em minha mente, certamente pelo Espírito de Deus,
que já ansiava pela minha alma.
-
Eliane, se você quer ir a IGREJA, que seja aqui no Dendê, afinal
aquele pastor novinho foi o único que te estendeu a mão na necessidade e o
único que teve coragem para ficar ao seu lado! – Eu disse.
-
Então, se você reconhece o pastor como uma pessoa boa, esqueça o que pensa da
IGREJA e me acompanhe para prestigiar o pastor. – Ela intimou.
Mais
uma vez eu contrariei minhas promessas e, sem muita, ou com quase nenhuma
vontade coloquei qualquer roupa e fui acompanhar Eliane a igreja.
Esse
seria o dia em que minha vida mudaria.
Capítulo
XXVI
E o vaso quebrou-se na
mão do Oleiro
Estacionamos
o carro naquela rua da comunidade. Chegamos por volta das 19:40 e a igrejinha,
um misto de antiga garagem estilizada com apenas 70 lugares, mas tudo muito
limpo e arrumado me assustava.
Ao
fundo estava àquele jovem que antes me parecia recatado, mas que no altar
crescia como um experiente orador.
Aquela
visão me impactou de imediato. Como era possível uma pessoa ser tão diferente
fora do altar e se tornar um novo homem ao ocupar seu posto no serviço de Deus?
Tomamos
nossos lugares, bem na primeira fila (parecia que aqueles lugares estavam
marcados para nós), quando o pastor, após uma oração inicial começou a pregar.
Jamais
me esquecerei das primeiras palavras a que tive REAL acesso na bíblia. Até
aquele dia eu me achava um profundo conhecedor das escrituras. Mesmo sendo
pagão, sempre me interessei pela bíblia, mas para encontrar seus erros e as
interpretações equivocadas. Dessa vez, eu ouvi com os ouvidos de Deus:
A palavra do SENHOR, que veio a Jeremias,
dizendo:
Levanta-te, e desce à casa do oleiro, e lá te
farei ouvir as minhas palavras.
E desci à casa do oleiro, e eis que ele estava
fazendo a sua obra sobre as rodas,
Como o vaso, que ele fazia de barro, quebrou-se
na mão do oleiro, tornou a fazer dele outro vaso, conforme o que pareceu bem
aos olhos do oleiro fazer.
Então veio a mim a palavra do Senhor, dizendo:
Não poderei eu fazer de vós como fez este
oleiro, ó casa de Israel? diz o Senhor. Eis que, como o barro na mão do oleiro,
assim sois vós na minha mão, ó casa de Israel.
Jeremias 18:1-6
Jeremias 18:1-6
Ao
final da leitura, a pregação. A explicação da palavra.
Entendi
o vaso como sendo minha antiga pessoa, o bruxo. Que esse vaso precisaria ser quebrado
para ser refeito pelas mãos do Oleiro que seria Deus.
Comecei
a compreender que os desertos pelos quais estava passando eram os caminhos para
me “reaproximar” de Deus, dessa vez do verdadeiro Deus.
Senti
muita vontade de me ajoelhar e me ajoelhei! Hoje sei que:
11 Porque está escrito:
" ‘Por mim mesmo jurei’, diz o Senhor, ‘diante de mim todo joelho se
dobrará e toda língua confessará que sou Deus’ ".
Romanos 14:11
De joelhos, movido não totalmente por emoção,
mas por um sentimento diferente, muito mais racional, mas não menos forte eu
fiz um apelo, meio em tom de humildade e meio em tom desafiador:
- Senhor, se o Senhor é tudo isso que dizem se
é o VERDADEIRO Deus, eu desafio a mudar minha vida. Eu O desafio a fazer de mim
um novo vaso. Sei que não sou digno sequer que olhes para mim, mas sou um bom
testemunho para que demonstre o Teu poder.
Depois daquele culto, procurei o pastor. Tirei
dúvidas, parecia um menininho animado com uma nova descoberta. Naquela noite,
pela primeira vez permiti que uma pessoa colocasse as mãos em minha cabeça e
viesse a me abençoar.
Voltei para minha casa completamente aéreo.
Eliane sem entender absolutamente nada não comentou. Mas hoje sei que ela
estava radiante, que ela de certa forma se sentia responsável por aquilo que
estava acontecendo comigo.
Naquela noite eu dormi, mesmo com todos os meus
problemas, como não dormia havia muito tempo.
No dia seguinte, acordei repleto de uma alegria
e disposição que nunca tive. Fiz as tarefas da casa, que há muito
negligenciava. E mais à noite, senti vontade novamente de ir a Igreja.
E fui na terça, na quarta, na sexta e no
domingo. Na semana seguinte, como na época não haviam reuniões na igrejinha do
Dendê, fui na quinta e no sábado a Catedral. E a cada reunião, minha Fé e minha
força cresciam e eu conhecia um mundo novo, mas um mundo tão agradável que me
senti extremamente confortável nele.
Graças às longas conversas com o Pastor F. M., às suas palavras sempre sábias e baseadas nas escrituras, fui
conhecendo mais e mais a bíblia. Eu a lia como quem lê um romance policial best
seller. Cada página era uma nova descoberta, completamente diferente das
leituras enquanto buscava por erros.
Naquele momento eu já sabia que meus dias de
bruxo tinham acabado.
Preparei um longo e-mail de renúncia para
Mariah. Sabia que estava renegando a coisas que, do ponto de vista da Antiga
religião e das ordens às quais fiz parte era gigantesca. Sabia até que meu
relacionamento com Mariah terminaria ali, e não vou mentir ao leitor que foram
decisões difíceis, mas eram necessárias. E assim o fiz.
Renunciei a tudo, a minha posição, a meu
sacerdócio, a meus ideais antigos, a meus graus e a minha posição... renunciei
a parentes e a amigos. Renunciei a minha história de vida.
Em Dezembro, duas coisas muito importantes
aconteceram. A primeira foi mais uma renúncia.
Um amigo pessoal, sabendo de meus problemas
financeiros (naquela altura as dívidas já me enforcavam) e de minhas novas
convicções religiosas, manteve contato com uma grande personalidade evangélica.
Um dos maiores dirigentes de uma denominação conhecida e contou minha história.
Esse líder religioso enviou uma resposta a meu
amigo e uma proposta: Que me levantaria a pastor, que me pagaria um salário
inicial de quatro mil reais e que me daria casa, escola para os filhos e um
carro zero para andar. Tudo em troca de me juntar a sua igreja, como se tivesse
me convertido pela mesma.
A proposta era tentadora, principalmente para
mim que, não sabia como iria me sustentar. Templo fechado, bruxo “morto”... como
eu iria prover o que minha família precisava. Fui buscar amparo nas palavras do
Pastor F. M.
Meu Batismo |
Mais uma das coisas que me levaram a admirar
esse pastor. Ele em momento algum me influenciou. Como sempre, buscou nas
palavras sagradas a explicação de que por vezes, o que pode parecer uma bênção
poderia ser uma maldição. E que eu deveria meditar sobre a justiça disso tudo e
que, como novo cristão, deveria me questionar em como Jesus agiria num caso
como esse.
Fui buscar o altar... e o altar me respondeu.
Estávamos em época de Fogueira Santa e eu
resolvi sacrificar aquela oferta tão tentadora que havia recebido. E entreguei
a oferta e minha vida ao Deus Vivo do Altar. Eu não aceitaria, mesmo sem saber
como sobreviveria nos próximos meses.
O outro fato marcante foi que, diante da
entrega de minha vida no altar, decidi me batizar nas águas.
E no final de Dezembro eu, através da submersão
nas águas, sepultei definitivamente o antigo sacerdote da bruxaria, e emergi
como um novo cristão, um novo homem entregue a misericórdia de Jesus Cristo.
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