segunda-feira, 18 de julho de 2016

Capítulo XXIV Os espíritos matam... Capítulo XXV Jesus entre na minha vida! e Capítulo XXVI E o vaso quebrou-se na mão do Oleiro



Capítulo XXIV
Os espíritos matam...


  
Mudamos para a casa nova. Parecia que finalmente teríamos alguma paz, afinal existe o ditado de que “Casa nova, vida nova”.

Estávamos empolgados na arrumação da casa dos sonhos. Cada cantinho era projetado. Morávamos eu, Eliane, Eduarda e Felipe (meus filhos), além de meu sogro, Seu Zé e minha sogra Do Carmo. Adequei o quarto de meus sogros para piso frio, afinal eram idosos e carpete causava alergias a idosos. Ao lado de nossa casa tínhamos um terreno imenso, pertencente também à dona de nossa casa, o que possibilitaria a Seu Zé a oportunidade de fazer o que ele mais gostava... mexer com a Terra.

Seu Zé era o pai com quem não tinha tido contato na infância. Um senhorzinho de 72 anos de idade nessa época, mas com a disposição de um jovem de trinta anos. Capinava, plantava, subia em coqueiros, tinha aquilo que chamamos de “dedo verde”. Tudo o plantava nascia e crescia. Seu Zé era meu grande companheiro. Cuidava dos cães, dos jardins, da casa, enfim, se a família tinha um pilar, esse pilar era Seu Zé.

Apesar da falta de estudo, ele mal sabia assinar seu nome, seu Zé tinha uma sabedoria que só o tempo, a experiência e a idade podem dar. Considerava-me tão filho quanto eu o considerava um pai e aprendi muito com esse homem.

Mas seu Zé tinha uma grande tristeza em seu coração: A minha religião.

Apesar de sempre ajudar na preparação das festas (Sabbaths) seu Zé não escondia sua tristeza. Era um homem com suas manias e crenças. Quando um de seus netos apresentava alguma doença, ele o colocava sentado no chão e passava a perna direita três vezes por cima da cabeça da criança... e ela melhorava. Quando um dos bichos (que eram sua paixão) ficava doente, Seu Zé sabia o que fazer, tanto física quanto espiritualmente. Acreditava em Deus, tinha a Cristo como seu Salvador, mas não seguia nenhuma religião, não ia a igrejas, mas orava em seus momentos certos.
Estávamos todos muito felizes. Nem os problemas com a ONG de Eliane nos tiravam o ânimo de uma nova vida.

Nos meses seguintes Seu Zé limparia o terreno, plantaria seu milho, aipim e feijão de corda, e com que orgulho ele mostrava sua plantação a qualquer pessoa que chegava a nossa casa. Um de seus maiores prazeres era de doar alimentos a quem precisava. Perdi as contas de quantas vezes vi Seu Zé colher, secar e debulhar feijão para doar a pessoas carentes das comunidades próximas. Todos os vizinhos já conheciam aquele Senhor baixinho, careca, magrinho e sua bicicleta vermelha, e não havia quem não gostasse de seu Zé.

Julho de 2013 chegou e com esse mês, o período eleitoral.

Não vou aqui gastar a paciência do leitor com as mazelas dessa eleição. Com as traições, incompetências do partido e com a luta para conseguir as ações eleitorais. Apenas deixo claro ao leitor que, nada do que havia sido acordado foi cumprido e com isso, mais uma eleição foi desperdiçada. Sem placas nas ruas, sem distribuição dos famosos “santinhos eleitorais”, sem nenhuma ação de divulgação fora a internet. E mesmo assim, consegui mais de 4.700 votos para Deputado Federal, graças ao meu trabalho com a proteção animal.

Numa tarde de domingo do início do mês de Agosto, seu Zé tinha acordado cedo. Cuidará de sua plantação e tinha levado Felipe, que nessa época tinha 1 ano e 9 meses, para passear e conhecer os legumes que plantava. Tenho a última gravação de vídeo de Seu Zé se divertindo com meu filho. Ele era um avô daqueles carinhosos, que fazia questão de cortar frutas para o neto, de fazer balanços em árvores para a neta, enfim... daqueles avôs de antigamente.

Minha sogra se preparava para ir passear com Eduarda na feirinha da praça próxima de minha casa Uma dessas feiras que vendem roupas e brinquedos. Seu Zé iria junto, pois queria doar feijão para uma pessoa necessitada que o esperava na feira. Minha esposa arrumava a casa e eu estava na sala, com Laptop no colo, me inteirando das notícias.

Lembro-me que, por voltas das 18h, quando começava a escurecer, lá estava seu Zé com sua bermuda, camiseta, já pronto para acompanhar minha sogra e minha filha a feira. Meia hora depois, minha sogra desceu as escadas com minha filha, preparada para sair. Fez o que deveria na cozinha, arrumou o que deveria arrumar e começou a chamar por Seu Zé.

A insistência de Do Carmo em chamar seu Zé sem resposta, chamou minha atenção. Levantei-me do sofá e me juntei à busca. Achávamos que ele poderia ter desistido de esperar e que teria ido sozinho a feira, apesar de não ser do feitio dele.

Peguei meu celular e comecei a telefonar para o aparelho de Seu Zé. Inicialmente comecei a escutar ao longe o toque de seu celular. Achei que poderia estar no canil, cuidando dos cães, que fica na parte inferior da casa e para lá fui. Nada de Seu Zé.

Continuei telefonando e ouvi o toque que vinha do terreno ao lado da casa. Para ter-se acesso a esse terreno, tínhamos que atravessar uma laje ao lado de minha casa e descer por uma escada de metal em caracol por uns 8 metros. O terreno tinha iluminação, que era ligada de minha casa, mas naquele dia as luzes estavam apagadas, afinal, havia acabado de escurecer. Imediatamente acendi as luzes do terreno, quando vi Seu Zé deitado no terreno, de costas para o chão, com as pernas cruzadas, como quem está descansando.

Num primeiro momento, minha mente não conseguia imaginar nada de errado, apenas achei estranho Seu Zé deitado no terreno. Minha sogra ao ver a cena, com o acender das luzes gritou:
- Fabiano, pelo amor de Deus, o Zé caiu da laje.

Aquele grito entrou em meu cérebro como uma faca. Ela tinha razão. Não havia possibilidade de ser uma brincadeira o fato de estar deitado no terreno.

Não me recordo como desci ao terreno. Não me recordo desses segundo. Meu cérebro estava completamente embotado em meu desespero.

Quando me aproximei daquele pequeno homem deitado na terra, pernas cruzadas, inerte, imediatamente chamei por seu nome. Percebi que seus olhos estavam abertos e um pequeno filete de sangue brilhava em seus lábios.

Meu coração parecia que explodiria. Era um misto de sensações que até hoje não consigo, nem quero explicar.

Pedi a Seu Zé que ficasse calmo, que não tentasse falar. Imediatamente gritei para minha sogra para que ligasse para a ambulância. Vizinhos foram chamados e durante os seguintes 30 minutos sofremos em angústia até a chegada dos bombeiros.

A operação de guerra foi montada para o resgate de Seu Zé. A Laje dificultava a retirada dele do terreno. Tivemos de passar por dentro do canil, através de uma porta lateral que dava para nossa casa.
Seu Zé chegaria ao hospital no Centro da Cidade por vota das 21:30 daquela fatídica noite. A última imagem que me recordo foi a de minha esposa em desespero, com meu filho no colo dentro da ambulância, se despedindo de seu Pai e pedindo que ele retornasse, quando ele olhou para o neto querido e tentou levantar a mão na fora de um até logo.

Naquela madrugada, por volta da 01:15 da manhã, eu perdia um Pai e um grande amigo, vítima de
Bom Pai e Avô
fraturas nas vértebras t4 e t5 e múltiplas perfurações internas.

Até hoje não sabemos como aconteceu. Imaginamos que ele tenha ido recolher o feijão que havia deixado para secar na laje e, com a vista debilitada pela idade, teria caído da laje.
Passamos pelos ritos funerários, pela dor da perda e nas semanas seguintes recebemos a solidariedade e valorosa ajuda de Simone e Denis. Suas palavras sobre a salvação, Deus e um Cristo vivo foram fundamentais para minha esposa e sua mãe.

Com essa aproximação maior dom D. e S., também minha esposa se aproximou definitivamente de Jesus. E foi essa aproximação que nos trouxe o que seria uma revelação pavorosa.

Apenas três semanas após o falecimento de Seu Zé, durante uma das visitas de D. e S., Eliane manifestou seu demônio pessoal.

Ela já não manifestava a mais de um ano. Tinha deixado de fazer as suas obrigações, de alimentar e presentear sua entidade, apesar das cobranças da mesma ainda existirem, e vinham através de sonhos, mas Eliane não a queria mais em sua vida.

Mas ela veio, e veio com força. D. imediatamente a controlou, usando de seus conhecimentos e da unção que tinha recebido quando ainda um frequentador da IGREJA. Era aquela mesma entidade que se autodenominava Padilha da Rosa Vermelha, aquela mesma com quem eu brigara nos últimos anos e que teria sido a responsável pelo meu “acidente”.

A entidade estava enfurecida. Xingava e tentava agredir as pessoas. D. imediatamente a controlou e começou a entrevista-la. Não demorou muito até que ela confessasse...

- Fui eu que matei o Pai dessa ingrata. Eu o empurrei da laje!

Saudades de Seu Zé
Nesse momento todos os presente gelaram. D. procedeu como deveria, expulsou a entidade para que nunca mais fosse capaz de voltar e Eliane voltou à consciência, sem lembrar-se de nada.

A libertação de Eliane tinha começado, e iria ser finalizada alguns meses depois na IGREJA, mas tão importante quanto, naquela tarde eu dei o meu basta.

Para mim, o contato com o oculto deveria terminar ali. A revolta com meus Deuses era gigantesca, a inconformidade por ter perdido meu “Pai” e por todas as mazelas que teria passado nos últimos anos me levavam naquele momento a renegar TUDO o que já havia acreditado.

Naquela tarde dei meu primeiro passo em direção a Jesus, mesmo sem sequer ainda ter consciência disso.


  


 Capítulo XXV
Jesus entre na minha vida!




Depois do assassinato de Seu Zé pela entidade enfurecida a qual Eliane serviu por diversos anos, tive a certeza de que minha vida teria de mudar. Não pelo fato puro da entidade ter sido a responsável direta pelo falecimento trágico de meu sogro, mas por entender que todas as minhas crenças não valiam de mais nada.

Imediatamente após a morte de meu sogro, fechei DEFINITIVAMENTE o Templo de Brigith, sepultando intelectualmente o bruxo conhecido um dia como MillenniuM.

Em setembro Eliane sofreu um novo baque. As perseguições por parte da prefeitura do RJ conseguiram fazê-la entender definitivamente que, em hipótese alguma, seu contrato de convênio seria renovado. Desde julho ela lutava por essa renovação e que sustentávamos com nossas economias a permanência das duzentas crianças com educação e alimentação. A essa altura os recursos começaram a ficar escassos e começamos a nos endividar com empréstimos e gastos em cartões de crédito, tudo para que aquelas crianças carentes não viessem a sofrer com a interrupção das aulas.

A proprietária da casa onde a ONG tinha sede, uma das maiores “mães de santo” da Ilha do Governador, de forma enganadora, tinha movido um processo de denuncia vazia, alegando não ter onde morar (apesar do levantamento que fizemos e descobrirmos dezenas de imóveis em seu nome) e não tínhamos mais como recorrer legalmente, nem tão pouco recursos para isso.

Diante de tudo o que vínhamos passando, Eliane começou a buscar apoio espiritual nas igrejas evangélicas da comunidade.

A sede da ONG tinha sido um centro de Candomblé no passado. Minha esposa queria livrar o imóvel da carga negativa que possuía e começou a pedir ajuda a pastores de todas as denominações do morro do Dendê. Nenhum desses pastores cumpriu com promessas vazias de visitar a creche e orar a casa. Parecia que sentiam medo pelo fato de ter sido um lugar de serviço aos espíritos.

Foi quando Eliane foi apresentada a um pastor humilde, um jovem de vinte e poucos anos. Quieto, recatado, com um jeito até meio distante. Esse era o pastor transferido há pouco tempo para a IGREJA do Dendê, o pastor F.M.

F.M. foi o único pastor que cumpriu a promessa de comparecer a ONG. Não só compareceu no dia seguinte a sua apresentação, como orou a casa por três dias seguidos, encarando todas as energias nocivas que há anos se depositaram no local. E assim, começou uma relação de respeito, consideração e confiança de Eliane com o pastor F. M. Mais tarde, F.M. foi também o único pastor a se juntar a nós na luta pela comunidade do Dendê contra a proprietária do imóvel, orando e chegando a tentar conversar com a “mãe de santo” para preservar o trabalho da ONG.

Em outubro chegaram às eleições e o resultado não foi diferente do esperado. Sem recursos, sem acordos escusos, sem propaganda, mesmo assim consegui ser o 4º colocado em votos do partido para o cargo de Deputado Federal. Não seria ainda dessa vez que poderia realizar meus sonhos de uma sociedade melhor para o meio ambiente, animais, idosos e crianças.

Nessa altura Eliane frequentava a reunião de segunda-feira da Nação na catedral da IGREJA. Eu a via sair todas as segundas-feiras e ria de sua cara.

É importante que o leitor saiba que, se o criador da IGREJA teve algum opositor no paganismo, esse opositor CERTAMENTE fui eu. Eu sempre disse que, se algum dia alguém me visse entrar numa das sedes da IGREJA, que deveria ser internado como louco... mas hoje sei que sou mais são do que jamais fui. Por essas razões, aliando meu desprezo na época por Jesus, ao fato da IGREJA ser uma criação de E.M., Eliane definitivamente sofria horrores com a minha troça.

E lá ia ela, cheia de uma Fé que eu não conhecia nem entendia. Ela voltava radiante, com forças para se levantar no dia seguinte, enquanto eu, a cada dia sentia menos vontade de viver.

Um certo dia no final de outubro, Eliane me faria um convite para com ela assistir a reunião em Del Castilho. Não me perguntem como, nem por que, mas aceitei. Até hoje não sei o que me moveu a acompanhar Eliane. Ainda acho que tenha sido o egoísmo em vê-la disposta, enquanto eu me acabava em sentimentos conflitantes.

O leitor não poderá jamais imaginar a vergonha, o medo em ser visto caminhando naquela catedral. E se alguém que me conhecia me visse? De certa forma me achava protegido, visto que o último lugar em que alguém que pudesse conhecer seria a Catedral da IGREJA.

E diante desses sentimentos, eu não fui capaz de abrir meu coração. E continuei achando aquilo tudo uma grande palhaçada. Eu não podia imaginar que Eliane, muito antes do que eu pudesse imaginar, vinha frequentando reuniões na Catedral, levada por S, e D.

Retornamos a nossa casa e eu me prometia nunca mais perder meu tempo daquela forma.

Na segunda-feira seguinte, mais precisamente no dia 03 de novembro, Eliane voltou a refazer o convite. Os risos foram duplicados! Ela insistiu e eu ri mais alto ainda. Foi quando subitamente, uma ideia que mudaria a minha vida e de toda a minha família foi “soprada” em minha mente, certamente pelo Espírito de Deus, que já ansiava pela minha alma.

- Eliane, se você quer ir a IGREJA, que seja aqui no Dendê, afinal aquele pastor novinho foi o único que te estendeu a mão na necessidade e o único que teve coragem para ficar ao seu lado! – Eu disse.

- Então, se você reconhece o pastor como uma pessoa boa, esqueça o que pensa da IGREJA e me acompanhe para prestigiar o pastor. – Ela intimou.

Mais uma vez eu contrariei minhas promessas e, sem muita, ou com quase nenhuma vontade coloquei qualquer roupa e fui acompanhar Eliane a igreja.

Esse seria o dia em que minha vida mudaria.


 Capítulo XXVI
E o vaso quebrou-se na mão do Oleiro


Estacionamos o carro naquela rua da comunidade. Chegamos por volta das 19:40 e a igrejinha, um misto de antiga garagem estilizada com apenas 70 lugares, mas tudo muito limpo e arrumado me assustava.

Ao fundo estava àquele jovem que antes me parecia recatado, mas que no altar crescia como um experiente orador.

Aquela visão me impactou de imediato. Como era possível uma pessoa ser tão diferente fora do altar e se tornar um novo homem ao ocupar seu posto no serviço de Deus?

Tomamos nossos lugares, bem na primeira fila (parecia que aqueles lugares estavam marcados para nós), quando o pastor, após uma oração inicial começou a pregar.

Jamais me esquecerei das primeiras palavras a que tive REAL acesso na bíblia. Até aquele dia eu me achava um profundo conhecedor das escrituras. Mesmo sendo pagão, sempre me interessei pela bíblia, mas para encontrar seus erros e as interpretações equivocadas. Dessa vez, eu ouvi com os ouvidos de Deus:

A palavra do SENHOR, que veio a Jeremias, dizendo:
Levanta-te, e desce à casa do oleiro, e lá te farei ouvir as minhas palavras.
E desci à casa do oleiro, e eis que ele estava fazendo a sua obra sobre as rodas,
Como o vaso, que ele fazia de barro, quebrou-se na mão do oleiro, tornou a fazer dele outro vaso, conforme o que pareceu bem aos olhos do oleiro fazer.
Então veio a mim a palavra do Senhor, dizendo:
Não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro, ó casa de Israel? diz o Senhor. Eis que, como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na minha mão, ó casa de Israel.
Jeremias 18:1-6

Ao final da leitura, a pregação. A explicação da palavra.

Entendi o vaso como sendo minha antiga pessoa, o bruxo. Que esse vaso precisaria ser quebrado para ser refeito pelas mãos do Oleiro que seria Deus.

Comecei a compreender que os desertos pelos quais estava passando eram os caminhos para me “reaproximar” de Deus, dessa vez do verdadeiro Deus.

Senti muita vontade de me ajoelhar e me ajoelhei! Hoje sei que:

11 Porque está escrito: " ‘Por mim mesmo jurei’, diz o Senhor, ‘diante de mim todo joelho se dobrará e toda língua confessará que sou Deus’ ".
Romanos 14:11

De joelhos, movido não totalmente por emoção, mas por um sentimento diferente, muito mais racional, mas não menos forte eu fiz um apelo, meio em tom de humildade e meio em tom desafiador:

- Senhor, se o Senhor é tudo isso que dizem se é o VERDADEIRO Deus, eu desafio a mudar minha vida. Eu O desafio a fazer de mim um novo vaso. Sei que não sou digno sequer que olhes para mim, mas sou um bom testemunho para que demonstre o Teu poder.

Depois daquele culto, procurei o pastor. Tirei dúvidas, parecia um menininho animado com uma nova descoberta. Naquela noite, pela primeira vez permiti que uma pessoa colocasse as mãos em minha cabeça e viesse a me abençoar.

Voltei para minha casa completamente aéreo. Eliane sem entender absolutamente nada não comentou. Mas hoje sei que ela estava radiante, que ela de certa forma se sentia responsável por aquilo que estava acontecendo comigo.

Naquela noite eu dormi, mesmo com todos os meus problemas, como não dormia havia muito tempo.
No dia seguinte, acordei repleto de uma alegria e disposição que nunca tive. Fiz as tarefas da casa, que há muito negligenciava. E mais à noite, senti vontade novamente de ir a Igreja.

E fui na terça, na quarta, na sexta e no domingo. Na semana seguinte, como na época não haviam reuniões na igrejinha do Dendê, fui na quinta e no sábado a Catedral. E a cada reunião, minha Fé e minha força cresciam e eu conhecia um mundo novo, mas um mundo tão agradável que me senti extremamente confortável nele.

Graças às longas conversas com o Pastor F. M., às suas palavras sempre sábias e baseadas nas escrituras, fui conhecendo mais e mais a bíblia. Eu a lia como quem lê um romance policial best seller. Cada página era uma nova descoberta, completamente diferente das leituras enquanto buscava por erros.

Naquele momento eu já sabia que meus dias de bruxo tinham acabado.

Preparei um longo e-mail de renúncia para Mariah. Sabia que estava renegando a coisas que, do ponto de vista da Antiga religião e das ordens às quais fiz parte era gigantesca. Sabia até que meu relacionamento com Mariah terminaria ali, e não vou mentir ao leitor que foram decisões difíceis, mas eram necessárias. E assim o fiz.

Renunciei a tudo, a minha posição, a meu sacerdócio, a meus ideais antigos, a meus graus e a minha posição... renunciei a parentes e a amigos. Renunciei a minha história de vida.

Em Dezembro, duas coisas muito importantes aconteceram. A primeira foi mais uma renúncia.

Um amigo pessoal, sabendo de meus problemas financeiros (naquela altura as dívidas já me enforcavam) e de minhas novas convicções religiosas, manteve contato com uma grande personalidade evangélica. Um dos maiores dirigentes de uma denominação conhecida e contou minha história.

Esse líder religioso enviou uma resposta a meu amigo e uma proposta: Que me levantaria a pastor, que me pagaria um salário inicial de quatro mil reais e que me daria casa, escola para os filhos e um carro zero para andar. Tudo em troca de me juntar a sua igreja, como se tivesse me convertido pela mesma.

A proposta era tentadora, principalmente para mim que, não sabia como iria me sustentar. Templo fechado, bruxo “morto”... como eu iria prover o que minha família precisava. Fui buscar amparo nas palavras do Pastor F. M.

Meu Batismo
Mais uma das coisas que me levaram a admirar esse pastor. Ele em momento algum me influenciou. Como sempre, buscou nas palavras sagradas a explicação de que por vezes, o que pode parecer uma bênção poderia ser uma maldição. E que eu deveria meditar sobre a justiça disso tudo e que, como novo cristão, deveria me questionar em como Jesus agiria num caso como esse.

Fui buscar o altar... e o altar me respondeu.

Estávamos em época de Fogueira Santa e eu resolvi sacrificar aquela oferta tão tentadora que havia recebido. E entreguei a oferta e minha vida ao Deus Vivo do Altar. Eu não aceitaria, mesmo sem saber como sobreviveria nos próximos meses.

O outro fato marcante foi que, diante da entrega de minha vida no altar, decidi me batizar nas águas.

E no final de Dezembro eu, através da submersão nas águas, sepultei definitivamente o antigo sacerdote da bruxaria, e emergi como um novo cristão, um novo homem entregue a misericórdia de Jesus Cristo.



sexta-feira, 1 de julho de 2016

Capítulo XXIII Cristo chega a minha casa


Capítulo XXIV
Os espíritos matam...

  

Mudamos para a casa nova. Parecia que finalmente teríamos alguma paz, afinal existe o ditado de que “Casa nova, vida nova”.

Estávamos empolgados na arrumação da casa dos sonhos. Cada cantinho era projetado. Morávamos eu, Eliane, Eduarda e Felipe (meus filhos), além de meu sogro, Seu Zé e minha sogra Do Carmo. Adequei o quarto de meus sogros para piso frio, afinal eram idosos e carpete causava alergias a idosos. Ao lado de nossa casa tínhamos um terreno imenso, pertencente também à dona de nossa casa, o que possibilitaria a Seu Zé a oportunidade de fazer o que ele mais gostava... mexer com a Terra.

Seu Zé era o pai com quem não tinha tido contato na infância. Um senhorzinho de 72 anos de idade nessa época, mas com a disposição de um jovem de trinta anos. Capinava, plantava, subia em coqueiros, tinha aquilo que chamamos de “dedo verde”. Tudo o plantava nascia e crescia. Seu Zé era meu grande companheiro. Cuidava dos cães, dos jardins, da casa, enfim, se a família tinha um pilar, esse pilar era Seu Zé.

Apesar da falta de estudo, ele mal sabia assinar seu nome, seu Zé tinha uma sabedoria que só o tempo, a experiência e a idade podem dar. Considerava-me tão filho quanto eu o considerava um pai e aprendi muito com esse homem.

Mas seu Zé tinha uma grande tristeza em seu coração: A minha religião.

Apesar de sempre ajudar na preparação das festas (Sabbaths) seu Zé não escondia sua tristeza. Era um homem com suas manias e crenças. Quando um de seus netos apresentava alguma doença, ele o colocava sentado no chão e passava a perna direita três vezes por cima da cabeça da criança... e ela melhorava. Quando um dos bichos (que eram sua paixão) ficava doente, Seu Zé sabia o que fazer, tanto física quanto espiritualmente. Acreditava em Deus, tinha a Cristo como seu Salvador, mas não seguia nenhuma religião, não ia a igrejas, mas orava em seus momentos certos.

Estávamos todos muito felizes. Nem os problemas com a ONG de Eliane nos tiravam o ânimo de uma nova vida.
Nos meses seguintes Seu Zé limparia o terreno, plantaria seu milho, aipim e feijão de corda, e com que orgulho ele mostrava sua plantação a qualquer pessoa que chegava a nossa casa. Um de seus maiores prazeres era de doar alimentos a quem precisava. Perdi as contas de quantas vezes vi Seu Zé colher, secar e debulhar feijão para doar a pessoas carentes das comunidades próximas. Todos os vizinhos já conheciam aquele Senhor baixinho, careca, magrinho e sua bicicleta vermelha, e não havia quem não gostasse de seu Zé.

Julho de 2013 chegou e com esse mês, o período eleitoral.

Não vou aqui gastar a paciência do leitor com as mazelas dessa eleição. Com as traições, incompetências do partido e com a luta para conseguir as ações eleitorais. Apenas deixo claro ao leitor que, nada do que havia sido acordado foi cumprido e com isso, mais uma eleição foi desperdiçada. Sem placas nas ruas, sem distribuição dos famosos “santinhos eleitorais”, sem nenhuma ação de divulgação fora a internet. E mesmo assim, consegui mais de 4.700 votos para Deputado Federal, graças ao meu trabalho com a proteção animal.

Numa tarde de domingo do início do mês de Agosto, seu Zé tinha acordado cedo. Cuidará de sua plantação e tinha levado Felipe, que nessa época tinha 1 ano e 9 meses, para passear e conhecer os legumes que plantava. Tenho a última gravação de vídeo de Seu Zé se divertindo com meu filho. Ele era um avô daqueles carinhosos, que fazia questão de cortar frutas para o neto, de fazer balanços em árvores para a neta, enfim... daqueles avôs de antigamente.

Minha sogra se preparava para ir passear com Eduarda na feirinha da praça próxima de minha casa Uma dessas feiras que vendem roupas e brinquedos. Seu Zé iria junto, pois queria doar feijão para uma pessoa necessitada que o esperava na feira. Minha esposa arrumava a casa e eu estava na sala, com Laptop no colo, me inteirando das notícias.

Saudades de Seu Zé
Lembro-me que, por voltas das 18h, quando começava a escurecer, lá estava seu Zé com sua bermuda, camiseta, já pronto para acompanhar minha sogra e minha filha a feira. Meia hora depois, minha sogra desceu as escadas com minha filha, preparada para sair. Fez o que deveria na cozinha, arrumou o que deveria arrumar e começou a chamar por Seu Zé.

A insistência de Do Carmo em chamar seu Zé sem resposta, chamou minha atenção. Levantei-me do sofá e me juntei à busca. Achávamos que ele poderia ter desistido de esperar e que teria ido sozinho a feira, apesar de não ser do feitio dele.

Peguei meu celular e comecei a telefonar para o aparelho de Seu Zé. Inicialmente comecei a escutar ao longe o toque de seu celular. Achei que poderia estar no canil, cuidando dos cães, que fica na parte inferior da casa e para lá fui. Nada de Seu Zé.


Continuei telefonando e ouvi o toque que vinha do terreno ao lado da casa. Para ter-se acesso a esse terreno, tínhamos que atravessar uma laje ao lado de minha casa e descer por uma escada de metal em caracol por uns 8 metros. O terreno tinha iluminação, que era ligada de minha casa, mas naquele dia as luzes estavam apagadas, afinal, havia acabado de escurecer. Imediatamente acendi as luzes do terreno, quando vi Seu Zé deitado no terreno, de costas para o chão, com as pernas cruzadas, como quem está descansando.

Num primeiro momento, minha mente não conseguia imaginar nada de errado, apenas achei estranho Seu Zé deitado no terreno. Minha sogra ao ver a cena, com o acender das luzes gritou:
- Fabiano, pelo amor de Deus, o Zé caiu da laje.

Aquele grito entrou em meu cérebro como uma faca. Ela tinha razão. Não havia possibilidade de ser uma brincadeira o fato de estar deitado no terreno.

Não me recordo como desci ao terreno. Não me recordo desses segundo. Meu cérebro estava completamente embotado em meu desespero.

Grande COmpanheiro
Quando me aproximei daquele pequeno homem deitado na terra, pernas cruzadas, inerte, imediatamente chamei por seu nome. Percebi que seus olhos estavam abertos e um pequeno filete de sangue brilhava em seus lábios.

Meu coração parecia que explodiria. Era um misto de sensações que até hoje não consigo, nem quero explicar.

Pedi a Seu Zé que ficasse calmo, que não tentasse falar. Imediatamente gritei para minha sogra para que ligasse para a ambulância. Vizinhos foram chamados e durante os seguintes 30 minutos sofremos em angústia até a chegada dos bombeiros.

A operação de guerra foi montada para o resgate de Seu Zé. A Laje dificultava a retirada dele do terreno. Tivemos de passar por dentro do canil, através de uma porta lateral que dava para nossa casa.
Seu Zé chegaria ao hospital no Centro da Cidade por vota das 21:30 daquela fatídica noite. A última imagem que me recordo foi a de minha esposa em desespero, com meu filho no colo dentro da ambulância, se despedindo de seu Pai e pedindo que ele retornasse, quando ele olhou para o neto querido e tentou levantar a mão na fora de um até logo.

Naquela madrugada, por volta da 01:15 da manhã, eu perdia um Pai e um grande amigo, vítima de fraturas nas vértebras t4 e t5 e múltiplas perfurações internas.

Até hoje não sabemos como aconteceu. Imaginamos que ele tenha ido recolher o feijão que havia deixado para secar na laje e, com a vista debilitada pela idade, teria caído da laje.

Passamos pelos ritos funerários, pela dor da perda e nas semanas seguintes recebemos a solidariedade e valorosa ajuda de S. e seu esposo D. Suas palavras sobre a salvação, Deus e um Cristo vivo foram fundamentais para minha esposa e sua mãe.

Com essa aproximação maior do D. e S., também minha esposa se aproximou definitivamente de Jesus. E foi essa aproximação que nos trouxe o que seria uma revelação pavorosa.

Apenas três semanas após o falecimento de Seu Zé, durante uma das visitas de D. e S., Eliane manifestou seu demônio pessoal.

Ela já não manifestava a mais de um ano. Tinha deixado de fazer as suas obrigações, de alimentar e presentear sua entidade, apesar das cobranças da mesma ainda existirem, e vinham através de sonhos, mas Eliane não a queria mais em sua vida.

Mas ela veio, e veio com força. D. imediatamente a controlou, usando de seus conhecimentos e da unção que tinha recebido quando ainda um frequentador da IURD. Era aquela mesma entidade que se autodenominava Padilha da Rosa Vermelha, aquela mesma com quem eu brigara nos últimos anos e que teria sido a responsável pelo meu “acidente”.

A entidade estava enfurecida. Xingava e tentava agredir as pessoas. D. imediatamente a controlou e começou a entrevista-la. Não demorou muito até que ela confessasse...

- Fui eu que matei o Pai dessa ingrata. Eu o empurrei da laje!

Nesse momento todos os presente gelaram. D. procedeu como deveria, expulsou a entidade para que nunca mais fosse capaz de voltar e Eliane voltou à consciência, sem lembrar-se de nada.

A libertação de Eliane tinha começado, e iria ser finalizada alguns meses depois na Igreja Universal do Reino de Deus, mas tão importante quanto, naquela tarde eu dei o meu basta.

Para mim, o contato com o oculto deveria terminar ali. A revolta com meus Deuses era gigantesca, a inconformidade por ter perdido meu “Pai” e por todas as mazelas que teria passado nos últimos anos me levavam naquele momento a renegar TUDO o que já havia acreditado.


Naquela tarde dei meu primeiro passo em direção a Jesus, mesmo sem sequer ainda ter consciência disso.